Copos de papel descartáveis poluem o meio ambiente e afetam a saúde

15/12/2023 às 14:004 min de leitura

Os professores Zev Siegel e Jerry Baldwin e o escritor Gordon Bowker só queriam vender um bom tipo de café quando decidiram abrir um pequeno espaço no histórico mercado público Pike Place, na movimentada Seattle, nos Estados Unidos de 1971. O diferencial dos três amigos era um café de alta qualidade torrado na hora, importado do mundo todo, com uma torra mais escura que garantia uma bebida mais encorpada para o consumidor.

A paixão pela literatura também foi peça central no pequeno negócio, que recebeu um nome inspirado no primeiro-imediato do capitão Ahab, o senhor Starbuck, no clássico da literatura estadunidense, Moby Dick. Assim nascia o Starbucks, uma das mais populares rede de cafeterias do mundo, que conta com 35.711 lojas espalhadas por 84 países. De acordo com um levantamento do Instituto Zippia, a rede possui 349 mil funcionários, com uma receita de US$ 9,2 bilhões no terceiro trimestre de 2023, sendo que seu faturamento máximo foi de US$ 32,3 bilhões em 2022.

(Fonte: GettyImages/Reprodução)(Fonte: GettyImages/Reprodução)

Atualmente, mais de 2,25 bilhões de xícaras de café são consumidas diariamente no mundo. Sendo que só nos Estados Unidos, 400 milhões de xícaras são degustadas, porque 66% dos estadunidenses bebem café diariamente. Surpreendentemente, é só o suficiente para colocar o país no 25º lugar do ranking de consumo anual mundial de café. A Finlândia lidera com uma média de 8,9 quilos de café torrado per capita.

A indústria do café chega a mais de US$ 80 bilhões nos EUA, e deve crescer quase 5% até 2025. Isso só mostra o quanto as pessoas são obcecadas por café, responsável por trazer vários benefícios para saúde e para economia mundial.

Com esse consumo todo, desde a década de 1960, os copos de papel descartáveis foram escolhidos como uma alternativa mais sustentável e benéfica para a saúde. No entanto, o que poucos sabem, é que os copos de papel descartáveis estão destruindo o meio ambiente e envenenando as pessoas.

A verdade "sutil"

(Fonte: GettyImages/Reprodução)(Fonte: GettyImages/Reprodução)

De acordo com um estudo feito por Bethanie Carney Almroth, professora associada de ciências ambientais na Universidade de Gotemburgo, na Suécia, os copos de café descartáveis feitos de papel, aparentemente ecológicos, são revestidos com uma fina camada de plástico para evitar que seu conteúdo penetre no papel, e é exatamente isso que pode transmitir substâncias tóxicas para o nosso organismo e para o meio ambiente.

Na tentativa de diminuir o impacto ambiental dos copos de café descartáveis, a maioria dos experimentos se concentrou na exclusão do plástico e do poliestireno, deixando passar a composição dos copos de papel.

No estudo desenvolvido pela equipe de Almroth, esses copos foram colocados em um aquário repleto de larvas de mosquitos, normalmente usadas em testes de toxicidade, e mantidos por até quatro semanas para que a substância escorresse deles para a água temperada. Como resultado, as larvas cresceram menos no sedimento colocado no aquário e tiveram seu desenvolvimento prejudicado devido à exposição à água contaminada pelas substâncias que vazaram dos copos.

(Fonte: GettyImages/Reprodução)(Fonte: GettyImages/Reprodução)

Não foram realizadas análises químicas para detectar quais substâncias os copos expeliram na água, porque é impossível saber o que as empresas usam no processo de fabricação desses produtos. Segundo Almroth, isso seria bem mais fácil se as indústrias fossem obrigadas a dizer o que usam, facilitando a vida dos ecotoxicologistas para mapear os problemas de saúde e ambientais considerados "sutis".

Normalmente, os copos de papel são feitos a partir de uma mistura complexa de materiais sintéticos e produtos químicos, repleto de estabilizadores de calor e auxiliares de processamento. Todos que englobam essa família são considerados tóxicos, mesmo que alguns deles, como o ácido polilático, seja derivado de plantas.

As substâncias exatas são desconhecidas para os cientistas que realizam essas análises tanto quanto para as pessoas que produzem e vendem as embalagens. Isso porque, durante o processo de fabricação de produtos que contêm plástico, podem ocorrer reações químicas não intencionais entre os materiais utilizados, criando novas substâncias.

O problema da indústria

(Fonte: GettyImages/Reprodução)(Fonte: GettyImages/Reprodução)

Uma vez que não há nenhuma política que exige uma lista dos produtos que as empresas trabalham, a única alternativa para a saúde do meio ambiente e, consequentemente, das pessoas, seria melhorar as práticas de reciclagem para evitar que produtos químicos nocivos terminem na natureza. 

No entanto, os críticos e ambientalistas defendem que seria melhor aposentar o uso de copos de papel descartáveis, visto que é uma tarefa praticamente impossível para os centros de reciclagem separar o revestimento plástico do papel do copo. Esse é um problema do Reino Unido, por exemplo, onde poucos centros de reciclagem aceitam copos de papel descartáveis. Hoje, apenas quatro em cada 100 copos de papel são reciclados no Reino Unido.

Mas a extensão do problema é que os produtos químicos são expelidos dos copos de papel a partir do momento que é usado. Em 2019, um grupo de investigação indiano descobriu isso enchendo copos de papel com água quente para ver se liberavam partículas de plástico ou produtos químicos. Em 15 minutos em contato com a água quente, em média 25 mil partículas foram liberadas pelo copo de 100 ml. Foram também detectados vestígios de produtos químicos nocivos e metais pesados na água e no revestimento plástico.

Os copos reutilizáveis não são uma alternativa melhor quando se trata de liberação de produtos químicos por serem feitos de plástico. Nesse caso, o calor, o desgaste e as bebidas ácidas, como o café, não só aceleram a liberação das substâncias como absorvem produtos químicos com mais facilidade. Além disso, um copo reutilizável precisa ser usado entre 20 a 100 vezes para compensar as suas emissões de gases com efeito estufa em comparação com um copo descartável.

(Fonte: GettyImages/Reprodução)(Fonte: GettyImages/Reprodução)

Algumas empresas lutam à procura de soluções mais seguras e sustentáveis – que são poucas, tanto as empresas quanto as soluções. Copos comestíveis feitos de waffles ou biscoitos já foram assados, bem como uma técnica semelhante ao origami para dobrar papel em copos já foi testada. O vidro já foi considerado por ser infinitamente reciclável e por sua baixa condutividade térmica retardar a dispersão do calor, mas acabou descartado por possuir uma pegada ambiental mais elevada do que o plástico por ser feito de matérias-primas naturais, como a areia, que deve ser extraída e derretida em temperaturas muito altas.

No final das contas, seja lá qual for o material que se mostre bem-sucedido, abandonar os copos de papel descartáveis exigirá modelos e abordagens de negócios inovadoras. Ou seja, as empresas precisaram encontrar uma forma viável de alugar e recolher copos reutilizáveis, lavá-los adequadamente, certificar-se de que não estão contaminados e depois colocá-los novamente em circulação.

Com a rapidez do negócio e a única vontade de otimizar cada vez mais o tempo e as vendas, todos sabem que esse nível de consciência e modelo de negócio só funcionaria em um mundo ideal.

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