Artes/cultura
19/10/2022 às 06:30•2 min de leitura
Recentemente, um debate entre os candidatos ao governo de São Paulo, Fernando Haddad e Tarcísio de Freitas, levantou uma discussão sobre um recurso relativamente recente: a colocação de câmeras na indumentária dos policiais. Haddad posicionou-se favorável ao sistema, que visa diminuir a violência policial. Já Tarcísio defendeu outra posição e disse que as câmeras inibem os policiais na hora de cumprir suas funções.
Mas será que realmente as câmeras cumprem o seu objetivo? Contamos a resposta neste texto.
(Fonte: Jack Taylor/Getty Images)
A discussão sobre o uso de câmeras como uma ferramenta para responsabilização policial iniciou nos Estados Unidos, após a morte de Michael Brown e Eric Garner. Ambos eram homens negros e foram mortos por policiais. Os assassinatos se somaram à discussão sobre a violência excessiva usada pela polícia norte-americana, especialmente sobre as pessoas negras.
A ideia de usar as câmeras corporais entende que a ferramenta tecnológica pode não apenas monitorar a conduta dos policiais, mas também reduzir as práticas violentas, uma vez que estes sujeitos saberão que estão sendo filmados em seu trabalho.
Em São Paulo, as câmeras foram implementadas em 2020. Um levantamento da Polícia Militar divulgado em abril de 2022 mostrou que, desde esta instalação, a produtividade policial aumentou: os flagrantes aumentaram em 41,4% e as apreensões de armas de fogo em 12,9%.
Além disso, a corporação reduziu em 87% as ocorrências de confrontos armados – uma diminuição 10 vezes maior em relação a batalhões que não usam câmeras na indumentária dos profissionais.
Os benefícios envolvem tanto a diminuição de mortes entre os próprios policiais, como a das pessoas que eram mortas por eles. O óbito de policiais em trabalho caiu 62% e a letalidade policial, 80%.
(Fonte: PM/Divulgação)
O funcionamento destas câmeras é relativamente complexo – não envolve apenas vestir o uniforme e ligá-las. Cada policial precisa passar por uma série de procedimentos durante a jornada de trabalho.
O primeiro deles é ter um login no sistema da empresa que capta as imagens. Ao ligar o equipamento, o policial faz a identificação e verifica o nível de bateria da câmera, que nunca é desligada durante o serviço.
A gravação da câmera é acionada quando inicia o deslocamento do policial para o atendimento de uma ocorrência. Ela também pode ser ligada pelo próprio policial ou por pedido de populares.
Os policiais precisam ligar a câmera em qualquer interação que exija algum tipo de uso de força, bem como em abordagens policiais, perseguições a pé ou de carro, fiscalizações de trânsito, acidentes, catástrofes e calamidades em geral.
O vídeo é enviado a cada 30 minutos para o sistema que monitora as câmeras, gerando 24 vídeos por dia de cada policial. Os materiais são então classificados como de rotina, abordagem ou flagrante.
No procedimento padrão, a câmera filma sem áudio, e o policial precisa apertar um botão caso queira gravar uma conversa. Os policiais também não podem finalizar a gravação antes que um atendimento seja encerrado e registrado em vídeo. Caso ele faça isso, precisa gravar uma declaração justificando o motivo.
Vale lembrar também que pesquisas mostram que a população apoia a instalação desta tecnologia. Um levantamento do Datafolha feito em São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais revelou que mais de 90% dos entrevistados se mostraram favoráveis ao equipamento.