Estilo de vida
17/05/2021 às 09:52•4 min de leitura
Faz só 31 anos que a OMS (Organização Mundial da Saúde) tirou a homossexualidade da lista de distúrbios mentais da CID (Classificação Internacional de Doenças), em 17 de maio de 1990. Essa foi uma das primeiras grandes conquistas do ativismo LGBTQIA+ em busca de mais respeito da sociedade, para viver suas vidas e seus amores sem medo.
Por isso, a partir de 2004, o dia 17 de maio foi instituído como o Dia Internacional de Combate à Homofobia — depois, englobando também outros problemas relacionados, como a transfobia e bifobia. A data é um lembrete das lutas que as pessoas LGBTQIA+ ainda precisam travar ao redor do mundo.
A bandeira do orgulho LGBTQIA+ costuma carregar as corres do arco-íris (Imagem: Unsplash)
Nesse contexto, é importante entender que há diversas minorias além dos homens gays — que são apenas a letra G da sigla. Há também as lésbicas, bissexuais, transgêneros, queer, pessoas intersexo e assexuadas, entre outros grupos que também sofrem com o preconceito e precisam de reconhecimento.
Não tem problema não saber o significado de alguma letra ou até se confundir, já que, como dizem, ninguém nasce sabendo. O que ofende é não ter vontade de entender ou respeitar as pessoas LGBTQIA+, mesmo que alguém queira explicar. Dito isso, vamos ao significado das letras, para quem quer saber mais.
As três primeiras letras da sigla falam de orientações sexuais: as lésbicas são mulheres que sentem atração afetiva e/ou sexual por outras mulheres, assim como os gays são homens atraídos por outros homens. Já os homens e mulheres bissexuais podem sentir atração por pessoas de ambos os gêneros.
Nesse ponto, é interessante mencionar que, até alguns anos atrás, a sigla começava pelo G. A inversão ocorreu, em partes, para dar mais visibilidade às mulheres lésbicas, que costumavam ficam em segundo plano, em alguns momentos. Além disso, é muito importante usar o termo "orientação" sexual, em vez de "opção", uma vez que ninguém escolhe ser lésbica, gay ou bissexual.
Além dos bissexuais, há também os pansexuais. Muita gente têm preferido esse termo para dizer que se atrai por pessoas independente da identidade de gênero delas — pan significa "tudo" —, o que também inclui homens ou mulheres trans, bem como pessoas não-binárias ou intersexo.
Lésbicas, gays e bissexuais (e pansexuais) são pessoas com orientação sexual diferente da heterossexualidade (Imagem: Unsplash)
A partir daqui, a sigla começa a falar da expressão de gênero das pessoas — como elas se sentem e querem se expressar para o mundo. O "T" vem de transgênero ou travesti, pessoas que não se identificam com o gênero atribuído no nascimento.
Isso inclui mulheres trans (que nasceram com órgãos masculinos) e homens trans (que nasceram com órgãos femininos). Essas pessoas enfrentam uma infinidade de desafios até poderem viver de acordo com suas verdadeiras identidades, vestindo e se portando como desejam, com corpo, nome e documentos em acordo com seu gênero.
Os transgêneros sofrem ainda mais preconceito em casa e no vida profissional, com índices maiores de pessoas trans nas ruas ou trabalhando com prostituição, por não encontrarem espaço na sociedade. Esses são fatores que contribuem para a expectativa de vida desse grupo ser muito menor: cerca de 35 anos, segundo estimativas.
Caso você esteja se perguntando qual é a diferença entre transgênero e travesti, essa segundo palavra costumava ser um termo pejorativo para pessoas que nasceram como homens e têm identidade feminina. Mas, em anos recentes, muitas travestis começaram a abraçar o termo para ressignificar esse tipo de preconceito.
Nesse ponto, vale explicar que drag queens, como Pabllo Vittar, são homens que se vestem de forma exageradamente feminina como parte de uma performance artística, mas não necessariamente vivem como mulheres fora da arte.
Pessoas trans possuem identidade de gênero diferente do sexo atribuído ao nascer (Imagem: Wikimedia Commons)
A letra Q significa queer, que, literalmente, significa "excêntrico", em inglês. São pessoas que não se encaixam em categorias de gênero — como os homens ou mulheres trans, que se expressam de forma decididamente masculina ou feminina. Os queers, também chamados de não-binários, transitam entre os gêneros ou não se sentem confortáveis em se colocar em uma "caixinha".
As pessoas intersexuais são aquelas cujo corpo não se desenvolveu dentro das opções binárias de macho/fêmea e masculino/feminino, seja por questões hormonais, genitais ou genéticas. O termo "hermafrodita" caiu em desuso.
As outras partes da sigla LGBTQIA+ surgiram para mostrar que todas as pessoas são bem-vindas no movimento (Imagem: Pexels)
A última letra da sigla fala sobre a assexualidade. Ela também é uma orientação sexual, mas de pessoas que não se sentem atraídas por qualquer gênero. Em uma sociedade que fala tanto sobre sexo, em especial nas últimas décadas, pessoas assexuais podem sofrer ainda mais pressão para se encaixar em alguma categoria.
Por fim, o "+" é colocado ao final da sigla para mostrar que aquelas pessoas que não se encaixam ou ainda não se encontraram em nenhuma letra da sigla também podem ser bem-vindas na nossa luta.
No Dia Internacional de Combate à Homofobia de 2018, o Mega Curioso publicou um artigo que traz mais dados que reafirmam a necessidade dessa data. Mas, em resumo, faz muito pouco tempo que os LGBTQIA+ começaram a ser minimamente aceitos e nós ainda enfrentamos diversos obstáculos que as pessoas heterossexuais que não existem na vida de um heterossexual.
Coisas como casar, ter um filho ou simplesmente não ser demitido do emprego por ser quem você é, algo que héteros sempre puderam fazer, só foi permitido aos LGBTQIA+ com mudanças recentes nas leis do Brasil. Falando em leis, na verdade, há mais de 60 países em todo o mundo em que ser LGBTQIA+ é um crime — em alguns deles, passível até de pena de morte. Isso é algo que precisa ser lembrado, nesse dia.
Mesmo no Brasil de 2021, supostamente moderno, alguns lugares e contextos sociais ainda são bastante preconceituosos.
Apenas para citar um exemplo simples, o ex-BBB Gil do Vigor contou a programas esportivos que torce pelo Sport, mas nunca frequentou estádios de futebol por medo de preconceito. O clube chegou a gravar vídeos com ele, que receberam comentários pejorativos e homofóbicos do conselheiro do Sport, Flávio Khoury. Felizmente o caso acabou bem, já que a própria torcida e os jogadores falaram em favor de Gil — e de todos os fãs de futebol LGBTQIA+, por extensão.