Saúde/bem-estar
29/08/2020 às 13:00•3 min de leitura
Logo após a Segunda Guerra Mundial, o mundo ficou dividido e destruído. Enquanto nazistas ainda eram caçados e punidos, um grupo de cientistas alemães alinhados aos ideais de Adolf Hitler foi trabalhar com pesquisa nos Estados Unidos. Chamada de Operação Paperclip, esta foi uma das mais controversas resoluções pós-guerra.
Com medo de que essas mentes pensantes pudessem fortalecer a União Soviética, os EUA concederam imunidade para cerca de 1,6 mil cientistas. Suas conquistas solo norte-americano foram inúmeros, incluindo a de levar o homem à Lua a bordo da Apollo 11. Mas por mais que tenham contribuído para o avanço das ciências, a decisão do país gera polêmicas até hoje.
Esses profissionais haviam sido convocados pela Alemanha para integrar um grande time que iria desenvolver estratégias contra o exército soviético, em 1943. Matemáticos, engenheiros e cientistas foram reunidos na região do porto de Peenemünde, no norte do país, e precisavam ser no mínimo complacentes com os ideais nazistas.
O responsável pela seleção da equipe foi Werner Osenberg, um cientista de materiais e armamentos que trabalhava a serviço do exército alemão. Seus recrutados passaram a fazer parte do que ficou conhecido como a Lista de Osenberg e deveriam desenvolver armas químicas para o Partido Nazista. Tanto ele quanto diversos outros estavam entre os que receberam a imunidade norte-americana logo após o fim do conflito armado.
Wernher von Braun foi um dos mais celebrados cientistas da Lista de Osenberg
Quando os EUA descobriram o plano nazista de desenvolver uma arma biológica com a peste bubônica, eles acharam que isso ficaria melhor em suas mãos. Foi então que começou a Operação Paperclip, que pretendia levar os cientistas para o país. O problema: quem eram essas pessoas?
Em março de 1945, um técnico de laboratório polonês descobriu um pedaço da Lista de Osenberg e entregou a oficiais da inteligência do país americano. A lista com os nomes estava escondida em um banheiro da Universidade de Bonn.
A ideia, a princípio, era só interrogar esses pesquisadores. Essa era a Operação Nebulosa, mas, conforme as investigações e depoimentos, foi descoberto que o avanço científico nazista estava muito evoluído. Assim, os EUA passaram a considerar ter aquelas mentes nazistas trabalhando a seu favor.
Em maio de 1945, o exército norte-americano invadiu a base secreta no porto de Pennemünde e sequestrou os cientistas que estavam por lá. Na época, eles estavam desenvolvendo o foguete V-2, o primeiro míssil guiado de longo alcance da história. O presidente Harry Truman apoiou a “contratação” desses pesquisadores alemães, desde que não fossem nazista. Como esse não era o caso, foi preciso dar um jeitinho nas regras.
Corrida espacial dos EUA contou com inteligência nazista
A JIOA, que acabou virando a CIA, foi a responsável pelo translado desse pessoal aos EUA. Ela sabia que eles eram nazistas, mas ocultou essa informação dos relatórios, deixando que a “descoberta” fosse apenas em solo americano. Ainda assim, muitas evidência da ligação dessas pessoas com o Partido Nazista foram apagadas do registro, a fim de permitir a entrada no país.
Um dos cientistas era ninguém menos que Wernher von Braun, que viria a se tornar o diretor do Centro de Voos Espaciais George C. Marshall, da NASA. Só que enquanto estava na Alemanha, o cientista de foguetes escravizou prisioneiros de campos de concentração em seus projetos – muitos morreram de estafa ou fome. Braun foi tão importante que quase recebeu uma Medalha Presidencial da Liberdade das mãos do presidente Gerald Ford, que ouviu um consultor e desistiu da homenagem.
O departamento de Braun estava cheio de cientistas nazistas. Mesmo após a descoberta de seu passado, ele não foi condenado. Sua importância na corrida espacial o transformou em uma espécie de herói, tanto que ele morreu em paz, em 1977, vítima de um câncer no pâncreas. Outros não tiveram a mesma sorte: o químico favorito de Hitler, Otto Ambros, foi condenado por genocídio e escravidão pelo Tribunal de Nuremberg, mas recebeu clemência por sua contribuição na exploração espacial dos EUA.
Muitas das ações desses cientistas permanece secreta até hoje. A jornalista Annie Jacobsen trouxe muitas histórias à tona em seu livro Operação Paperclip, de 2014. Outros escritores e pesquisadores tentam acessar dados dessa operação, mas não obtiveram êxito. Até hoje se questiona se os EUA fizeram errado em dar clemência aos pesquisadores nazistas ou se isso foi algo acertado, já que eles tiveram muitos avanços científicos no país.