Ciência
15/12/2020 às 02:00•2 min de leitura
Com a chegada de amostras de asteroides e o avanço nos planos das bases humanas na Lua e em Marte, como garantir que não haverá contaminação (reversa ou direta) volta à pauta e aos orçamentos das agências espaciais, principalmente da NASA, da Agência de Exploração Aeroespacial do Japão (JAXA) e da Agência Espacial Europeia (ESA).
Por anos, as agências espaciais tomaram todos os cuidados para que nada do que fosse terrestre contaminasse o espaço extraplanetário. Agora ocorre o contrário: no último dia 5 de dezembro, técnicos da JAXA recolheram no deserto australiano o recipiente ejetado pela sonda Hayabusa2, antes que ela seguisse viagem para outro destino.
As amostras dentro da cápsula são do Ryugu, um asteroide rico em carbono que provavelmente abriga os chamados blocos de construção da vida.
(Em 2011, pesquisadores financiados pela NASA encontraram em 12 meteoritos ricos em carbono uma grande variedade de nucleobases, as moléculas formadoras do DNA – mais especificamente, adenina e guanina, partes do DNA, e hipoxantina e a xantina, usadas em outros processos biológicos.)
O material foi levado para o Centro de Curadoria de Amostras Extraterrestres da JAXA, um complexo nos arredores de Tóquio cuja principal função é manter o material cósmico livre da contaminação terrestre.
“Nas minas de ouro da África do Sul, rochas perfuradas revelam reservatórios de água de centenas de milhares de anos, abrigando micróbios. Se você fornecer luz e calor, eles se multiplicarão”, disse à National Geographic o astrobiólogo J. Andy Spry, do Search for Extraterrestrial Intelligence Institute (SETI).
Em fevereiro de 2021, o rover Perseverance vai coletar amostras do fundo da cratera Jezero, lugar no qual se acredita que a vida pode ter surgido em Marte. As amostras do solo serão enviadas de volta à Terra – e ninguém tem a mais pálida ideia do que mais virá, além de rochas e regolito.
“Quando o recipiente com as amostras marcianas pousar em 2031 no deserto de Utah, ele será levado para uma instalação com o mais alto nível de proteção de biossegurança”, explicou o astrofísico Scott Hubbard, fundador do Instituto de Astrobiologia da NASA.
As instalações que estão sendo construídas pelo mundo usam a experiência dos mais avançados laboratórios de biossegurança do planeta. A maioria deles trabalha com todas as hipóteses causadoras de catástrofes: falta de luz, vazamentos, ataques cibernéticos, terremotos, explosões, enchentes, bombas, sabotagem – escolha uma.
Todos funcionam em níveis hierárquicos de perigo: no nível 1, os cientistas manipulam bactérias como a E. coli e usam equipamentos básicos de proteção pessoal, com práticas de limpeza padrão; o nível 2, mais rigoroso, envolve agentes mais perigosos, como o Staphylococcus aureus (bacilo oportunista que pode provocar infecções respiratórias).
O nível 3 é onde o SARS-CoV-2, coronavírus causador da covid-19, é mantido. Os cientistas usam respiradores e acessam o laboratório através de portas duplas vedadas a vácuo. A descontaminação é rigorosa – mas ainda menos que no nível mais alto, o 4: este é reservado para os patógenos mais mortais, como o vírus Ebola. Entre eles e os cientistas há trajes de proteção completos e reforçados.
Os centros para análise de amostras extraterrestres trabalharão todos no nível mais alto. “‘O enigma de Andrômeda’ é um bom thriller, mas há muito pouca base científica nele. As chances de acontecer algo como aparece no filme são extremamente pequenas”, disse Hubbard.
(Eu sei que você pensou “Ele disse pequenas, não inexistentes“.)
Agências espaciais se preparam para lidar com vida extraterrestre via TecMundo