Ciência
23/03/2021 às 15:00•4 min de leitura
É necessário voltar 8 meses no tempo de 1943 para entender o motivo dessa pergunta— que assombrou uma cidade inteira a ponto de ter sido pichada em um prédio vazio de Old Hill, em West Midlands, Inglaterra, perto do gélido Natal daquele ano.
Quando já começava a anoitecer naquele 18 de abril de 1943, no apogeu da Segunda Guerra Mundial, quatro amigos adolescentes – Bob Hart, Tom Willetts, Fred Payne e Bob Farmer – moradores do vilarejo de Hagley, em Worcestershire, Inglaterra, saíram pela floresta para caçar passarinhos com seus cães e fazer qualquer coisa que desviasse seus pensamentos de um possível bombardeio alemão.
(Fonte: Monumental Trees/Reprodução)
Sedentos por um pouco mais de emoção, os garotos decidiram invadir a floresta Hagley Wood, que pertencia a Lord Cobham, nos campos de Wychbury Hill, dispostos a fugirem da provável fúria dos guardas do local. Foi Bob Farmer quem se deparou com um olmeiro (uma espécie de árvore típica da Europa chamada de “wych elm”) e quis escalá-lo à procura de um ninho de pássaro. Ele colocou a mão dentro do tronco oco da árvore e tirou um crânio vazio. Por uma fração de segundos, o jovem pensou que fosse de um animal, porém acabou notando as órbitas vazias e grandes, os tufos de cabelo grudados e os dentes tortos que se projetavam da boca.
Rapidamente, Farmer devolveu o crânio para o buraco, e os quatro garotos fugiram do local, prometendo que jamais contariam para ninguém o que haviam encontrado por medo de que fossem responsabilizados por algo.
(Fonte: Birmigham Mail/Reprodução)
Contudo, o peso do segredo foi demais para Tom Willetts, que acabou contando para seu pai o que ele e os amigos encontraram. Na manhã seguinte, o homem contatou a Força Policial do Condado de Worcestershire, que foi visitar o local do olmeiro. Eles descobriram não só o crânio, mas também os restos do corpo que já estavam entranhados na árvore. Foi necessário que um lenhador a derrubasse para poder escavar o cadáver por completo.
Foram encontrados uma aliança de ouro barato e sapatos de sola de crepe a uma curta distância dos ossos. As roupas que pendiam da caveira eram de baixa qualidade, o que podia indicar que a vítima era alguém pobre. Havia um tecido de tafetá enfiado bem no fundo da boca do crânio, indicando um possível sufocamento. O detalhe mais perturbador e marcante, porém, foi o fato de o corpo não possuir uma das mãos.
(Fonte: Express/Reprodução)
O exame do patologista, professor James Webster, chefe do Laboratório de Ciência Forense de Home Office, em West Midlands, concluiu que se tratava de uma mulher de aproximadamente 35 anos, de cabelos castanhos claros, medindo 1,52 de altura, e que havia sido morta há 1 ano e 6 meses, por volta de outubro de 1941. Analisando os ossos pélvicos, o médico identificou que ela havia dado à luz alguma vez. Ela também possuía uma mandíbula superior irregular que cruzava com os dentes inferiores.
Sem sinais de doença ou qualquer tipo de trauma, foi determinado que a mulher morreu por asfixia, e que seu corpo foi colocado dentro da árvore enquanto ela ainda estava viva ou instantes após sua morte, visto que o rigor mortis não teria permitido que a árvore desmembrasse tanto o cadáver ao longo do tronco.
(Fonte: Atlas Obscura/Reprodução)
A investigação da polícia começou contatando todos os dentistas locais na esperança que um deles reconhecesse alguém que possuía aquela mesma anomalia dentária do cadáver. Um esboço das roupas e uma espécie de retrato falado que incluía todas as características da mulher foram divulgados publicamente pelos jornais de toda a cidade, e o caso ficou conhecido como o “Enigma do Assassinato da Árvore”.
Eles fizeram uma varredura nos registros de pessoas desaparecidas para ver se encontravam algum relato correspondente à descrição da mulher, mas não chegaram a lugar nenhum. Todos os esforços foram para nada. Apenas os sapatos dela levaram até a fábrica Waterfoot Company, em Lancashire. Os investigadores conseguiram entrar em contato com os proprietários de todos os sapatos de sola de crepe, exceto os donos de 6 pares, que foram vendidos em uma banca de rua em Dudley, a 18 km de Birmingham.
No entanto, conforme os meses foram se passando, o caso sem pistas foi ficando cada vez mais frio e ofuscado pelos horrores da guerra. Mais preocupada com os conflitos mundiais, a polícia acabou deixando a investigação de lado, até que 8 meses depois, perto do Natal de 1943, eles receberam um alerta de uma pichação em letras garrafais em um prédio vazio da cidade de Old Hill: “Quem colocou Luebella no olmeiro?”
(Fonte: The Objective/Reprodução)
Foi a primeira vez que um nome foi atribuído ao cadáver da mulher. Nas semanas seguintes, mais pichações semelhantes apareceram, todas escritas a mão com a mesma letra e em giz branco, o que indicava serem feitas pela mesma pessoa. Logo o nome "Luebella" apareceu também como "Bella", deixando os investigadores ainda mais confusos. Quem era o autor por de trás da pergunta? Por que ele não havia contatado a polícia?
O final da década de 1940 foi marcado por um número crescente da mesma pergunta por todos os lugares, o que fez a polícia questionar se se tratava de pistas ou provocações. Não demorou muito para que o caso ganhasse repercussão nacional, fazendo com que todos mostrassem interesse em saber por que Bella foi colocada no olmeiro.
(Fonte: Stourbridge News/Reprodução)
Naturalmente, diversas teorias surgiram ao longo dos anos em uma tentativa de conseguir determinar quem era Bella. Foi sugerido que a mulher foi uma vítima de estupro, uma prostituta, uma cigana condenada por suas práticas, e até mesmo que foi morta durante um ritual de magia negra. Inclusive, cogitaram que a sua mão decepada se referia a um ritual chamado “Mão da Glória”, cujo intuito é transferir o poder de um criminoso morto para alguém vivo.
Uma vez que o olmeiro possui um longo passado relacionado à bruxaria, não demorou para que as pessoas apontassem que Bella era uma bruxa, sobretudo com a teoria de que o espírito maligno de uma bruxa pode ser conservado em seu cadáver se for colocado em uma árvore oca feito o olmeiro.
(Fonte: British Newspaper/Reprodução)
O mais perto que as especulações chegaram foi de uma mulher chamada Clarabella Dronkers, que tinha aproximadamente 30 anos e dentes irregulares, e que supostamente era esposa de um espião holandês que estava nos arredores de Midlands durante a blitz de Birmigham, em 1940. Clara Bauerle, envolvida com espionagem nazista, desapareceu em 1941 e foi confirmado que ela também possuía uma dentição incomum. No entanto, nenhuma relação poderosa o suficiente foi encontrada entre nenhuma delas.
Bella nunca foi identificada, tampouco o autor por de trás da pergunta de quem a teria a colocado no olmeiro. Ainda assim, por muitos anos a pichação assombrou os prédios de toda a região central da Inglaterra, principalmente no Obelisco de Wychbury, em Birmingham.