Descoberta reforça tese de megatsunamis gerados por erupções vulcânicas

15/10/2015 às 09:083 min de leitura

Uma descoberta realizada na Ilha de Santiago, a maior do arquipélago que constitui a República do Cabo Verde, indica que a região pode ter sido atingida por um enorme tsunami com mais de 170 metros de altura. A constatação foi estimada por pesquisadores, após encontrarem grandes pedregulhos, de quase 8 metros de altura e com peso de mais de 770 toneladas, ilha adentro.

As grandes rochas estavam a cerca de 200 metros acima do nível do mar e a 610 metros longe da costa. Ao analisar os objetos com mais propriedade, os cientistas verificaram que o tipo de material que compõe essas grandes pedras é muito diferente do solo vulcânico onde elas se encontram. Somado a isso, eles constataram que a composição bate com as formações rochosas e de calcário que envolvem toda a faixa litorânea da ilha.

As pedras encontradas no interior da Ilha de Santiago possuem cerca de 8 metros de altura e mais de 700 toneladas

O geólogo da Universidade de Bristol, na Inglaterra, e autor principal do estudo, Ricardo Ramalho, explicou que em um primeiro momento a equipe se perguntou como aquelas rochas se encontravam no local. “Nós ficamos realmente muito empolgados quando percebemos que a explicação para a origem daquelas pedras só podia ser um enorme impacto provocado por um tsunami”, completou o pesquisador.

Com a ajuda de modelos de computador, os cientistas estimaram a altura da onda em 170 metros. Para efeito de comparação, os tsunamis recentes que mais causaram estragos foram o de 2004 (vídeo abaixo), que matou mais de 220 mil pessoas nas costas do oceano Índico, e o do Japão, em 2011, que deixou mais de 20 mil mortos. Em ambas as ocasiões, a altura máxima atingida pelas ondas foi de 30 metros.

Outro ponto descoberto pelos pesquisadores, analisando os isótopos de hélio presentes nas perdas, foi o tempo em que esse fenômeno ocorreu. Com as mudanças que ocorrem nos átomos desse elemento a partir da exposição aos raios cósmicos provenientes do espaço, a equipe estimou que a onda atingiu a região há 73 mil anos.

A origem da onda

Ramalho e sua equipe acreditam que o que originou a onda foi um deslizamento de terra na Ilha do Fogo, local de um dos maiores e mais ativos vulcões do planeta. Foram pelo menos 160 km³ de terra afundando no oceano para desencadear a grande onda estimada pelos pesquisadores. Fogo está localizada a 55 km da Ilha de Santiago, e a cavidade vulcânica fica a mais de 2,8 mil metros de altitude, entrando em erupção uma vez a cada 20 anos. Na última vez em que estourou, o vulcão destruiu um centro de visitação novo, diversas construções e deixou aproximadamente 1,2 mil desabrigados.

Atualmente, a maior ilha de Cabo Verde abriga cerca de 250 mil pessoas, mas mesmo o evento que levou as enormes pedras para o interior de Santiago tendo acontecido há mais de 70 mil anos, a descoberta gerou certa apreensão entre os cientistas. Isso porque até o momento não se tem informações precisas sobre o tamanho do estrago que um tsunami causado por colapsos vulcânicos pode causar nos mares abertos. Os eventos de 2004 e 2011, por exemplo, tiveram origem em grandes terremotos cujo epicentro aconteceu no fundo dos oceanos em questão.

Vista aérea do Vulcão da Ilha do Fogo

“Essa descoberta mostra uma nova linha de evidências de que colapsos flancovulcânicos podem acontecer de repente e de forma catastrófica, originando grandes tsunamis. Logo, nós não podemos subestimar o perigo e o poder desses eventos e a ameaça que representam para a nossa sociedade”, afirmou Ricardo Ramalho em entrevista ao Live Science. Pesquisas anteriores questionavam se os vulcões seriam capazes de colocar a quantidade de massa nos mares para proporcionar essas catástrofes como esse estudo sugere.

Os locais de risco e a continuidade da pesquisa

Baseados na ideia de que uma erupção vulcânica pode acontecer a qualquer momento, outro grupo de cientistas há algum tempo argumenta que a ilha espanhola de La Palma tem potencial para gerar ondas tão grandes ou maiores do que as já vistas. O pesquisador Simon Day e sua equipe, da University College de Londres, sugerem que, em caso de erupção do vulcão ativo Cumbre Vieja, situado no local, o deslizamento pode ocasionar uma catástrofe inimaginável.

A ilha espanhola de La Palma vista de cima

A onda seria o chamado megatsunami por alcançar uma incrível altura de aproximadamente 900 metros. Ela seria desencadeada por um desmoronamento no lado oeste da ilha, devastando as comunidades próximas e se direcionando para a região da Flórida e do mar do Caribe, além de atingir a costa oeste da África. Mesmo atravessando ilhas e uma grande extensão de oceano, a onda chegaria a esses locais com cerca de 50 e 100 metros, respectivamente.

Ricardo Ramalho afirma que não conhece a geologia de La Palma e prefere não comentar, mas acredita que, se realmente houver um deslizamento de terra como o descrito, a onda pode atingir mais de 900 metros de altura. No entanto, ele também lembra que os colapsos vulcânicos nem sempre geram tsunamis ou são catastróficos e que o estudo dele e da sua equipe não quer dizer que esses desastres realmente vão acontecer.

Para o cientista, o trabalho apenas mostra que é preciso se manter alerta, com cada vulcão sendo monitorado e analisado separadamente. Por isso, como continuidade, o grupo pretende iniciar o monitoramento da Ilha do Fogo e de outros vulcões, a fim de levantar se uma erupção pode ocorrer e quando. “Há uma crescente apreensão sobre a possibilidade de catástrofes dessa magnitude um dia acontecerem. Por isso, de forma realística e fria, nós devemos analisar o que pode ser feito para amenizar os efeitos dessas situações”, concluiu o pesquisador.

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