Ciência
01/10/2023 às 04:00•2 min de leitura
No outono de 2022, um processo civil foi instaurado em um tribunal alemão. O caso surgiu de uma disputa no Twitter sobre se as pessoas trans haviam sido vítimas do Holocausto. Embora não exista mais um debate sobre se gays e lésbicas foram perseguidos pelo regime nazista, não existiram muitos estudos sobre pessoas trans durante esse período.
Então, o tribunal baseou-se em declarações de historiadores especialistas no tema antes de concluir que as provas históricas mostram que essa parcela da população, de fato, foi atacada pelos nazis. Além dessa ser a primeira vez que um tribunal reconhece a perseguição de pessoas trans na Alemanha, esse é um marco histórico a respeito dos acontecimentos na Segunda Guerra Mundial. Entenda!
Bar El Dorado, em Berlim. (Fonte: Wikimedia Commons)
Logo após a decisão tomada pelo tribunal alemão, o parlamento do país também divulgou formalmente uma declaração reconhecendo as pessoas trans como vítimas do fascismo. Até os últimos anos, havia quase nenhuma pesquisa sobre o tema durante a Segunda Guerra Mundial.
Porém, nos últimos tempos, pesquisadores estão investindo mais no assunto. Em 1933, o ano em que Adolf Hitler assumiu o poder da Alemanha, a polícia de Essen revogou a autorização que Toni Simon tinha para se vestir de mulher em público. Simon, que tinha cerca de 40 anos, vivia como mulher há muitos anos.
Um grupo de mulheres transgêneros em 1930, no bar El Dorado. (Fonte: General Photographic Agency/Getty Images)
A República de Weimar, como foi chamado o governo democrático antes de Hitler, era considerada a democracia mais tolerante de sua época, reconhecendo os direitos de pessoas trans, embora de forma relutante e limitada. Foi durante esse período histórico que pessoas como Simon conseguiram esse tipo de autorização.
A ascensão da Alemanha nazista, no entanto, destruiu esse ambiente relativamente aberto para transgêneros. Os nazistas fecharam revistas progressistas e a maioria das pessoas que possuíam os chamados "certificados de travestis" tiveram suas licenças revogadas ou assistiram impotentes enquanto a polícia atacava.
(Fonte: Museu Memorial do Holocausto dos EUA/Reprodução)
No começo do governo nazista, é possível perceber que uma aversão às pessoas transgênero passou a ser suscitada na sociedade alemã. O autor de um livro de 1938 sobre o "problema do travestimos" escreveu que antes de Hitler estar no poder, não havia muito o que pudesse ser feito em relação às pessoas trans. No entanto, com os nazis no poder, elas poderiam ser colocadas em campos de concentração ou submetidas à castração forçada.
Simon, no entanto, sempre foi uma pessoa muito corajosa. Pesquisadores encontraram seu arquivo policial enquanto buscavam sobre pessoas trans no Museu Memorial do Holocausto nos Estados Unidos. Além de ser proprietário de um clube LGBTQIA+, ela foi levada ao tribunal por criticar o regime nazista.
Logo, passou a ser alvo da Gestapo, que considerava mandá-la para um campo de concentração algo "absolutamente necessário". Como não existem documentos de prisão reais, existe uma possibilidade que ela tenha conseguido fugir das garras do nazismo.
No entanto, muitas mulheres trans não tiveram a mesma sorte. No Arquivo do Estado de Hamburgo, existem alguns casos que podem ser vistos de pessoas com certificado de travesti que foram perseguidas, enviadas para campos de concentração e posteriormente assassinadas.