Ciência
11/05/2024 às 13:00•2 min de leituraAtualizado em 11/05/2024 às 13:00
A forma como os animais se comunicam é fascinante em diversos contextos. Mas, como há espécies que conseguem estabelecer um diálogo sem emitir sinais acústicos, muitas interações ainda permanecem incompreendidas para nós. Para aqueles que estudam esse aspecto em específico, não é algo tão diferente assim, já que parte dessa dificuldade é explicada pela grande velocidade com que as dinâmicas se desdobram no mundo animal.
Mas ao observar o peixe betta, também conhecido como peixe-de-briga-siamês (Betta splendens), espécie endêmica da Tailândia, pesquisadores conseguiram desvendar alguns padrões interessantes. O estudo, que esmiuçou algumas das suas interações, foi publicado no repositório aberto bioRxiv e se encontra em fase de pré-impressão.
Assim como ocorre com muitos outros animais, esses peixes betta se comunicam em turnos, mesmo em um cenário menos amistoso — vale destacar que se trata de uma espécie que tem fama de ser agressiva.
Mas mesmo no mundo aquático os desentendimentos possuem uma certa ordem para se desdobrar. Em uma briga, por exemplo, cada animal tem a sua vez de ser agressivo, intercalando os golpes entre si.
Antes de chegar nesse nível crítico do embate, os peixes monitoram sinais visuais, e uma das suas principais exibições se dá pela abertura das guelras. Naturalmente, o objetivo por trás de tal postura é o de gerar intimidação. Com isso, ou o peixe garante que o outro animal fuja, ou então ele precisa encarar a briga.
As observações relatadas no estudo indicam não apenas que os bettas intercalam na hora de interagir, mas que eles também optam por avançar quando seu adversário está posicionado numa área lateral ou mais próximo da superfície da água, mais acima. Ou seja, a orientação espacial é bastante considerada.
Com base nos cenários acompanhados, os pesquisadores sugerem que o posicionamento numa área mais elevada pode ser encarado como um sinal de territorialidade entre os animais, e justamente por isso estimularia a agressividade. Eles notaram esses padrões a partir da observação dos animais interagindo com um peixe virtual, projetado logo ao lado do tanque, mas também quando uma dupla de peixes betta foi colocada em um mesmo espaço.
Uma análise mais esmiuçada revelou que a espécie não necessariamente espera a sua vez de atacar. Mas, em geral, mudanças na velocidade e na direção em que os peixes se movem são consideradas nessa dinâmica de alternância.
Essas pistas visuais, portanto, apresentam um papel importante para a modulação do comportamento dos animais. E enquanto essas trocas vão evoluindo, os peixes deixam a exibição de lado e passam a trocar até mesmo mordidas.
Essa evolução, ao menos para nós, não soa tão estranha, já que os humanos também se baseiam em muitas nuances para estabelecer uma interação, ainda que agressiva. E a história já mostrou de forma cruel como mesmo o mais absurdo dos gestos pode servir de incentivo para uma briga.
No estudo da atividade neuronal dos peixes betta, estudiosos ainda notaram que eles possuem quatro regiões cerebrais que apresentam uma maior atividade quando estão se comunicando. Uma delas, inclusive, teria uma função análoga à da amígdala dos humanos, presente no cérebro. Com isso, ela desempenharia um papel central para a modulação da resposta dos peixes e do processamento sensorial.
Ainda há muita coisa a ser descoberta, mas, no final das contas, pode-se dizer que a falta de palavras para enviar mensagens definitivamente não torna a comunicação estabelecida entre os peixes menos complexa.