Artes/cultura
12/05/2024 às 18:00•2 min de leituraAtualizado em 12/05/2024 às 18:00
Percorrer grandes distâncias na estrada é o tipo de atividade que tende a dividir as pessoas: ou elas detestam e sentem tédio, ou amam com todas as forças e apreciam cada minuto. E para este último grupo, uma viagem de ônibus entre Londres e Calcutá foi, durante alguns anos, um prato cheio para ver o mundo com novos olhos.
A rota, encarada pelos aventureiros entre o final dos anos 50 e os anos 60, era feita em um ônibus de dois andares, mas o serviço foi encerrado em 1968. Um dos ônibus usados nessa linha foi adquirido pelo australiano Andy Stewart, um entusiasta das viagens em terra firme, que deu vida ao Albert Travel a partir daquele ano.
Mas apenas em 1972 o grandioso trajeto voltou a ser oferecido. Entrar nesse veículo significava levar um estilo diferente de vida ao longo de pelo menos 48 dias e cerca de 20 mil quilômetros percorridos.
Na prática, era mais do que uma viagem: era uma oportunidade única de ter muitas aventuras antes mesmo de chegar ao destino. Saindo de Londres, na Inglaterra, o veículo atravessava uma balsa para chegar até a Bélgica, na porção continental do território.
A partir desse ponto, o ônibus seguia pela Alemanha, Áustria e antiga Iugoslávia até chegar na Bulgária, no leste europeu. A Turquia, país transcontinental, abria as portas para a Ásia, permitindo que a viagem seguisse pelo Irã, Afeganistão e Paquistão até finalmente terminar na Índia.
Naturalmente, as paradas permitiam aos viajantes explorar essas localidades e ter contato com um pouco do clima, do idioma, da cultura e da culinária.
O mundo, naquela época, não era tão diferente do atual, e a paz já parecia estar num horizonte mais distante. No Líbano, por exemplo, algumas nuances eram visíveis: muitos refugiados árabes saíram da Palestina a partir de 1948, com a criação do Estado de Israel. Esses povos entraram no país e nos territórios vizinhos, dando uma amostra dos problemas complexos e delicados que ainda hoje se apresentam sem uma solução.
O próprio Líbano ainda foi vítima de uma guerra civil que se alastrou por anos, entre 1975 e 1990. Mas, dentro do Oriente Médio, seria o Irã o país alvo de uma mudança mais agressiva e permanente, com a Revolução Iraniana de 1969. O movimento mudou radicalmente como as pessoas, mais especificamente as mulheres, viviam dentro do país e instaurou um regime autocrático que perdura ainda hoje.
Como tudo se relaciona de alguma forma, ainda que indiretamente, as tensões da região evitaram a continuidade dessa rota de acesso até a Índia, paralisando o serviço.
Algumas das viagens realizadas chegaram a oferecer uma extensão do trajeto até Sydney, na Austrália. Enquanto o serviço operava, algo muito belo ocorria independentemente do momento: se os viajantes estavam interessados em conhecer novos lugares, para aqueles que avistavam o veículo cheio de passageiros, não era diferente.
O ônibus Albert gerava curiosidade entre os residentes locais, e aproximava povos de diferentes nacionalidades, ainda que por um breve momento. As viagens em aviões oferecem conforto e segurança, e indiscutivelmente são indispensáveis por reduzirem distâncias, mas, por outro lado, não promovem esse contato mais próximo com as diferentes localidades e nem a visão de belas paisagens.
O Albert Travel, que realizou cerca de 15 viagens, acabou encerrando as operações em 1976. Mas ainda assim, o antigo ônibus seguiu lembrado com carinho, afinal, ele deu vida à maior rota de ônibus do mundo. Décadas depois, a empresa Adventures Overland também se aventurou nesse segmento, optando por oferecer uma rota diferente entre a Europa e a Ásia para manter o trajeto mais seguro.