Saúde/bem-estar
15/04/2021 às 04:29•4 min de leitura
Você já deve ter ouvido falar a respeito do Ramadan, o mês sagrado para os muçulmanos que é celebrado anualmente pelo mundo, certo? O de 2021 teve início há alguns dias, no dia 13 de abril, terminará no comecinho da noite do dia 12 de maio, e será seguido por grande parte do 1,8 bilhão de islâmicos que existem no planeta.
Sim, caro leitor, a festividade é enorme e muito importante, e aqui no Brasil, onde o cristianismo é a crença predominante, muita gente desconhece o significado do Ramadan. Então, que tal expandir o seu conhecimento sobre uma das principais religiões do mundo e descobrir o que essa celebração significa?
A festividade representa o mês mais sagrado do islamismo
Para os muçulmanos, foi durante o mês do Ramadan que Deus revelou a Maomé os primeiros versos do Alcorão, em uma noite que ficou conhecida como Laylat al-Qadr — ou “Noite do Destino”. Segundo disse o Profeta, quando o mês sagrado tem início, os portões do paraíso se abrem, os do inferno se fecham, e todos os demônios são acorrentados. Em suma: o período é considerado sagrado mesmo!
Os muçulmanos seguem o calendário lunar para estabelecer suas festas religiosas, um que se baseia, como você já deve ter imaginado, nas fases da Lua. Ele soma 354 dias, ou seja, 11 a menos do que o calendário gregoriano, que é o adotado pela maior parte do mundo; portanto, isso significa que o Ramadan não cai exatamente no mesmo dia todos os anos — tipo o que acontece com a Páscoa, cuja data varia anualmente.
A data exata varia de ano para ano
No caso do Ramadan, que acontece no nono mês do calendário lunar, como a cada ano o calendário “volta” cerca de 11 dias em relação ao gregoriano, o mesmo acontece com a celebração; ou seja, todo ano ela retrocede também.
Vale destacar que, dependendo da região do mundo na qual os muçulmanos estejam celebrando o Ramadan, essa variação de datas faz uma enorme diferença. Isso porque a festividade pode coincidir com os meses de verão — e você já vai entender qual é a dificuldade quanto a isso...
Esse é um período de introspecção pessoal
Durante o mês do Ramadan inteiro, os muçulmanos fazem jejum absoluto do nascer até o pôr do sol, todos os dias. Além disso, a festividade é encarada como um período de contemplação espiritual, durante o qual os seguidores da religião devem refletir sobre sua relação com Deus, estudar o Alcorão com mais afinco, ser mais generosos, praticar mais a caridade e rezar mais — ou seja, quase a mesma ideia da quaresma para os cristãos, só que mais severa.
O jejum guardado pelos muçulmanos no Ramadan não se limita apenas a restringir a ingestão de alimentos durante o dia. Além de não comer, no período que duram as festividades, eles não podem consumir nenhuma bebida, devem se abster do sexo, não podem fumar nem tomar remédio, mesmo que seja sem a ajuda de um golinho de água. Aliás, nem mascar chiclete é permitido!
Tudo proibido!
Entretanto, existem algumas exceções: idosos, doentes, grávidas e mulheres que estejam amamentando seus filhos, crianças pequenas, quem estiver viajando ou em período menstrual são dispensados de se abster. Além disso, quem — por alguma razão — “furar” o jejum pode compensar o deslize dando de comer a uma pessoa necessitada ou cumprindo o período de abstinência em outra época do ano.
Os muçulmanos acordam bem cedinho, antes do nascer do sol, para poder fazer sua primeira refeição do dia — já que eles só poderão comer novamente após o entardecer. Assim, normalmente, eles favorecem a ingestão de grandes quantidades de alimentos ricos em proteínas e tentam consumir a maior quantidade possível de líquidos. Então, quando o sol começa a surgir, todos param para a primeira oração do dia.
A rotina continua normal
Depois, todos seguem com suas rotinas normais — as pessoas vão trabalhar, para a escola, e se ocupam com seus afazeres diários —, embora alguns países reduzam (e não suspendam!) o horário comercial e escolar. Então, no fim do dia, quando os muçulmanos são chamados para realizar a última oração do dia, antes de rezar, eles fazem um lanchinho chamado Iftar. Só depois de tudo isso eles podem se alimentar novamente.
Os muçulmanos encaram o jejum do Ramadan como um dos cinco pilares de sua fé — juntamente com fazer a peregrinação a Meca ao menos uma vez na vida, o testemunho da fé, fazer as orações diárias e realizar ações de caridade —, e todos os seguidores da religião devem guardá-lo anualmente.
Jejuar durante o Ramadan é tão importante quanto fazer a peregrinação a Meca
Ele tem o propósito de recordar os muçulmanos sobre a fragilidade humana e sua dependência de Deus para obter seu sustento, assim como de lembrá-los de como é sentir fome e sede — de forma a despertar a compaixão pelos mais necessitados e o sentido do dever de ajudar o próximo.
Durante esse período, os muçulmanos também devem tentar driblar os pensamentos e as emoções negativas — como a raiva e o ciúme — e evitar ficar resmungando sobre a vida, fazer mexericos sobre os outros, além de conter a língua para não soltar palavrões. Quem se sentir realmente engajado também pode limitar ou cortar de vez atividades como assistir TV e ouvir música, usando esse tempo para ler ou ouvir passagens do Alcorão.
Em realidade, em vez de encarar o Ramadan como uma celebração enfadonha — na qual as pessoas passam o dia sem comer ou beber nada e rezando —, para os muçulmanos, esse é um período de alegria e união que eles passam com os entes queridos. Ademais, ao final da festividade, existem três dias, chamados Eid al-Fitr, que marcam o fim do jejum.
Trata-se de um período de união e festividades
Pense no Eid como uma espécie de Natal, já que nesses dias os muçulmanos se reúnem com amigos e familiares para fartos jantares e trocas de presentes. Assim, tal como acontece com muitos cristãos, que aguardam ansiosamente pelas festas natalinas, o mesmo ocorre com os seguidores do Islã.
Se o Ramadan é tão sagrado para os muçulmanos e um período durante o qual os seguidores do islamismo devem se dedicar a estudar o Alcorão, praticar o bem, ajudar o próximo etc., por que é que parece que os ataques de fundamentalistas se intensificam nessa época?
Uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa...
Simples: porque os terroristas são imbecis e não representam a maioria dos muçulmanos que praticam a sua religião em paz pelo mundo.
*Publicado originalmente em 10/06/2016 e atualizado em 21/05/2018.