Artes/cultura
18/03/2021 às 14:00•3 min de leitura
Na novela O Bem-Amado — a qual, recentemente, dedicamos uma matéria especial no Mega Curioso —, a atriz Dorinha Duval interpretava uma das divertidas Irmãs Cajazeiras, Dulcineia. Entre os personagens mais importantes da história, ela engravida do prefeito Odorico, mas acaba se casando com o secretário dele, que pensa ser o pai da criança.
A atriz também era conhecida por seu trabalho no teatro de revista, nas décadas de 1950 e 1960, além do papel de Cuca, na primeira versão do Sítio do Pica-pau Amarelo.
Porém, em outubro de 1980, Dorinha Duval foi notícia nas páginas policiais, acusada de matar seu então marido, Paulo Sérgio Alcântara, com vários tiros. Antes disso, ela tinha sido casada com Daniel Filho, diretor de novelas da Globo, com quem teve uma filha, a também atriz Carla Daniel. Após uma separação conturbada, Dorinha chegou a tentar o suicídio, antes de se entregar novamente ao amor, com Paulo Sérgio.
O problema é que seu conto de fadas acabou virando um tormento, como o júri e o público puderam comprovar quando a verdade veio à tona.
Dorinha Duval ficou conhecida por seus papéis em novelas, teatro e séries (Fonte: TV História)
Dorinha Duval viveu um momento conturbado de sua vida, bebendo e fumando muito, após se divorciar de Daniel Filho. Nessa época, além da bem-sucedida carreira de atriz, ela trabalhava com corretagem de imóveis. Foi assim que ela conheceu Paulo Sérgio, um corretor 16 anos mais jovem que ela e desempregado. Dorinha foi quem arranjou um trabalho para Paulo na produtora do diretor Carlos Manga, seu amigo pessoal, mesmo que o rapaz não tivesse nenhuma experiência na área. Em 1977, se casaram.
Na produtora, Paulo era rodeado de modelos jovens e bonitas, o que despertou os ciúmes de Dorinha, que tinha um temperamento forte. Outro agravante era o vício dele em jogo: a atriz tinha traumas com seu pai, que tinha o mesmo problema, mas pagava todas as dívidas de jogo de Paulo Sérgio. Essas duas questões causavam brigas graves entre o casal, com grande frequência.
Na noite de 5 de outubro de 1980, o casal retornava de um jantar na casa de um amigo quando Dorinha pediu para fazer amor com Paulo, ao que ele recusou. Ela lhe acusou de ter outras mulheres e Paulo confirmou que isso era verdade. Ele disse: "Você está velha, feia, gorda. Você já era. Porque eu não quero nada com uma velha como você. Vê se olha no espelho! Você acha que eu vou querer alguma coisa contigo?".
A atriz matou o marido Paulo Sérgio, 16 anos mais jovem que ela, após humilhações e agressões físicas (Fonte: TV História)
Dorinha ainda tentou argumentar que faria plásticas para voltar a ficar bonita, mas foi respondida com outras humilhações: "Não quero uma bruxa remendada! Eu gosto é de garotas, mulheres mais novas, ouviu?", disse Paulo Sérgio. Aí começaram as agressões físicas: Dorinha deu um soco em Paulo, que a derrubou e começou a desferir uma série de tapas e pontapés nela. No chão, sendo golpeada, a atriz disse que iria se matar, ao que Paulo respondeu que seria "uma ótima ideia e que a arma estava na gaveta".
Mas em vez de tirar a própria vida, Dorinha Duval disparou contra Paulo, que recebeu as balas do tórax, baço e abdômen. Logo em seguida, a atriz pediu ajuda para amigos, que levaram o corpo de Paulo enrolado em um lençol até o hospital. Porém não havia mais o que fazer. Logo Dorinha estava respondendo processo pelo crime, mas em liberdade.
No primeiro julgamento, ocorrido em 1983, o júri entendeu que Dorinha havia agido em legítima defesa. Mesmo assim, ela foi condenada há um ano e seis meses de prisão por excesso culposo — isto é, por ter se excedido na hora de se defender. Segundo o portal TV História, o resultado foi recebido com alegria pelo público presente no Tribunal e a atriz pode sair do local amparada por amigos e familiares.
Dorinha Duval sempre demonstrou sofrer com o que aconteceu entre ela e Paulo Sérgio (Fonte: TV História)
Contudo, os desembargadores do Rio de Janeiro anularam esse julgamento e Dorinha acabou sendo condenada a seis anos de prisão por homicídio sem agravantes, em 1989 (quase 10 anos após o crime). Ela cumpriu nove meses em regime semi-aberto em uma unidade prisional de Niterói, migrando depois para o regime aberto. Ela abandonou sua carreira de atriz — seu último papel foi na série Plantão de Polícia, ainda meses antes do assassinato de Paulo Sérgio —, mas encontrou um novo papel nas artes plásticas.
Dorinha Duval sempre demonstrou sofrer muito com o crime e com as circunstâncias que o motivaram, relatando tudo em sua biografia "Em Busca da Luz", lançada em 2002. Ela começou a se dedicar ao esoterismo e fez um certo sucesso com suas pinturas e esculturas sobre esse tema. A ex-atriz e, agora, artista plástica está com 92 anos e vive no Rio de Janeiro, com a filha Carla Daniel.
Matéria de jornal da época. A opinião pública demonstrou apoio à atriz.
Outra matéria da época, sobre o julgamento de Dorinha Duval