Ciência
16/04/2021 às 15:00•3 min de leitura
Na manhã de 30 de agosto de 1914, Paris foi bombardeada pela primeira vez pela Alemanha, como reflexo do início da Primeira Guerra Mundial que havia começado há exatamente 1 mês. O ataque feito por meio de um avião Rumpler Taube causou pânico nos parisienses e danos em vários edifícios e casas da cidade, fazendo as pessoas empilharem sacos de areia pelas ruas e sobre os tetos das casas.
Um ano após o início da guerra, os bombardeios noturnos se tornaram a especialidade dos alemães e uma rotina na iluminada Paris. À medida que o conflito foi avançando e ganhando proporção, atacar a cidade se tornou um hábito pelo simples fato de a capital ser a mais próxima da linha de frente da guerra, o que facilitava o trajeto dos alemães que precisavam voar apenas 30 quilômetros para atacar a cidade. Além disso, se Paris cedesse às investidas inimigas, isso significava que a França inteira cairia.
(Fonte: History of Yesterday/Reprodução)
Em 1917, quando a Alemanha passou a atacar ostensivamente a Inglaterra, deixando Paris um pouco de lado, a cidade rapidamente se adiantou para criar um plano mais eficaz a fim de controlar a crise que estava enfrentando. Uma vez que proteger Paris com aviões e armas antiaéreas não era uma medida segura, o governo decidiu embarcar na ideia mirabolante do engenheiro Fernand Jacopozzi: criar uma Paris falsa.
Partindo do princípio de que o bombardeamento era um método rudimentar naquela época, Jacopozzi sabia que os pilotos apenas voavam para o que parecia o alvo, jogavam as bombas e voltavam para a casa, visto que não havia tecnologia nenhuma que os informassem se estavam próximo do alvo ou se a bomba alcançou o seu destino. Sendo assim, eles teriam dificuldade em distinguir entre uma Paris real e uma falsa, principalmente durante à noite.
(Fonte: Culture Trip/Reprodução)
Um mapa foi desenhado para estabelecer quais bairros parisienses teriam alguns aspectos copiados e onde seriam posicionadas as construções falsas. Foi determinado que tudo seria colocado nos arredores da cidade, perto o suficiente para convencer os bombardeiros de que eram autênticos, mas ao mesmo tempo longe o bastante para que a cidade ficasse protegida. Eles decidiram que montariam uma réplica de um centro de trens que ficaria a nordeste de Paris; então, reproduziriam o centro comercial com prédios históricos a cerca de 17 quilômetros a noroeste da cidade, em uma curva do Rio Sena; e também uma zona industrial com fábricas.
O empreendimento era ambicioso e monumental, principalmente porque eles estavam dispostos a recriar a Gare du Nord, o Arco do Triunfo e a Champs-Élysées, sendo que as estruturas seriam feitas de plástico, madeira e tecido para que fossem convincentes vistas do ar.
(Fonte: The Telegraph/Reprodução)
Tudo no empreendimento foi bem pensado por Jacopozzi, que não deixou nenhum detalhe de fora que pudesse comprometer o plano megalomaníaco. Os bairros falsos de Paris seriam pintados com riqueza de detalhes por artistas plásticos, adicionando até uma camada de tinta translúcida nos telhados para imitar as claraboias de vidro sujas. As engenheiras projetaram os comboios de trens de modo que eles percorressem os trilhos como se fossem reais.
Como Paris é conhecida por ser a "Cidade Luz", a iluminação foi o fator determinante para que todo o projeto enganasse muito bem os bombardeiros. Então, a ideia de Jacopozzi era impor um blecaute em toda a cidade, exceto nas réplicas, que sustentariam uma leve penumbra, como se as casas estivessem à luz de velas. Ele tentou fazer isso usando luzes multicoloridas para recriar o efeito suave de como uma luz se comporta por detrás de uma cortina, e até mesmo como é a sua cor através da fumaça produzida pelos fornos em funcionamento das fábricas. Uma equipe testou a iluminação do terceiro andar da Torre Eiffel, porém a ideia não deu certo.
(Fonte: Messy Nessy Chic/Reprodução)
No final das contas, a Paris falsa nunca foi totalmente construída, apenas algumas partes dela, como a linha de trem e alguns prédios e fábricas. Em 1918, o projeto foi desfeito rapidamente pelo governo com o final da Primeira Guerra Mundial, fazendo o possível para desaparecer com qualquer tipo de informação sobre o empreendimento.
Na Segunda Guerra Mundial, os britânicos tiveram a mesma ideia que os parisienses ao construírem aldeias falsas chamadas de Starfish, cujo objetivo era tentar distrair ou enganar os alemães durante os ataques. Enquanto isso, os norte-americanos montaram cidades falsas sobre uma fábrica da Lockheed (em Burbank) e outra da Boeing (em Seattle) para tentar camuflar os locais onde produziam armamentos para a guerra.
Anos mais tarde, inspirado pelos parisienses, o governo da Coreia do Norte construiu uma cidade falsa bem ao sul do país para tentar sustentar a fachada de que são uma nação em desenvolvimento, que constrói indústrias e prédios.