Ciência
30/08/2024 às 18:00•2 min de leituraAtualizado em 30/08/2024 às 18:00
Considerado por muitos como uma das relíquias sagradas mais importantes do cristianismo, o Sudário de Turim (ST), um pano de linho antigo que supostamente teria servido como mortalha de Jesus Cristo após a crucificação, esteve nos trending topics das mídias sociais na semana passada. O foco foi um estudo de 2022 que sugeria "que é muito provável que o ST seja uma relíquia de cerca de 20 séculos de idade", o que o colocaria na época de Jesus.
Publicado na revista científica Heritage, a pesquisa conduzida pelo cientista italiano Liberato De Caro teve como objetivo oferecer uma alternativa à idade do ST, após a peça ter sido submetida a uma datação por radiocarbono na década de 1980, que indicou sua criação entre os anos de 1260 e 1390, ou seja, muito depois de Cristo ter vivido.
Para reavaliar esses testes, De Caro e sua equipe do Instituto de Cristalografia de Bari, Itália, aplicaram no artefato uma técnica conhecida como dispersão de raios X em ângulo amplo (WAXS na sigla em inglês). A tecnologia é capaz de identificar alterações estruturais microscópicas nas fibras, ocorridas com o envelhecimento.
No estudo de 2022, os autores explicam que "o grau de envelhecimento natural da celulose que constitui o linho da amostra investigada, obtido por análise de raio-x, mostrou que o tecido é muito mais antigo do que os sete séculos propostos pela datação por radiocarbono de 1988", escrevem De Caro e sua equipe.
A justificativa é que a celulose encontrada nas fibras do sudário teria envelhecido mais devagar a partir do século 14 devido às baixas temperaturas dos locais onde a relíquia passou a ser guardada, o que retardou seu processo de envelhecimento.
Os autores alertam que a precisão dos seus resultados depende de pesquisas futuras que possam confirmar que o ST foi mantido em uma temperatura média de cerca de 22 °C e a uma umidade relativa de aproximadamente 55% durante os 13 séculos em que não apareceu no registro histórico.
Embora o estudo de De Caro e sua equipe tenha sido adequadamente conduzido na época, e depois revisto por pares, mais pesquisas e análises serão necessárias para comprovar esses resultados, antes que qualquer tipo de conclusão sobre a datação seja tirado.
Além disso, um artigo de 2018 de coautoria do mesmo De Caro teve que ser retratado pela revista PLOS One, depois que os pesquisadores sugeriram que o sudário tinha evidências biológicas consistentes com um trauma grave em um ser humano (como tortura e crucificação). O problema foi que os autores "esqueceram" de mencionar que as amostras haviam sido fornecidas pela própria associação que tenta provar que o sudário é autêntico.
Nesse sentido, a Igreja Católica não reconhece oficialmente o sudário de Turim como autêntico ou falso.