Ciência
30/04/2022 às 05:00•2 min de leitura
Símbolo de resistência ao holocausto nazista, a alemã de origem judaica Anne Frank (1929-1945) relatou, em seu famoso diário, os horrores e as tensões da caça imposta por Adolf Hitler durante a Segunda Guerra Mundial. A obra, que anos depois seria referência para inúmeros estudos históricos sobre a época, marcou o legado de uma das narrativas mais dramáticas do século. E tudo isso muito por conta da ajuda da austríaca Miep Gies, que conseguiu protegê-la a todo custo ao recuperar os escritos na antiga fábrica da Opekta.
Nascida na Áustria em 15 de fevereiro de 1909, Hermine Santruschitz mudou-se para a Holanda aos 11 anos, passando a experimentar uma vida social movimentada e luxuosa, em contraste à escassez de alimentos em sua terra natal. Ao lado de sua família adotiva, a jovem viu a ascensão do partido nazista inquietar seus novos enteados, e depois de inúmeras recusas para forjar alianças com as tropas alemãs, suas vidas entraram em risco iminente.
(Fonte: Wikimedia Commons)
Forçada a retornar para a Áustria devido à invalidez de seu passaporte, Miep Gies — como passou a ser chamada pelos amigos próximos — casou-se precocemente com um holandês local, pois essa era a única saída para obter a cidadania holandesa e evitar ser deportada pelas autoridades, visto a recente anexação do país pela Alemanha. Foi então que, ao começar carreira profissional na fábrica de Opekta, ela conheceu Otto Frank, chefe que logo se tornou amigo de confiança.
Sua vida sofreu uma grande reviravolta quando as forças alemãs invadiram a Holanda, em maio de 1940. Miep Gies uniu-se a outros três funcionários da Opetka e escondeu Frank e sua família nos quartos vagos acima dos escritórios, decidindo ficar calada sobre o paradeiro dos judeus e ajudar o máximo de sobreviventes possíveis. Para isso, ela contou com a ajuda de seu marido, Jan, e adotou uma rotina discreta, comprando sacolas de mercado em quantidades moderadas e garantindo a segurança das pessoas protegidas.
Em 4 de agosto de 1944, as fábricas Opetka foram dominadas por nazistas e todos os refugiados escondidos em suas dependências foram levados. Em desespero, Santruschitz tentou ir a todas as delegacias na região para oferecer dinheiro em troca da libertação dos presos, mas sequências negativas de respostas a levaram para uma última revista em seus escritórios abandonados. E foi lá que ela encontrou um diário surrado e com diversas páginas preenchidas, sob autoria da jovem Annelies Marie Frank.
(Fonte: Wikimedia Commons)
A holandesa decidiu guardar o documento em uma escrivaninha e evitou abri-lo com medo de ter acesso a informações confidenciais que pudessem comprometer pessoas próximas, como seu marido, cúmplices e amigos do mercado ilegal. Porém, ao descobrir que a autora do diário havia falecido, vítima no campo de concentração de Bergen-Belsen, ela devolveu o material a seu antigo amigo Otto Frank, pai de Anne, que permitiu a reprodução do diário que comoveu milhões de pessoas pelo mundo.
“Tenho cem anos agora. Essa é uma idade admirável, e até cheguei a ela com bastante saúde”, disse Gies, após ser condecorada na Ordem de Orange-Nassau pela Rainha Beatrix, da Holanda. “Então é justo dizer que você teve sorte, e ter sorte parece ser o fio vermelho que atravessa minha vida.”