Ciência
10/01/2023 às 02:00•2 min de leitura
Quando pensamos nas universidades mais antigas do mundo, em geral lembramos de Oxford, na Inglaterra (fundada em 1090) e Bolonha, na Itália (fundada em 1088). Porém, nenhuma delas é tão antiga quanto a Universidade al-Qarawiyyin, no Marrocos, fundada em 859 por Fatima al-Fihri, uma mulher muçulmana que decidiu dedicar sua vida e sua fortuna para levar educação à sua comunidade.
Fatima al-Fihri usou a fortuna de sua família para construir a primeira universidade do mundo. (Fonte: Shutterstock)
Fatima al-Fihri nasceu na Tunísia em 800. Seu pai era um comerciante rico que se estabeleceu em Fez, no Marrocos. Anos depois, Fatima se casou com um comerciante também muito bem sucedido. Então, quando seu pai e seu esposo faleceram, ela herdou muito dinheiro.
Fatima era muito religiosa e quando soube que a mesquita de Fez já não comportava mais o número de fiéis que a cidade abrigava, ela decidiu construir um templo que fosse grande o suficiente para receber toda a população. A construção se iniciou em 859 e recebeu o nome de mesquita de al-Qarawiyyin. Porém, assim que a construção começou, Fatima percebeu que o espaço poderia ser mais que um templo religioso e concebeu o projeto de uma madraça, isto é, um centro de estudos islâmicos.
A fundação desse centro de estudos faz com que al-Qarawiyyin seja considerada pela UNESCO e pelo Livro dos Recordes (Guiness Book) a universidade mais antiga do mundo ainda em operação, já que ela é mais antiga do que projetos similares do Egito e também anterior à criação de universidades europeias que só surgiram na segunda metade do século XI. Além disso, ela é a única a ser fundada por uma mulher, e mais, uma mulher negra e muçulmana.
Pátio interno da universidade. (Fonte: Wikipédia)
Embora tenha sido concebida inicialmente como um centro de estudos religiosos, rapidamente outros campos de estudos foram incorporados aos programas da universidade e ela passou a oferecer estudos superiores em lógica, medicina, matemática, astronomia, gramática e retórica.
Nos anos seguintes à sua construção, al-Qarawiyyin foi ganhando cada vez mais prestígio e estudiosos do mundo todo viajam para Fez para participar de simpósios e debates. Tal prestígio fez com que muitos sultões da época enviassem subsídios, presentes e livros. Assim, a universidade contava com várias bibliotecas. Uma delas continua aberta ao público até hoje e conta com mais de 4 mil manuscritos valiosos para diversas áreas.
A biblioteca histórica da universidade abriga o primeiro diploma de medicina do mundo. (Fonte: Wikipédia)
Assim, a Universidade al-Qarawiyyin teve um papel importante tanto na unificação de uma identidade cultural, educacional e espiritual islâmica, quanto no intercâmbio de conhecimento com estudiosos do mundo todo. Exemplo disso é o do erudito cristão Gerbert d’Aurillac, que mais tarde se tornou Papa com o nome de Silvestre II e que possivelmente foi um dos responsáveis por levar o sistema numérico árabe para a Europa após passar pela universidade criada por Fatima.
A influência desse centro de ensino se estende até os dias atuais, já que é provável que a estrutura de aprendizagem profissional instaurada por ele tenha inspirado a forma como as universidades europeias se estruturaram, o que se mantém até hoje. Atualmente, a Universidade al-Qarawiyyin ainda funciona e oferece cursos de graduação e pós-graduação em diversas áreas do conhecimento.