Ciência
25/09/2013 às 11:06•4 min de leitura
Você tem o costume de olhar para os lados e observar as pessoas que estão ali, pertinho, atravessando a rua, esperando pelo ônibus, olhando vitrines, fazendo malabarismos no semáforo, saindo do shopping com sacolas nas mãos, brincando com crianças na pracinha? Essas pessoas todas existem e estão sempre à sua volta, você é que talvez não as veja. A culpa dessa “cegueira” não é sua, não. É, talvez, da pressa para chegar ao trabalho, dos fones de ouvido, da preocupação com a conta da internet e por aí vai.
Uma das características dessa modernidade toda a qual estamos “presos” é justamente a falta de tempo para reparar nas coisas que estão ao redor. Se você vive em uma grande cidade, é bem possível que nem saiba o nome da pessoa que mora no apartamento ao lado; bem diferente daquela sua avó que reside no interior e parece saber o nome da metade dos moradores de sua cidade.
Fonte da imagem: Reprodução/HumansofNewYork
Se você, por algum motivo, se incomoda um pouco com essa sensação de ser apenas mais um na multidão, talvez goste do trabalho desenvolvido por um fotógrafo chamado Brandon. Em 2010, ele teve a ideia de fazer uma espécie de censo fotográfico, com vários rostos que perambulavam pela cidade de Nova York. Com o passar do tempo, a ideia evoluiu um pouco e o projeto de Brandon, intitulado “Humans of New York” – “Humanos de Nova York”, em uma tradução livre – ganhou uma nova cara.
Brandon reparou que cada pessoa, além de ter um rosto diferente, tem uma história diferente também, e que a combinação dessas duas características poderia ser bem interessante. As fotos começaram, então, a contar pequenas histórias de cada pessoa, fazendo com que a identidade das imagens ganhasse um ar poético. O projeto tem uma página no Facebook e já conta com mais de 1,3 milhão de seguidores.
O sucesso do trabalho tem muito a ver com a falta de tempo, citada ao começo do texto, e com a capacidade que pequenos relatos têm de nos fazer lembrar que a pessoa que cruza por você na rua tem uma história de vida e provavelmente algo interessante a dizer sobre ela. A seguir, confira algumas dessas fotos e as traduções livres de seus depoimentos:
Fonte da imagem: Reprodução/HumansofNewYork
“Não me diga o que fazer e eu não vou dizer a você o que fazer. Esse é o meu lema. Eu tenho várias opiniões sobre as decisões dos membros da minha família, mas eu nem sempre ofereço essas opiniões, a não ser que eles me peçam. E é por isso que eu ainda sou convidada para as festas”.
Fonte da imagem: Reprodução/HumansofNewYork
“Eu vim para cá para tentar ser músico ou ator, mas às vezes eu temo sofrer algum tipo de delírio de grandeza. Parece que todo meu tempo e meu dinheiro, que eu deveria usar em meus trabalhos criativos, são usados apenas para tentar sobreviver”.
Fonte da imagem: Reprodução/HumansofNewYork
“Independe de quando eu me apresentava no parque, Doris aparecia e assistia um pouco. Então, um dia, ela veio até mim e, sem nunca ter falado comigo, entregou-me um artigo que ela tinha achado sobre mim no [jornal] The Villager. Eu achei aquilo uma coisa bacana e então eu tirei uma foto com ela, imprimi e entreguei a ela no dia seguinte. Então, um dia depois disso, ela trouxe para mim outros artigos que falavam sobre marionetes. Nessa altura, eu realmente comecei a gostar dela e, então, eu pensei: ‘Doris continua fazendo coisas legais para mim, então eu devo fazer algo realmente bacana para ela”.
E ele fez: uma Doris em versão marionete!
Fonte da imagem: Reprodução/HumansofNewYork
“Ele não é tão aventureiro como eu sou. Ele realmente gosta de sua rotina, mas se eu um dia quiser tentar algo novo, como isso aqui, ele vai se vestir e carregar a cesta de piquenique”.
Fonte da imagem: Reprodução/HumansofNewYork
“Ter câncer não foi nem de perto tão ruim quanto o medo de ter câncer”.
Fonte da imagem: Reprodução/HumansofNewYork
Fotógrafo: O que é que os adultos não deveriam fazer?
Menino: Punir crianças. E guerra.
Fonte da imagem: Reprodução/HumansofNewYork
Fotógrafo: Se você pudesse dar um conselho para um grande grupo de pessoas, o que seria?
Homem: Seja otimista.
F: Qual foi o período mais difícil que você viveu com otimismo?
H: Dois meses atrás, quando fui diagnosticado com câncer de próstata.
F: Qual foi a sua resposta inicial?
H: Depressão, ansiedade, medo. Eles descobriram isso muito tarde. Felizmente, não tão tarde assim, mas tarde. Algumas vezes, quando eu estava andando pelas ruas, eu desejava simplesmente levar um tiro ou ser atropelado por um ônibus. Meu pai morreu de câncer de próstata quando eu tinha 12 anos, então eu pensei que morreria também.
F: Então como você tem passado por esses sentimentos?
H: Indo trabalhar todos os dias e tomando um drinque todas as noites.
Fonte da imagem: Reprodução/HumansofNewYork
“Meus alunos estavam preocupados porque eu não usava capacete, e eles sabiam que eu amava laranja. Então eles fizeram isso para mim”.
Fonte da imagem: Reprodução/HumansofNewYork
Fotógrafo: Qual foi o momento mais feliz da sua vida?
Mulher: Europa, no verão de 1959.
F: O que aconteceu lá?
M: Eu tinha 19 anos e havia emagrecido 45 kg e contava com muitas novas roupas. Eu andei por Paris e Roma e todo mundo estava me olhando com mais atenção – chegaram a me perguntar quem era meu fotógrafo! É claro que por dentro eu ainda me sentia como uma estranha menina acima do peso. Aquilo era absurdo e maravilhoso!
F: Por que você foi para a Europa?
M: Para fazer sexo, claro. E eu fiz! Eu fui a primeira de todo o meu grupo de amigos. Voltei para casa e contei para todo mundo que eu tinha feito com um francês charmoso. Na verdade, foi um cara estranho de Chicago.
Fonte da imagem: Reprodução/HumansofNewYork
“Estou tentando ilustrar um sonho que tive na última noite”.
Fonte da imagem: Reprodução/HumansofNewYork
Mulher: Eu pedi minha noiva em casamento antes de conhecê-la pessoalmente.
Fotógrafo: Como isso aconteceu?
M: Bem, ela vive na Austrália. Nos conhecemos pelo Instagram e então, pelos próximos três meses, nós conversamos por telefone todas as noites. E então eu a pedi em casamento pelo Skype.
F: Então você não a conheceu pessoalmente ainda?
M: Ah, sim, na verdade ela esteve em Nova York pelos últimos três meses. Ela acabou de voltar para a Austrália para pegar as coisas dela. Nós já temos nosso próprio apartamento. E um cachorro.
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