Artes/cultura
09/10/2020 às 10:00•2 min de leitura
Na manhã de 15 de abril de 1865, o então presidente dos Estados Unidos, Abraham Lincoln, morreu após levar um tiro enquanto acompanhava uma peça de teatro. O tiro, disparado por John Wilkes Booth no Ford Theatre na noite anterior, entrou para o imaginário do público inclusive pela falta de materiais de registro visual sobre a época — restando apenas relatos descritivos e ilustrações sobre as últimas horas do presidente, que foi o primeiro da história do país que deixou o cargo por ser assassinado.
Agora, um documentário prestes a estrear nos EUA pode revelar um material inédito: a suposta última foto de Abraham Lincoln, já em seu leito de morte, enquanto era tratado após o tiro na Peterson House, que ficava em frente ao teatro.
A investigadora Whitny Braun, designada para descobrir se a imagem é real, alega ter “99% de certeza” de que a foto é verídica após dois anos de avaliação. Ela mostra Lincoln ainda vivo, porém com o rosto praticamente sem expressão e o olho direito inchado. Horas depois, ele não resistiria aos ferimentos — e apenas outra foto do momento sobreviveu, porém tirada de longe de bastante borrada.
Porém, a imagem é bastante contestada por historiadores, escritores e especialistas no período da presidência de Lincoln. Alguns profissionais, consultados pelo atual dono do retrato, notam semelhanças com traços da face do político, inclusive uma cicatriz sutil próxima ao lábio inferior. Outros contestam alguns dos detalhes da imagem, assim como a comparação com informações de diários e documentos oficiais.
O autor Harold Holzer, por exemplo, escreveu em 1984 a obra “The Lincoln Image: Abraham Lincol and the Popular Print” com a análise de 130 fotos do presidente. De acordo com ele, após o tiro, Lincoln estava sem roupas para que os médicos procurassem por outros ferimentos. Além disso, ele questiona o método do ambrótipo para revelar a fotografia, pois ele já estava fora de moda, e a iluminação, que está em condições boas até demais. Até mesmo a barba estaria mais volumosa do que a relatada por testemunhas.
“Nem todo homem usando barba fotógrafo após 1861 era Abraham Lincoln. Vai levar algum tempo para mim para levar isso a sério. Não bate”, afirma o especialista, consultado pela ABCNews.
A foto pertence a Jerald Spolar, um dentista, e teria sido tirada em segredo por um fotógrafo profissional chamado Henry Ulke. A foto teve a divulgação proibida pelo secretário de guerra ,Edwin Stanton, que era contra a divulgação da imagem do presidente naquele estado, e foi enviada para a família da mãe de Lincoln, Nancy Hanks.
Ao morrer, em 1986, Nancy vendeu uma coleção de artefatos a uma casa de leilões que incluíam o retrato, junto a um bilhete que o nomeia como “primo Abe”. Porém, o colecionador, Larry Davis, alega que a foto foi roubada por sua ex-esposa e vendida a Spolar, que agora é processado por manter uma propriedade roubada que pode valer mais de US$ 2 milhões — assim como outros itens relacionados à figura de Lincoln.
A foto atualmente está armazenada em um depósito seguro no estado norte-americano de Illinois. Ela ainda não foi divulgada por completo: somente o trecho que ilustra esta matéria foi liberado pela emissora até agora. O documentário “The Lost Lincoln” estreia nesta sexta-feira (9) nos EUA, no Discovery, e não tem previsão de chegar ao Brasil.