Ciência
13/11/2022 às 05:00•2 min de leitura
A morte é inescapável. Contudo, mesmo que todos tenhamos esse destino, há quem não tenha ninguém para chorar ou lamentar sua partida. Não é a única razão para tal, mas foi uma das motivações para o surgimento de uma milenar profissão: a das carpideiras.
Curiosamente, a carreira foi muito valorizada em diferentes culturas ao longo dos tempos e, por mais incrível que possa parecer, existe até os dias atuais. Ao longo dos séculos, as carpideiras, pessoas que atuaram na área, foram bastante respeitadas. Ficou curioso? Então, prepare o lenço e venha conosco nessa jornada para entender tudo sobre o luto profissional!
(Fonte: Biblioteca do Congresso dos EUA/Reprodução)
Também conhecidos como moirologistas, as carpideiras, como o nome já indica, são pessoas que recebem dinheiro para comparecer a um funeral e lamentar pelo falecido. Nesta relação comercial, o contratado não conhece a pessoa morta, mas expressa profunda tristeza por sua partida.
Desde seu surgimento, estes profissionais foram usados tanto para prestar condolências à família enlutada, quanto para elogiar e prestar homenagens ao morto. Sua origem é incerta, especialmente por relatos serem encontrados em diferentes sociedades antigas, como no Egito, China e Oriente Médio.
Na Bíblia Sagrada, tanto no Antigo como no Novo Testamento, é possível encontrar descrições sobre mulheres que eram contratadas para prestarem serviços em funerais. No Egito Antigo, por exemplo, o processo de contratação de pessoas para atuar como carpideiras era bastante rigoroso, restrito a mulheres que não fossem mães.
E tinha mais: elas também não podiam ter pelos no corpo, e muitas eram tatuadas com nomes de deusas na altura do ombro, para que evocassem o poder delas durante o culto de celebração do falecido. Já na Roma Antiga, apenas pessoas com muito dinheiro podiam contratar as carpideiras.
O que conecta todas as sociedades que tinham o hábito de uso destes profissionais é a sensação de honra ao morto por ver seu funeral recheado de pessoas. Quanto mais gente, mais importante e maior era o status social.
(Fonte: Wikimedia Commons)
A prática do luto profissional existiu em diferentes culturas. Na China, chorar ou demonstrar emoção em público só é socialmente aceitável em situações de luto. Por essa razão, enlutados profissionais são bastante requisitados, muitos deles tendo fila de espera para contratação.
Na Índia, diferente da China, o luto profissional é restrito a mulheres de castas inferiores, já que chorar na frente de pessoas comuns é mal visto. No país, quem é contratado para chorar em funerais é chamado de rudaali. A encenação é levada a sério: as mulheres choram, batem no peito e gritam, um teatro de tristeza em encenação que dura até 12 dias.
A Inglaterra da Era Vitoriana também viveu seu período de luto profissional. Havia uma ligação entre grande presença de pessoas no funeral e seu status social. Por essa razão, famílias nobres contratavam profissionais para "lamentar" a partida do indivíduo. A prática foi exportada para os Estados Unidos, ainda no período de colonização britânica, e é executada em algumas regiões.
(Fonte: Rent a Mourner/Reprodução)
Não existem cursos formadores de enlutados profissionais, mas, em alguns países, os profissionais podem ser requisitados. Na Índia, por exemplo, estrangeiros são contratados para funerais como símbolo de maior status social. Ali, por sinal, também são valiosos em casamentos, atuando como estátuas vivas.
Nos Estados Unidos, também há mercado para esses profissionais. Chorar sob demanda, inclusive, pode render bom retorno financeiro. Na China, a hora do enlutado profissional varia entre US$ 35 e US$ 500, a depender do desempenho do contratado. Quão mais conhecido, maior a remuneração.