Estilo de vida
25/01/2024 às 13:00•3 min de leitura
O cérebro humano funciona como uma empresa, com suas subdivisões que trabalham em equipe para gerar um resultado em comum. O cérebro é dividido em dois hemisférios: esquerdo e direito, responsáveis por diferentes funções em prol de resultados iguais. O hemisfério esquerdo do órgão é pensado para controlar a lógica, o comportamento racional, a intuição, a linguagem e fazer análises. Já o lado direito do cérebro é associado ao controle do pensamento criativo e artístico, às emoções, à escrita, à reflexão linear e à comunicação.
E, assim como na política, quando se trata de cérebro, algumas pessoas se identificam mais com um lado ou com o outro, alegando que este ou aquele são mais dominantes devido à sua maneira de encarar a sociedade e gerir a própria vida.
Cientificamente, um artigo de julho de 2009 publicado por três pesquisadores na revista Scientific American apontou que o equívoco de alguns está na ideia de que ter um ou outro hemisfério do cérebro mais dominante faz de alguém mais ou menos capacitado. Existe o pensamento de que pessoas mais lógicas e analíticas tenham o cérebro esquerdo como dominante, mas isso não é necessariamente verdade. Crianças superdotadas, por exemplo, tendem a ter hemisférios que funcionam bem juntos e é isso que as confere uma inteligência acima da média.
Contudo, no estudo Assimetrias cerebrais estruturais e funcionais nas fases iniciais da vida: uma revisão do escopo, as pesquisadoras Patrizia Bisiacchi e Elisa Cainelli mostraram que o lado direito do cérebro se desenvolve mais cedo do que o esquerdo, deixando este mais suscetível às influências ambientais durante a evolução.
Em uma sociedade em que tudo é controlado pelo lado esquerdo do cérebro, surgiu a hipótese de que estamos entrando na era em que haverá a vingança do cérebro direito.
(Fonte: GettyImages/Reprodução)
Considerado o pai da administração e gestão modernas, o escritor austríaco Peter Drucker cunhou o termo "trabalhador do conhecimento" para definir as pessoas pagas para pôr em prática o que aprenderam na escola, não para exercerem habilidades de nascença, os denominados "dons". Defensor da atuação do lado esquerdo do cérebro para a construção de uma sociedade e de um ser social de sucesso, ele acreditava que qualquer um poderia ter a capacidade de adquirir e aplicar conhecimentos teóricos e analíticos, bastasse estudar muito.
Em meados da década de 1970, os Estados Unidos, por exemplo, no epicentro da Guerra Fria, alavancavam a propaganda de que os jovens precisavam seguir certas profissões que davam um padrão de vida decente e prestigiado, como a de médico, contador, advogado e qualquer outra que envolvesse matemática e ciências. Isso se mostrou ainda mais claro durante o período da Corrida Espacial, em que a NASA usava o que chamava de "computadores humanos", pessoas responsáveis por analisar dados usando calculadoras mecânicas e a própria mente muito rapidamente para executar cálculos complexos.
(Fonte: GettyImages/Reprodução)
Mas acredita-se que a Era da Informação, que começou na segunda metade do século XX, e foi caracterizada por uma economia centrada na tecnologia da informação, esteja em seus respiros finais. Em seu lugar, está surgindo a chamada Era Conceitual, um período em que o domínio de habilidades muitas vezes negligenciadas e subvalorizadas marcam a linha divisória entre quem fica à frente e quem fica para trás.
Existe quase um consenso de que a nova economia global (composta por uma trilogia de recursos interativos que incluem globalização, liberalização comercial e revolução da tecnologia da informação e comunicação) concorda que a crescente economia criativa e inovadora representa a salvação da nossa raça. A ideia de economia criativa está apoiada na inclusão dos processos, ideais e empreendimento dos indivíduos que usam a criatividade como destaque para a criação de um produto. Esta abrange várias carreiras, como moda, cinema, música e fotografia.
(Fonte: GettyImages/Reprodução)
Autor de livros sobre trabalho, gestão e ciência comportamental, Daniel H. Pink diz que progredimos de uma sociedade de agricultores para uma sociedade de operários fabris e depois para uma sociedade de trabalhadores do conhecimento. Agora estamos progredindo para uma sociedade de criadores de empatia, reconhecedores de padrões e criadores de significado. Funções fortemente associadas ao hemisfério direito do cérebro.
Isso porque a economia da informação que produziu um padrão e estilo de vida e sociedade vivida pelos nossos avós, muito marcada pela escassez, já não faz mais parte da realidade. A Era da Informação teria desencadeado uma prosperidade que valoriza sensibilidades menos racional, beleza, espiritualidade e emoção. Agora, no período da economia criativa, as empresas e empreendedores não podem mais só criar um produto, um serviço ou uma experiência com preço razoável e funcionalidade adequada como era antes.
(Fonte: GettyImages/Reprodução)
A nova era exige que o pensamento lógico, linear e analítico do cérebro esquerdo seja complementado com habilidades de alta tecnologia bem desenvolvidas com aptidões de alto conceito e alto toque. O alto conceito se baseia na capacidade de criar beleza artística e emocional, de detectar padrões e oportunidade, criar uma narrativa satisfatória e de inventar coisas que o mundo não sabia que estava faltando. O alto toque, no entanto, envolve a sensibilidade, a capacidade de ter empatia, compreender as sutilezas da interação humana, encontrar alegria em si e de extraí-la dos outros, e de ir além do cotidiano em busca de propósito e significado.
Pink ressalta que não é mais uma questão de o cérebro esquerdo precisar ser dispensado, apenas de que ele não é mais suficiente sozinho. O autor de A Whole New Mind ainda diz que o sucesso só irá acontecer se as pessoas passarem a usufruir de ambos os hemisférios do cérebro, e nem todas serão capazes de fazê-lo.