Estilo de vida
02/03/2023 às 12:00•2 min de leitura
Machos de baleia-jubarte estão mudando o comportamento reprodutivo. Segundo um artigo publicado na Nature, entre 1997 e 2015 foi observado que um número cada vez menor desses mamíferos tem utilizado o canto para atrair fêmeas. A mudança de comportamento parece ser uma adaptação a maior quantidade de machos da espécie, que também são atraídos pelos cantos e podem disputar o território pelas fêmeas.
O estudo analisou o sucesso reprodutivo de machos de baleia-jubarte na costa da Austrália. A equipe da Escola de Ciências Biológicas da Universidade de Queensland constatou que em 1997, uma baleia macho cantando tinha quase duas vezes mais chances de ser vista tentando procriar com uma fêmea do que um macho que não cantava.
Em 2015 o cenário mudou. De acordo com Rebecca Dunlop, coautora do artigo, machos que não cantam apresentam quase cinco vezes mais chances de serem registrados tentando se reproduzir do que aqueles que cantam. “É uma grande mudança de comportamento, o que demonstra que os humanos não são os únicos sujeitos a grandes mudanças sociais quando se trata de rituais de acasalamento”, explicou Dunlop.
Machos de baleia-jubarte pescando. (Fonte: Wikimedia Commons)
Até a década de 1960, a caça de baleias era permitida na costa australiana. Isso fez com que as populações desses animais quase fossem extintas. Estima-se que, na ocasião, o número de baleias-jubarte na Austrália Oriental fosse de aproximadamente 200 indivíduos. Esse número começou a subir gradualmente, chegando a pouco menos de 4 mil baleias no final da década de 1990.
Com menos machos disputando território pelas fêmeas, o uso do canto como uma estratégia reprodutiva se mostrava o mais eficiente. Porém, nos anos seguintes, o cenário mudou. Em 2015, o número de baleias era estimado em 27 mil — um número próximo do que havia antes da caça às baleias.
Usando um conjunto de dados de 18 anos, foi possível verificar que, à medida que a densidade de machos aumentava com o tempo, o uso de táticas de acasalamento mudou para mais machos se envolvendo em competição física e sem canto. Cantar passou de uma tática bem-sucedida nos primeiros anos pós-caça, para um menos utilizado nos anos posteriores.
“Se a competição for acirrada, a última coisa que o macho quer fazer é anunciar que há uma fêmea na área, porque isso pode atrair outros machos que podem competir com o cantor pela fêmea”, explica Dunlop. Quando um macho deixa de cantar, ele também não sinaliza para os outros machos que há uma fêmea na área. Nesses casos, o conflito ainda pode acontecer, mas os machos invasores tendem a deixar o território.
A disputa física entre jubartes costuma se expressar como golpes, investidas e tentativas de dar "tapas" na cabeça um do outro. Como isso pode causar lesões físicas sérias, os machos avaliam os custos e benefícios de cada tática.
“Os machos eram menos propensos a cantar quando estavam na presença de outros machos, comentou” Dunlop. “Cantar era a tática de acasalamento dominante em 1997, mas em duas décadas isso mudou. Será fascinante ver como o comportamento de acasalamento das baleias continuará a ser moldado no futuro”.