Mistérios
08/02/2021 às 15:00•4 min de leitura
Quando Kenneth Arnold decidiu se tornar piloto, sua única intenção era poder oferecer algum tipo de ajuda, por isso ingressou no grupo de busca e resgate aéreo Search and Rescue Mercy – mas o futuro lhe reservava coisas mais interessantes.
Nascido em 29 de março de 1915 na cidade de Sebeka, condado de Minnesota (EUA), ele chegou a abrir uma empresa que vendia e instalava sistemas anti-incêndio na cidade de Idaho, em 1940. O ofício o levou para muitos lugares, porém a sua paixão pelos ares sempre falou mais alto: ele era considerado um piloto habilidoso e muito perspicaz, com aproximadamente 9 mil horas de voo, das quais quase 7 mil horas foram dedicadas aos esforços de resgate.
Se hoje existe toda uma cultura ao redor da existência de vida extraterrestre e de Objetos Voadores Não Identificados (óvnis), é graças ao que Kenneth Arnold viu no céu e resolveu contar a Al Baxter, seu melhor amigo.
Tudo começou em 24 de junho de 1947, quando Kenneth voava pela região de Monte Rainier, indo de Chehalis (Washington, EUA) para sua casa em Yakima (Washington, EUA) em sua aeronave CallAir A-2. Por volta de 15h, ele avistou uma luz piscando a distância, como se refletisse em um espelho, que logo depois sumiu.
Instantes mais tarde, ao norte, o piloto identificou nove pontos de luz que se moviam. À princípio, ele considerou que pudessem ser reflexos do sol nas janelas de seu avião, então movimentou a aeronave de um lado para o outro e chegou a abrir a janela lateral, porém nada mudou. Conforme se aproximavam e entravam em foco, Kenneth percebeu que as luzes navegavam juntas, uma atrás da outra e a uma rápida velocidade, portanto ele chegou à conclusão de que poderia ser um novo tipo de caça a jato do exército em fase de teste. O piloto até procurou pela cauda da suposta aeronave, mas sem sucesso.
De acordo com a descrição que Kenneth fez mais tarde, as naves chegavam a se “alongar” conforme aumentavam de velocidade, adquirindo uma aparência achatada e meio convexa. No Relatório Sobre a Onda de óvnis de 1947, escrito por Ted Bloecher e lançado em 1967, constavam entrevistas de Kenneth Arnold alegando que as naves estavam a 8 quilômetros de distância dele, e disse que “se moviam como discos pulando sobre a superfície da água”.
Além disso, o piloto disse que as luzes “ondulavam de um lado para o outro como a cauda de uma pipa chinesa”. Elas disparavam por entre os vales e contornavam os picos das montanhas menores, girando e dobrando em suas bordas conforme faziam manobras.
Enquanto observava, Kenneth notou que essas naves demoravam 1 minuto e 42 segundos para irem do Monte Rainier até o Monte Adams, que ficam a 80 quilômetros de distância um do outro. Em um cálculo grosseiro, ele estipulou que as naves voavam a uma velocidade de 2.735 quilômetros por hora, o equivalente ao dobro da velocidade do som e 3 vezes mais rápido do que qualquer aeronave existente daquela época. De tão absurdo, ele mesmo não conseguiu se convencer do próprio cálculo.
O fenômeno todo demorou pouco mais que 2 minutos, até que as naves desaparecessem em sua “velocidade supersônica” em direção ao Oregon. Embora tivesse em mente que poderia ser um voo de teste de uma tecnologia extremamente avançada, Kenneth não conseguiu abandonar a sensação estranha que o episódio lhe causara.
Impressionado, às 16h Kenneth pousou em Yakima e contou o que havia testemunhado para Al Baxter. Logo depois, viajou para Pendleton, no Oregon, para um espetáculo aéreo, e esse foi o tempo de sua história se espalhar rapidamente pela comunidade de pilotos. Ninguém debochou de seu avistamento, muito pelo contrário, os amigos e as pessoas incentivaram o piloto a levar seu relato para o exército e para a imprensa.
Kenneth não precisou fazer nada: foi convocado para comparecer ao escritório do jornal East Oregonian no dia seguinte para dar mais detalhes de sua história. Em 25 de junho de 1947, ele usou pela primeira vez as palavras “objetos voadores” e “não identificados” para um repórter. Em momento algum o entrevistador desconfiou das palavras do homem, principalmente porque ele era muito seguro em suas palavras, descrevendo tudo nos mínimos detalhes e indo e voltando em sua narração sem se contradizer.
Além disso, o relato de Kenneth foi corroborado por um relatório das Forças Armadas Aéreas de Inteligência (AAF), datado de 24 de junho daquele mesmo ano, em que um garimpeiro chamado Fred Johnson teria enviado uma carta alegando ter visto 6 objetos voadores perto do Monte Rainier, que viajavam muito rápido e desregulavam sua bússola. Ironicamente, a Força Aérea arquivou apenas esse relato e não o de Kenneth, embora servisse como uma continuação para o que o garimpeiro havia visto.
Seres extraterrestres estarem realizando visitas ao planeta em “naves espaciais avançadas” foi algo que movimentou governos no início da Guerra Fria, mexeu com a cabeça das pessoas com assuntos sobrenaturais, resgatou o sentimento do arrebatamento cristão e também da possibilidade de colonização.
Com a repercussão do relato, o impacto positivo na vida de Kenneth foi a quantidade de cartas que recebeu de pessoas de várias partes do país desfiando suas teorias e tecendo interpretações, o que o incentivou a comprar uma máquina fotográfica para não perder mais nenhum avistamento.
Contudo, não demorou muito para que ele passasse a desfrutar do lado ruim da fama. Primeiro, ele sofreu com os detalhes distorcidos adicionados por um editor em uma das entrevistas que deu: ele nunca teria dito “disco voador”, por exemplo, e argumentou que essas palavras foram mal-entendidas pelo jornalista enquanto descrevia o formato que as luzes adquiriam quando se deslocavam. O piloto deixou claro que as naves se assemelhavam a pratos e discos, e não que de fato possuíam esse formato.
A essa altura, Kenneth já havia se transformado em uma espécie de vidente e também “símbolo de agouro”. Em certa ocasião, um pastor conseguiu ligar para sua casa e dizer que os objetos que ele viu eram “arautos do juízo final” e que, por isso, ele já estava preparando sua congregação para o fim do mundo. Em outro caso, uma garçonete de um café em Pendleton saiu correndo e gritando que “lá estava aquele que viu os homens de Marte” e que ele “faria alguma coisa às crianças”. Esse tipo de situação o assombrou por diversas vezes, por isso ele nunca mais teve paz.
Os Estados Unidos foram infestados por uma “pandemia de avistamentos” que só foi aumentando quanto mais o assunto de óvnis era requentado pela mídia. As pessoas que escreviam para os jornais de todo o país descreviam sempre terem visto “objetos em forma de discos”. Só nos 6 últimos meses de 1947, Ted Bloecher coletou mais de 853 histórias de avistamentos em seu relatório.
No final das contas, foi como uma matéria do Houston Chronicle apontou: “as pessoas queriam tanto ver algo no céu, que enxergavam o que não havia”. Essa obsessão midiática e social, porém, não impediu que as Forças Armadas dos Estados Unidos dessem início ao Projeto Sinal, focado em um processo ultrassecreto de investigação de óvnis.