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20/01/2024 às 12:00•2 min de leitura
Quando as chamadas múmias do Tarim foram descobertas pela primeira vez, no final do século XIX, os pesquisadores não tinham ideia do tamanho do mistério cultural que estavam desenterrando. Ao sondar cemitérios encontrados ao redor da bacia do rio de mesmo nome, no que é atualmente a região autônoma dos uigures de Xinjiang, na China, foram descobertos centenas de corpos de pessoas mortas há milhares de anos, naturalmente mumificados, que parecem estar dormindo.
Arqueologicamente fascinantes, mesmo com o passar do tempo, algumas características foram mantidas intactas, como estilos de cabelo, vestimentas e acessórios de uma cultura remota. A primeira impressão foi de que eram migrantes indo-europeus daquela época.
Mas as surpresas não pararam por aí. Quando submetidos a pesquisas modernas de DNA, os corpos bem preservados de cerca de quatro mil anos revelaram pertencer a um grupo étnico indígena da região, mas geneticamente diverso de outras populações vizinhas. Se os genes deram algumas pistas, a história e a cultura dessas pessoas ainda continuam um mistério.
(Fonte: Instituto de Relíquias Culturais e Arqueológicas de Xinjiang/Reprodução)
A verdade é que, embora chamados de “múmias”, esses corpos não foram submetidos a nenhum processo de mumificação em rituais funerários, como os do antigo Egito. Eles são o resultado de uma decomposição superlenta, quase inexistente, devido ao ambiente frio, seco e salgado do Tarim que é, ao mesmo tempo, uma bacia hidrográfica (sem saída para o mar) e um deserto, o Taklimakan.
As centenas de múmias já desenterradas foram datadas desde 500 a.C. até cerca de 2.100 a.C. Elas exibem cabelos louros, castanhos e ruivos, têm narizes grande e usam roupas confeccionadas de lã, pele ou couro de bovinos. A presença de feltro ou tecido sugere alguma ligação com a cultura da Europa Ocidental.
Algumas das múmias já se tornaram icônicas, como o Homem Chärchän, com mais 1,80 metro de altura, cabelo avermelhado e barba densa, enterrado com uma saia xadrez. Outro personagem de destaque é a chamada Princesa de Xiaohe, uma mulher de 3.800 anos com cabelos claros, maçãs do rosto proeminentes, cílios preservados, roupas finas e joias.
(Fonte: Instituto de Relíquias Culturais e Arqueológicas de Xinjiang/Reprodução)
As múmias foram escavadas na atual Região Autônoma Uigur de Xinjiang, predominantemente habitada pelos uigures, um grupo étnico muçulmano com língua parecida com a turca. Eles chegaram a proclamar sua independência no início do século XX, mas a China retomou o controle da região em 1949.
Como praticamente tudo se torna motivo de tensão com o governo central de Pequim, com as múmias não foi diferente. Em 2011, a China retirou múmias de uma exposição itinerante por serem muito frágeis para o transporte, acrescentando um elemento político ao destino das múmias.