Artes/cultura
25/01/2024 às 06:30•2 min de leitura
Ao longo dos anos, a discussão sobre o uso de palmadas como método disciplinar tem sido amplamente debatida. Uma pesquisa recente, publicada na revista Child Development, trouxe à tona descobertas que confirmam os resultados de décadas de estudos sobre o tema: palmadas, mesmo que brandas, podem causar danos.
Conduzido por pesquisadores da Harvard Graduate School of Education, o estudo revela que palmadas alteram a resposta cerebral das crianças, de maneira semelhante aos efeitos de maus-tratos graves, aumentando a percepção de ameaças.
Mesmo as leves surras pode gerar danos duradouros. (Fonte: GettyImages/ Reprodução)
A pesquisa analisou 147 crianças, algumas das quais haviam recebido palmadas durante os primeiros anos de vida, enquanto outras não. Utilizando ressonância magnética, os cientistas observaram as respostas cerebrais dessas crianças diante de diversos estímulos emocionais, como expressões faciais que podiam ou não representar ameaças.
Surpreendentemente, as crianças que haviam sofrido palmadas demonstraram uma resposta cerebral mais intensa, sugerindo que esse método disciplinar pode alterar a função cerebral de maneira comparável a formas mais severas de maus-tratos.
Embora a prática de palmadas seja normalmente considerada como algo em desuso, é surpreendente constatar que ainda é amplamente utilizada por pais e até mesmo em algumas escolas, mesmo em países que proíbem esse tipo de castigo corporal.
De acordo com Jorge Cuartas, Ph.D. de Harvard e autor do estudo, a surra não apenas se mostra ineficaz na disciplina, mas também está associada a problemas de saúde mental e dificuldades no desenvolvimento socioemocional.
Os resultados da pesquisa indicam que a surra desencadeia reações cerebrais semelhantes às provocadas por experiências mais ameaçadoras, como abuso sexual. Esse impacto no cérebro pode afetar áreas cruciais para a regulação emocional e a detecção de ameaças, habilidades essenciais para o sucesso em ambientes educacionais.
Há diversas formas mais eficazes de educar os filhos do quer dar palmadas, alertam os especialistas. (Fonte: GettyImages/ Reprodução)
Embora existam diversos países que proíbem os castigos corporais, potências como os Estados Unidos não estão incluídas nessa lista, tanto que aproximadamente um terço dos pais nos EUA admite espancar seus filhos semanalmente.
No Brasil, a Lei n.º 13.010/14 modificou o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) e proibiu o uso de castigos físicos ou de tratamento cruel, ou degradante, contra crianças. Nesse ponto estamos bem atrasados, pois países como Suécia e Finlândia já aboliram a prática há mais de 40 anos.
Jorge Cuartas destaca a importância de reconhecer a ineficácia da surra como ferramenta disciplinar, promovendo métodos mais positivos, como a disciplina positiva.
Além disso, o pesquisador enfatiza a necessidade de pressionar os governantes por políticas que proíbam os castigos corporais de maneira global, buscando extinguir definitivamente a prática em todos os países do planeta.
Cuartas também sugere oferecer melhor apoio às famílias, compreendendo que os pais podem recorrer a palmadas devido a fatores aprendidos na infância, estresse emocional ou circunstâncias familiares complicadas.