Artes/cultura
07/04/2021 às 03:00•2 min de leitura
Em 1994, em um jantar de premiação anual sediado pela American Association For Forensic Science, em San Diego (EUA), o então presidente, Don Harper Mills, simplesmente mudou as perspectivas de análise forense de uma cena de um crime e do Direito Penal norte-americano com o intricado caso de Ronald Opus.
A história ganhou uma repercussão tão grande que se instalou como uma lenda urbana na sociedade, fazendo Mills ter que explicar publicamente que o caso era uma história ilustrativa que servia apenas para mostrar como diferentes consequências jurídicas podem sofrer reviravoltas inesperadas em um inquérito de homicídio. A partir disso, a anedota de Mills se tornou parte da disciplina de Direito das universidades nos Estados Unidos, e é alvo de pesquisas até hoje.
(Fonte: Onedio/Reprodução)
Em 23 de março de 1994, o legista que examinava o cadáver de Ronald Opus concluiu que ele morreu de um tiro de espingarda na cabeça, muito embora sua intenção fosse cometer suicídio, para o qual ele havia deixado um bilhete e por isso, decidira pular do topo de um prédio de 10 andares, sem imaginar haver uma rede no 8º andar erguida para proteger limpadores de janelas de quedas acidentais. Ou seja, muito provavelmente, Opus não conseguiria ter concluído sua intenção por causa desse detalhe.
No entanto, durante sua queda, quando passou pelo 9º andar, ele recebeu o tiro fatal na cabeça, disparado através de uma janela por um idoso que discutia com sua esposa e ameaçava atirar nela com sua espingarda, que simplesmente disparou e atingiu o suicida em queda de maneira acidental.
(Fonte: Dusty Old Things/Rerpdoução)
“Normalmente, uma pessoa que se propõe a cometer suicídio e acaba tendo sucesso, mesmo que o mecanismo não tenha sido o que pretendia, é definido como suicídio”, explicou o Dr. Mills. “O fato de ele ter sido baleado a caminho da morte, não mudaria seu modo de morte de suicídio para homicídio. Contudo, o fato de sua intenção suicida não ter sido alcançada em nenhuma circunstância, fez com que o legista sentisse que ele tinha um homicídio em mãos”.
Por via de regra, quando alguém pretende matar o sujeito A, mas acerta o sujeito B na tentativa, é culpado do assassinato. O idoso foi confrontado com essa conclusão, mas ele e a esposa alegaram que nenhum dos dois sabiam que a espingarda estava carregada, pois o homem tinha o hábito de ameaçar a esposa com a arma descarregada. Visto que ele não tinha intenção de matá-la, o assassinato do falecido parecia então ter sido um acidente.
(Fonte: Pixabay/Reprodução)
Uma investigação aprofundada revelou que uma testemunha viu o filho do casal carregando a espingarda há 6 semanas do acidente fatal, isso porque a mãe havia cortado a mesada dele – e o jovem sabia que o pai tinha o mau hábito de usar a espingarda de maneira ameaçadora contra a esposa. Então, o caso se tornou um homicídio por parte do filho pela morte de Opus.
Mas, por incrível que pareça, os investigadores descobriram que Ronald Opus, na verdade, era o próprio filho do casal que cometeu suicídio por estar desanimado com o fracasso de suas tentativas de assassinar sua mãe, e que morreu com um tiro disparado pelo seu próprio pai na arma que ele mesmo havia carregado.
O legista chegou à conclusão de que Ronald Opus foi o responsável pelo seu próprio homicídio. Assim, o caso fictício foi encerrado.