Ciência
05/01/2016 às 11:33•4 min de leitura
O filme “Asas”, produzido em 1927, marcou a história do cinema ao ganhar o prêmio de Melhor Filme na primeira cerimônia do Oscar, em 1929. Com o título original de “Wings”, a obra é um filme mudo, dirigido por William A. Wellman e do gênero drama de guerra.
Durante a sua produção, o filme contou com o apoio militar dos Estados Unidos. Desde então, diretores e produtores têm procurado apoio do Pentágono para dar aos seus filmes de guerra mais autenticidade, através de equipamentos militares oficiais e conselhos de como os soldados devem ser descritos.
Porém, esta dependência dos cineastas faz com que os militares tenham o poder de influenciar e mudar o roteiro de determinados filmes. Confira sete casos:
Baseado na Batalha de Mogadíscio, também conhecida como Batalha do Mar Negro, “Falcão Negro em Perigo”, lançado em 2003, mostra as aventuras de um grupo de soldados envolvidos em uma operação militar desastrosa.
Em outubro de 1993, durante a guerra civil da Somália, uma força de elite norte-americana tinha a missão de capturar generais subordinados ao líder Mohammed Farah Aidid. Durante a operação, dois helicópteros foram derrubados, culminando em um combate de 15 horas no qual 19 soldados estadunidenses foram mortos, 73 ficaram feridos e mais de mil cidadãos somalianos morreram.
Considerado um constrangimento militar norte-americano, foi uma surpresa que o Pentágono tenha concedido apoio à produção da obra. Acredita-se que a ideia do órgão de segurança era que o público se apegasse à bravura de seus militares, e não aos detalhes da operação.
Com o apoio de 100 soldados e dos oficiais de relações públicas para promover o filme, o Pentágono pediu algumas mudanças. Uma delas foi em relação ao nome de “Ranger John Stebbins”, que estava envolvido na história oficial, mas havia sido acusado pelo estupro de uma garota de 12 anos, em 2000. Assim, no filme, John Stebbins tornou-se John Grimes, interpretado pelo ator Ewan McGregor.
Produzido por Jerry Bruckheimer e dirigido por Michael Bay, “Pearl Harbor” foi lançado em 2001 e conta a história do ataque japonês à base naval dos Estados Unidos, em 1941, que levou o país a entrar na Segunda Guerra Mundial. Com apoio militar, Michael Bay pôde gravar cenas no verdadeiro Peal Harbor e contou com o apoio de um curador do Centro Histórico Naval, que ofereceu informações sobre a formação naval japonesa, além de influenciar diretamente na construção dos personagens da obra.
O coronel James Doolittle, interpretado por Alec Baldwin, era descrito no roteiro como um homem grosseiro. Descontente com esse retrato, o oficial pediu que o personagem fosse reescrito para tornar o tenente mais simpático ao público.
Além do apoio aos filmes que retratam operações de guerra reais, o Pentágono também está disposto a ajudar outros gêneros, como o de fantasia. Por isso, o diretor Michael Bay ganhou mais uma força em outro filme. “Transformers: A Vingança dos Derrotados”, lançado em 2009, foi, segundo o tenente-coronel Gregory Bishop, “um dos maiores filmes feitos em conjunto com os militares”.
A extrema visibilidade e a importância das forças armadas na obra atraíram algumas críticas de pessoas que alegaram que o apoio a uma franquia com forte público infantil seria uma tentativa de influenciar futuros recrutas.
“GoldenEye” é o 17º filme de espionagem da franquia James Bond, sendo lançado em 1995. Uma cena do roteiro não agradou em nada os militares, que se ofenderam com a representação de um almirante americano incompetente que é facilmente seduzido e morto pela personagem Xenia Onatopp, interpretada pela atriz Famke Janssen. A solução? Mudar a nacionalidade do almirante para canadense.
Já em “007 O Amanhã Nunca Morre”, o problema foi em um diálogo em que um agente da CIA fala sobre uma possível guerra contra o Vietnã. Na época, as relações internacionais com o país tinham acabado de ser restabelecidas e, por isso, a fala foi excluída do longa.
Lançado em 2002, “A Soma de Todos os Medos” teve alterações importantes em sua trama. Baseado no romance de Tom Clancy, o longa conta a história de separatistas da Alemanha Ocidental e, originalmente, mostraria terroristas mulçumanos que planejavam explodir um estádio de futebol. Porém, o produtor do filme recebeu queixas do Conselho de Relações Americano-Islâmicas. Para evitar problemas, o “inimigo” foi alterado para um grupo neonazista.
Durante a produção, o Pentágono forneceu um arsenal de armas, bombardeiros B-2, aviões de combate, helicópteros militares, um porta-aviões, além de 5 mil soldados. Apesar da “boa vontade” em emprestar os recursos, os militares não gostaram da cena em que o porta-aviões seria atacado e afundado por combatentes inimigos. Por isso, ela foi alterada para não sugerir que um navio americano poderia ser tão facilmente destruído.
Nos anos que se seguiram à Segunda Guerra Mundial, a CIA financiou um grande número de obras culturais que se mostravam a favor da democracia e anticomunistas. As obras incluíam livros, revistas e filmes, e, na década de 50, a CIA obteve os direitos de filmagem do romance de George Orwell “1984”.
Ignorando a vontade do falecido de Orwell, a versão cinematográfica foi muito alterada. Um exemplo é o final, que foi completamente diferente para o personagem principal, Winston. No filme, Winston grita desafiadoramente: “Abaixo o Big Brother”, se referindo à constante vigilância das autoridades, e o personagem acaba morto a tiros.
Mas no livro, o protagonista é completamente derrotado pelo estado totalitário, percebendo, no fim, que ele "amou o Big Brother" após sua tentativa fracassada de rebelião.
Lançado em 1994, “Perigo Real e Imediato” conta a história de uma guerra clandestina entre narcotraficantes colombianos e um poder paralelo na Casa Branca que, secretamente, planejava um ataque aos chefões da droga.
O roteiro da obra passou por diversos ramos militares que pediram mudanças importantes na história. A Marinha ficou descontente com uma cena em que militares navais escondiam baixas civis após um ataque aéreo. Eles também apresentaram objeções sobre a maneira como o governo colombiano foi retratado, o que poderia prejudicar as relações internacionais. Sendo assim, todas as referências ao governo colombiano em conluio com os traficantes de droga foram removidas.
A maneira como o presidente dos Estados Unidos agia também teve de ser alterada. No roteiro original, o presidente norte-americano encobria as operações na Colômbia, o que se assemelhava ao apoio ilegal da administração Ronald Reagan aos terroristas Contras da Nicarágua, durante a década de 80.
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