Artes/cultura
01/11/2023 às 11:00•2 min de leitura
No final do século XIX, baleeiros, colonos e piradas simplesmente mudaram a ecologia das Ilhas Galápagos através da caça furtiva de algumas espécies nativas, sobretudo das tartarugas-gigantes-de-galápagos, além da introdução de espécies invasoras como cabras e ratos. Estas últimas tornaram-se pragas na região e desestabilizaram gravemente os ecossistemas insulares.
Com o tempo, a população de tartarugas despencou. Em Española, uma ilha no sudeste do arquipélago, o número de tartarugas caiu de mais de 10 mil para apenas 14. No entanto, um projeto de conservação que está operando há décadas tem conseguido reverter o cenário na região e vem mostrando como essas criaturas são capazes de recuperar seus habitats naturais.
(Fonte: GettyImages)
Desde que conservacionistas decidiram trabalhar em Española, eles começaram a erradicar as espécies introduzidas e a capturar as tartarugas restantes na região para criá-las em cativeiro. Com as cabras exterminadas e as tartarugas nas gaiolas, o ecossistema transformou-se mais uma vez. Árvores densamente compactadas e arbustos lenhosos voltaram a surgir na região.
Porém, a recuperação total de España ainda teria que esperar pelo regresso dos répteis. Desde que as 14 tartarugas foram levadas em cativeiro entre 1963 e 1974 até serem finalmente libertadas em 2020, os pesquisadores da ONG Galápagos Conservancy e da Direção do Parque Nacional de Galápagos reintroduziram quase 2 mil tartarugas-gigantes-de-galápagos criadas em cativeiro em Española.
Então, essas novas tartarugas passaram a procriar na natureza, fazendo com que a população aumentasse para cerca de 3 mil. À medida que as tartarugas reduzem a extensão de plantas lenhosas para alimentação, o terreno local observou a expansão de pastagens e sementes puderam se espalhar com maior facilidade.
(Fonte: GettyImages)
Os esforços de conservação das tartarugas-gigantes-de-galápagos não ajudou apenas os répteis, como também salvou a vida de muitos albatrozes-ondulados — uma espécie criticamente ameaçada de extinção e que se reproduz exclusivamente em Española.
Durante a era mais arborizada da ilha, conservacionistas precisavam repentinamente limpar as áreas que as aves marinhas usam como pistas de decolagem e aterrissagem. Agora, se essas pistas estiverem ficando cobertas de vegetação, eles poderão levar as tartarugas até a área para cuidar desse problema.
Isso acontece porque as tartarugas-gigantes-de-galápagos são conhecidas por serem "arquitetas ecológicas". À medida que elas navegam, fazem cocô e se arrastam, elas alteram a paisagem ao seu redor. Esses répteis enormes pisoteiam arbustos e árvores jovens antes que elas cresçam o suficiente para bloquear o caminho dos albatrozes. A extensão destes e outros efeitos ecológicos causados por essa espécie aparecem documentados em um novo estudo realizado pela Galápagos Conservancy.
Contudo, por mais que essas tartarugas já estejam ocupadas pisoteando brotos e espalhando sementes, elas ainda têm muito mais trabalho a fazer na própria Española. Em 2020, 78% da ilha era dominada por vegetação lenhosa e os pesquisadores acreditam que pode ser necessário mais alguns séculos para que as tartarugas consigam reestabelecer algo parecido com a proporção de gramíneas, árvores e arbustos que existia antes dos europeus desembarcarem no arquipélago. De qualquer forma, o primeiro passo já foi dado.