Artes/cultura
06/09/2024 às 18:00•4 min de leituraAtualizado em 06/09/2024 às 18:00
Vivemos na era das redes sociais – e também da desinformação – que facilitaram o acesso ao conhecimento, mas também o deturparam ao envolver a verdade e o engano absoluto.
A quarta maior plataforma de mídia social do mundo, com mais de 1 bilhão de usuários ativos mensais, o TikTok se tornou um campo minado para proliferação de conteúdo falso ou manipulado sobre todos os tipos de assuntos, sendo que uma pesquisa feita pelo eMarketer mostrou que 40% dos seus usuários o utilizam para obter informações.
Durante a conferência Fortune Brainstorm Tech, o vice-presidente sênior do Google, Prabhakar Raghavan, confirmou que o formato do TikTok está mudando a maneira como os jovens procuram por informações.
Cada vez mais as pessoas tiram informações sobre guerras, política, ou qualquer outro tipo de assunto, de conteúdos virais no TikTok em vez de por meio de mídia tradicional ou conteúdo acadêmico. Só que a rede não foi projetada para ser uma fonte de informação, não detendo os filtros necessários para isso, portanto, seus motores de busca acabam fornecendo mais conteúdo falso ou manipulado para seus usuários conforme pesquisam por algo – apesar dos esforços da plataforma em coibi-los.
A exposição prolongada a esse tipo de mídia não só intensifica a polarização como reduz a capacidade de disposição dos espectadores de distinguir a verdade da invenção. Um exemplo disso é que dermatologistas estão enfrentando problemas com trends virais do TikTok incentivando as pessoas a não usarem mais protetor solar.
O sol emite radiação continuamente. Os raios UV são uma parte do espectro eletromagnético de radiação que chega à Terra e é conhecido por ter efeitos benéficos e prejudiciais. Quando alguém se expõe à luz solar, a radiação UV estimula a produção de vitamina D necessária para fazer uma manutenção saudável dos ossos e músculos do corpo. Por outro lado, o excesso de exposição pode causar problemas a curto e longo prazo, desde queimaduras a envelhecimento precoce e câncer.
Antes de atingir a superfície da Terra, grande parte da radiação UV é absorvida pela atmosfera e pela Camada de Ozônio presente na estratosfera, evitando que os raios solares sejam mais lesivos do que já são. No entanto, as emissões globais de CO2, que atingiram 40 bilhões de toneladas em 2023, são responsáveis por destruir essa camada a cada dia e nos tornar mais suscetíveis a queimaduras solares, manchas senis e ao câncer de pele ao longo da vida.
Ou seja, mais do que nunca, o protetor solar facial e corporal se tornou um produto extremamente importante para a manutenção da saúde humana.
Essa nova trend do TikTok afirma erroneamente que o protetor solar é desnecessário e que impede que a pessoa obtenha exposição natural suficiente à luz solar, além de conter produtos químicos potencialmente nocivos à saúde.
“Pare de usar protetor solar, ele está mexendo e alterando seus hormônios e afetando negativamente sua pele”, disse Halli Smith, uma influencer do TikTok com 1,2 milhão de seguidores.
“Quanto mais tempo você passa ao ar livre, menor a probabilidade de se queimar de sol”, alegou o jovem da conta @sovrnknight, em um vídeo sob o sol, sem camiseta, ao seu público de quase 90 mil seguidores e mais de 11 milhões de curtidas.
Em outras alegações, esses influenciadores com milhares de seguidores – e nenhum conhecimento científico ou formação especializada na área – declaram que o sol não causa câncer e que resfriar sua pele pode prevenir queimaduras solares. Esse tipo de fala vai simplesmente contra décadas de pesquisas sobre os perigos da exposição solar e o papel do protetor solar na vida humana.
Não apenas isso, também reforça um estigma de desinformação enorme que ainda existe ao redor do produto. Uma pesquisa realizada recentemente pelo Orlando Health Cancer Institute descobriu que cerca de um em cada sete adultos com menos de 35 anos achavam que o uso diário de pretor solar é mais prejudicial à pele do que a exposição direta ao sol. Quase um quarto (23%) acreditava que beber água e manter-se hidratado de alguma forma evitaria queimaduras solares.
De acordo com David Andrews, cientista sênior do Environmental Working Group, ou EWG, uma organização de consumidores que defende a segurança do protetor solar, os protetores solares químicos possuem elementos preocupantes, como homossalato e oxibenzona, ambos utilizados como filtro solar. O problema é que a pele não é uma barreira perfeita e esses ingredientes (e qualquer outro) são absorvidos por ela ao longo do tempo e podem chegar na corrente sanguínea. Porém, isso não significa que não sejam seguros de usar.
O que a indústria e o Food and Drug Administration (FDA) se empenham é em encontrar alternativas para impedir os efeitos nocivos do produto a longo prazo aconteça e reduzir cada vez mais a quantidade dos químicos sem perda significativa em sua efetividade. Até lá, testes de segurança apropriados precisam ser realizados rigorosamente pelos fabricantes.
"A presença desses ingredientes no plasma não sugere um problema de segurança e não houve eventos adversos graves relacionados a medicamentos relatados no estudo", disse o Conselho de Produtos de Cuidados Pessoais e a Associação de Produtos de Saúde do Consumidor, em comunicado oficial.
Aqueles que não se sentem confortáveis em usar protetor solar químico podem optar por produtos à base de minerais, que o FDA determinou serem geralmente considerados seguros e eficazes na mesma proporção.
A Skin Cancer Foundation estimou que um em cada cinco americano desenvolverá câncer de pele até os 70 anos. Com as gerações mais jovens já não se protegendo adequadamente do sol, a disseminação de informações falsas ou distorcidas pode prejudicar ainda mais essa estimativa alarmante.