Ciência
23/02/2024 às 08:00•2 min de leitura
O filme A Sociedade da Neve (2023), recentemente indicado ao Oscar, retrata a história verídica de um grupo de jogadores de rugby do Uruguai que sofreram um acidente de avião indo disputar um campeonato no Chile. A aeronave caiu nos Andes, perdeu as asas e a cauda, e deslizou 600 metros no frio congelante da região — onde os sobreviventes tiveram que lutar para se manterem vivos por 72 dias.
Porém, o cenário que eles encontraram na região em 1972 mudou drasticamente desde então. Nos últimos 30 anos, a Cordilheira dos Andes perdeu cerca de 12% da sua camada de neve por década. De 2010 a 2019, por exemplo, a região sofreu uma seca de neve tão severa que ameaçou a disponibilidade de água doce em partes da América do Sul.
Sendo assim, pesquisadores argumentam que o desastre aéreo provavelmente teria um resultado diferente em consequência das alterações climáticas que afetaram a região.
(Fonte: Getty Images)
Embora a neve nos Andes varie conforme o ano e a estação, a quantidade média anual diminuiu drasticamente desde a década de 1970, indica um estudo feito pela Universidade de Groningen, na Holanda. No ano em que o avião caiu, por exemplo, aconteceram nevascas acima da média que alteraram a rota fatal do voo. A viagem inicialmente deveria sair de Montevidéu até Santiago no dia 12 de outubro de 1972, mas os pilotos decidiram fazer uma escala noturna em uma cidade argentina.
A grande quantidade de neve piorou o frio e os dias nas montanhas tornaram-se insuportáveis para os sobreviventes — o que causou várias outras mortes nos dias subsequentes. Contudo, especialistas em aviação acham que o avião não teria sobrevivido sem toda essa neve. "Se eles tivessem pousado em uma situação sem neve, muito provavelmente o avião teria despedaçado e ninguém teria sobrevivido ao acidente inicial por causa do pouso nas rochas", disse o especialista em segurança da aviação John Nance em entrevista ao National Geographic.
Mesmo que o voo tivesse sobrevivido a esta aterrisagem rochosa, a história dos sobreviventes poderia ter sido diferente. O avião caiu nas montanhas perto da fronteira entre o Chile e a Argentina, depois deslizou para uma área chamada "Vale das Lágrimas". Em 2019, um estudo descobriu que a área dos Andes tem recebido cerca de 10% menos neve por década desde aquela época.
(Fonte: Charley Gallay/Netflix/Getty Images)
De acordo com investigadores, à medida que a queda da neve diminui, a taxa de aquecimento local aumentou rapidamente. Logo, os sobreviventes não sentiriam tanto frio, certo? Exatamente. Quando o Sol atinge uma superfície escura e sem neve como as montanhas, a superfície absorve toda a energia e a Terra aquece mais. Sendo assim, a falta de neve no local do acidente poderia ter tornado o frio mais suportável.
Além das temperaturas geladas, os sobreviventes disseram que um dos principais desafios era a sede, uma vez que comer neve machucava as gengivas, línguas e gargantas. Porém, com temperaturas mais altas, nem mesmo água congelada poderia estar disponível na região, forçando os sobreviventes a procurar neve no topo da montanha ou obter água de uma fonte diferente como uma geleira.
Esses são apenas alguns exemplos que ilustram como o aquecimento global impactaria nesse tipo de situação. Porém, para a sorte da humanidade, cada vez menos precisamos nos preocupar com esse tipo de situação. Embora as alterações climáticas sejam cada vez mais cruéis, voar tornou-se mais seguro — diminuindo a probabilidade de acidentes como esse acontecerem.