Ciência
15/02/2023 às 08:00•3 min de leitura
Quem visita o Museu da Nova Zelândia Te Papa Tongarewa, se depara com um objeto que tem uma origem em algum lugar entre o sul da Índia e o Sri Lanka. Conhecido como Sino Tâmil, por gerações ele pertenceu a um grupo de maoris e chegou a ser comparado com um OVNI.
Somente em 2019, o objeto que conseguiu atravessar o Oceano Índico e chegar na Nova Zelândia, teve sua origem descoberta.
William Colenso e a ilustração do sino com a sua inscrição em tâmil. (Fonte: HathuTrust/Reprodução)
No final da década de 1830, o missionário inglês William Colenso estava em uma aldeia Maori na Ilha Norte da Nova Zelândia, sendo o primeiro europeu a entrar em contato com aquela comunidade. Uma das coisas que mais chamou sua atenção foi a panela que as mulheres usavam para cozinhar que, segundo seu relato, era estranho porque não havia registros ou relatos de que aquela vila tenha tido algum contato com estrangeiros. Como a panela usada era feita de cobre, Colenso não sabia como ela poderia ter ido parar ali.
O missionário achou ainda mais estranho quando analisou o objeto de perto. Ele estava mais próximo de uma tigela do que de uma panela. Com apenas 15 cm de diâmetro — e aproximadamente o mesmo tamanho de altura —, seu formato era bastante estranho, com a borda irregular, como se tivesse sido quebrada ou se partido de uma estrutura maior. Foi assim que Colenso percebeu que o objeto não era uma panela — nem uma tigela —, mas o topo do sino de um navio.
Quando Colenso conversou com algumas das mulheres da tribo, elas lhe disseram o objeto estava com elas há gerações. As histórias que eram contadas por seus ancestrais falavam que o sino foi encontrado nas raízes de uma árvore que caiu em uma tempestade. Percebendo que poderia ser um objeto importante, Colenso trocou o sino por uma panela de ferro fundido. Ele foi colocado no Museu Colonial — atualmente chamado de Museu da Nova Zelândia Te Papa Tongarewa — quando Colenso morreu em 1899.
(Fonte: General Photographic Agency/Getty Images)
Por mais de um século, os estudiosos não tinham uma resposta para a origem do sino nem para como ele foi parar na Nova Zelândia. Ele foi chamado de Sino Tâmil, por conter uma escrita em relevo com caracteres tâmeis — uma língua falada no sul da Índia, Sri Lanka, Mianmar, Malásia, Indonésia, Vietnã, Singapura e em algumas regiões da África. Mas isso só aumentou o mistério. Como o objeto atravessou o Oceano Índico até chegar na ilha?
A resposta só começou a ser respondida em 2019, quando Nalina Gopal, curadora do Indian Heritage Centre, de Cingapura, foi para Wellington para estudar o sino. Até aquela momento, acreditava-se ele foi forjado em algum momento do século XIV ou XV. Porém, essa conclusão foi descartada por Gopal — que é falante nativa de tâmil do sul da Índia.
O seu próximo passo foi analisar o texto gravado no sino. Ela sabia que o escrito dizia “o sino do navio de Mohideen Bux”. Isso fez com que os estudiosos acreditassem que o sino pertencia a um navio de propriedade de Mohideen Bux. Mas Gopal achava que a mensagem poderia estar sendo interpretada da maneira errada.
(Fonte: Museu da Nova Zelândia Te Papa Tongarewa/Reprodução)
Durante sua pesquisa, ela se deparou com o trabalho de J. Raja Mohamad, um pesquisador e ex-curador de um museu regional de Tamil Nadu — no sul da Índia. Ele também vinha tentando resolver o mistério do sino desde a década de 1980 e foi o primeiro a sugerir que Mohideen Bux poderia não ser o proprietário do navio, mas o nome do próprio navio.
O trabalho conjunto de Mohamad e Gopal deu resultado e eles descobriram que algumas comunidades mercantes muçulmanas no sudeste da Ásia acreditavam em uma divindade chamada Mohideen Bux. Por esse motivo, esse era um nome comum para navios que partiam de Tamil Nadu. “A ideia era que o navio fosse protegido porque recebeu o nome do santo”, explicou Gopal.
Os dois também tentaram descobrir como o sino foi parar na Nova Zelândia, mas como não há registros históricos de rotas comerciais partindo do sudeste asiático até o país, esse mistério segue sem uma solução. “É como um OVNI”, disse Gopal. Não havia uma explicação que justificasse ele estar ali.
O sino permanece no Museu da Nova Zelândia Te Papa Tongarewa, onde Gopal acredita que seja o seu lugar. Durante algum tempo, descendentes de tâmeis reivindicaram o sino, mas como nunca conseguiram comprovar que ele pertencia a um antepassado, os pedidos nunca foram aceitos.