Artes/cultura
27/02/2022 às 10:00•2 min de leitura
Pensar em líderes africanos nos leva diretamente a Nelson Mandela, mas o nome de Thomas Sankara, presidente da República Democrática e Popular do Burkina Faso, assassinado em 1987, também é uma figura essencial e marcante na história do país.
Líder do país por quatro anos, seu governo tinha como princípios a luta contra a opressão neocolonialista e a conquista de direitos humanos por parte do seu povo. Mesmo governando por pouco tempo, Sankara deixou legados importantes, como o fortalecimento da saúde e da educação.
(Fonte: Atrick Aventurier/Getty Images/Olympia de Maismont)
Nascido em dezembro de 1949, na cidade de Yako, antiga colônia francesa, Thomas Sankara era conhecido por um estilo de vida modesto. Mais de três décadas depois de seu assassinato, ele ainda é visto como um herói pelo povo, sendo considerado um ícone da juventude africana.
Seu nome é colocado ao lado de outras importantes figuras políticas africanas do século XX, como Patrice Lumumba, Amílcar Cabral e Nelson Mandela. Seus discursos, sempre procurando usar frases curtas, diretas e com linguagem simples, criaram uma imagem dele como defensor não somente do povo de Burkina Faso, mas de todos os africanos.
(Fonte: Getty Images)
Thomas Sankara chegou ao poder com 34 anos. O "Che Guevara da África", como era conhecido, levou a cabo reformas no setor da saúde, na educação e na agricultura. Ele incentivou e promoveu a produção local e o consumo interno.
Suas atitudes combatiam o imperialismo e o neocolonialismo, entendido por ele como as razões pelas quais as populações do terceiro mundo estavam tão pobres. Sankara acreditava que estes países não deveriam tentar reproduzir o modelo europeu ou norte-americano, mas criar o seu próprio.
Entre seus principais feitos, podemos destacar a proibição da mutilação genital feminina (prática ainda existente em mais de 30 países), a emancipação das mulheres burquinas e um enorme esforço para que o país atingisse a auto-suficiência alimentar. A poligamia e o casamento forçado também foram proibidos.
Em seus quatro anos à frente do país, as taxas de alfabetização chegaram a 73%, os índices de crianças atingidas por meningite e sarampo diminuíram, e 10 milhões de árvores foram plantadas de modo a evitar a desertificação.
(Fonte: Islambf)
O legado de Thomas Sankara é inegável. Ainda assim, aspectos do falecido presidente são considerados controversos. Na Europa, por exemplo, ele era considerado um líder autocrático.
Críticos afirmavam que o líder africano priorizava cidadãos disciplinados mais do que a conquista de direitos humanos. Também apontam que era controlador, centralizando o poder em suas mãos de forma autoritária.
Outro aspecto digno de críticas externas a Sankara era sua amizade com Muammar Kadhafi, ditador líbio cujas marcas eram a brutalidade, a violação dos direitos humanos e associação ao terrorismo global — características essas que não condiziam com o discurso de Sankara.
(Fonte: Reprodução)
Ainda sem um culpado preso e julgado, indícios apontam que um dos amigos mais próximos de Sankara, Blaise Compaoré, foi o responsável por sua morte. Compaoré, então vice, assumiu o poder e manteve-se na liderança de Burkina Faso até 2014, quando foi deposto pelos militares.
Refugiado na Costa do Marfim, que se nega a extraditá-lo, Compaoré é réu de um julgamento que ocorre à revelia do acusado. Outras treze pessoas também são investigadas, acusadas de conspirar para matar Sankara e dar um golpe no país. Teorias apontam a possibilidade de apoio francês nos bastidores, mas não há dados que comprovem isso.