Estilo de vida
19/05/2022 às 08:00•3 min de leitura
Conforme os dados do Governo do Brasil, em 2021, o país teria gerado mais de 2,7 milhões de empregos formais, ou seja, aqueles com carteira assinada, em que o trabalhador encara uma jornada de acordo com a Consolidação das Leis de Trabalho (CLT).
Uma pesquisa do Bureau of Labor Statistics mostrou que 39% da população dos Estados Unidos passaram seu tempo livre trabalhando em 2020, em comparação com 43% da população de 2019. A escritora Annie Dillard, em entrevista ao Gettysburg College, afirmou que uma pessoa, em média, passa 90 mil horas trabalhando ao longo da vida. “Portanto, é seguro dizer que seu trabalho pode ter um enorme impacto na sua qualidade de vida”, observou ela.
Muito embora o número de horas de trabalho dos americanos, por exemplo, tenha diminuído nas últimas décadas, e o tempo de lazer aumentado relativamente, ainda é difícil para as pessoas perceberem isso. Mas por quê?
(Fonte: Medicinenet/Reprodução)
Durante uma palestra na TED Talks de 2017, Adam Alter, psicólogo da Universidade de Nova York, mostrou que as telas que cercam o nosso cotidiano, como as de celulares, televisores e computadores, são as responsáveis por consumirem a maior parte do tempo livre que conseguimos tirar quando não estamos trabalhando ou fazendo outro tipo de atividade.
Tendo como base os dados do Bureau of Labor Statistics e do aplicativo Moment, que rastreia o uso de celulares, o gráfico mostrou que o sono e o trabalho ocupam dois terços do dia das pessoas todos os anos. O mesmo vale para atividades necessárias, como se alimentar e tomar banho.
(Fonte: Popular Science/Reprodução)
Segundo Alter, a sensação de diminuição do tempo começou, efetivamente, a partir de 2007, quando as telas consumiam poucos minutos do tempo livre. Durante sua conferência, o psicólogo instigou a plateia a repensar o quanto de tempo se dedicam aos seus aparelhos eletrônicos para qualquer finalidade que não seja fazer algo que realmente os relaxe.
Muito embora o mundo online e os eletrônicos conectem as pessoas e proporcionem, invariavelmente, um tipo diferenciado de lazer, também levam à distração e a sentimentos de isolamento, reforçando a sensação de que aquela atividade livre, na verdade, não te acrescentou em nada.
(Fonte: PRG Pharmacy/Reprodução)
No entanto, algumas pesquisas mostraram que ter e decidir como passar esse tempo livre pode acabar gerando ainda mais estresse. Isso porque as pessoas podem acabar se sentindo mais pressionadas a maximizar esse tempo para conseguir se sentir, de fato, relaxada e fazendo algo produtivo que valha todo o gasto de energia ou pensamentos repetitivos de desejo.
“Nossa capacidade de comprar e desfrutar de bens e serviços, aumentou muito mais rapidamente do que o tempo disponível para desfrutá-los”, explicou o economista americano Daniel Hamermesh em seu livro Spending Time: The Most Valuable Resource.
Com isso, Hamermesh pontua que as pessoas querem ter o melhor retorno de tudo devido ao quanto de dinheiro e minutos que se empenharam por isso. Melhores viagens, experiências cinematográficas, restaurantes, etc. Tudo para compensar que parece que estão eternamente correndo contra o tempo.
(Fonte: Reserva Ativa/Reprodução)
Isso tudo pode levar a horas de planejamento em algum sentido, passando pelo catálogo de um aplicativo de comida ou de streaming. Ainda que alguns cientistas enxerguem essa antecipação como um fator contribuinte para a felicidade, também desperta o sentimento evasivo de que o tempo livre acaba assim que começa.
“Algo consistente sobre o lazer, no entanto, é que ele sempre foi contrastado com o trabalho”, disse Brad Aeon, professor assistente da Escola de Ciências da Administração da Universidade de Québec, em matéria à BBC.
Segundo Aeon, na Grécia Antiga, o lazer era um estado de espírito ativo, associado à liberdade, o que significava fazer bons esportes, estudar filosofia, entrar em debates e aprender teoria musical; enquanto o trabalho era atribuído à servidão, visto que, aos escravos, era endereçado todo tipo de tarefa, até as que consideramos básicas.
Desse modo, o lazer era um trabalho ativo, porém despertava um sentimento de gratificação. Para o professor, tudo mudou quando os romanos passaram a enxergar o tempo livre como uma forma de recuperação em preparação para mais trabalho, e isso se estendeu, sendo incorporado nos aspectos sociais quando o período da Revolução Industrial chegou. O ócio se tornou a grande atividade dos ricos.
No final das contas, Selin A. Malkoc, professora associada de marketing da Fisher College of Business da Universidade Estadual de Ohio, acredita que aproveitar o tempo livre de maneira adequada pode ser algo que as pessoas passem a aprender em todos os aspectos, como aumentar a resistência gradualmente na academia. Talvez, intercalar qualquer tipo de atividade proveitosa com o trabalho ajude na frustração que o excesso de planejamento para o desconectar total possa gerar.