Ciência
19/05/2014 às 06:47•2 min de leitura
Tudo começou quando, em julho do ano passado, um menino de seis anos que passeava pelas dunas do parque Indiana Dunes National Lakeshore desapareceu de repente, engolido por um buraco misterioso que começou a se abrir em uma das dunas. Foi preciso acionar uma equipe de resgate que demorou cerca de três horas para retirar o garoto de um buraco de mais de três metros de profundidade.
O menino foi encontrado desacordado devido à falta de ar, mas foi encaminhado para o hospital e se recuperou bem. Parte do parque – que fica a 88 quilômetros de Chicago, na costa do Lago Michigan – ficou interditada por alguns dias, mas logo os especialistas notaram que novos buracos começaram a se formar em outras dunas.
Depois desse episódio, a pergunta que restou foi: por que esses buracos estão aparecendo nas dunas nos Estados Unidos?
Após o acidente e o aparecimento de mais buracos – especificamente na região do Monte Baldy –, muitos especialistas se interessaram pelo caso e começaram a investigar os diversos colapsos de areia que aconteciam no local. O que mais impressionou os especialistas é que muitos deles eram tão profundos que os pesquisadores não conseguiam medir com os materiais disponíveis.
“Não sabemos exatamente o que está acontecendo lá. Não podemos deixar as pessoas naquela área até sabermos que é segura”, comenta Ken Mehre, representante legal do parque.
Ainda, os cientistas notaram que os buracos surgiam repentinamente e desapareciam no dia seguinte. Isso pode nos levar a acreditar que seja um caso de areia movediça. Porém, embora a areia movediça realmente exista, ela consiste em uma mistura de água com areia que tem aparência sólida, mas entra em colapso quando tocada por algo pesado, como um humano ou um animal.
Sabe-se que um tipo seco de areia movediça criado artificialmente em laboratório seria capaz de engolir um objeto qualquer que estivesse em sua superfície, mas esse material nunca foi encontrado na natureza. Isso nos leva a concluir que o que quer que aconteça no Monte Baldy não tem relação com a areia movediça.
Na tentativa de desvendar o mistério, o Serviço Nacional de Parques (NPS, na sigla em inglês) se uniu à Agência de Proteção Ambiental para investigar o local. Um radar de penetração de solo foi utilizado para analisar melhor a região. O equipamento revelou uma camada de solo enterrada sob as dunas que cobrem o Monte Baldy, De acordo com a NPS, essa camada de solo já esteve exposta na superfície durante o século 20.
Remontando a história das dunas, a geóloga Erin Argyilan, do departamento de Geociências da Universidade do Noroeste de Indiana, lembra que o local já foi explorado para a extração de areia que era utilizada na produção de potes de vidro. Algumas estruturas construídas por mãos humanas também ficaram na região, como uma velha escada de madeira que se encontra enterrada sob as dunas.
Argyilan examinou fotografias históricas da área para determinar o que mudou desde a década de 1930. Ela descobriu que a grama e as árvores que um dia cobriram o Monte Baldy estão enterradas. Essa descoberta levou os especialistas a cogitar a seguinte hipótese: os elementos que se encontram sob as dunas – como as árvores, galhos, estruturas construídas por humanos e escombros – “foram enterrados pelas rápidas mudanças que aconteceram nas dunas durante o final da década de 1900”.
Em seu relatório, a NPS completa: “O envelhecimento dos materiais e as condições úmidas durante a primavera de 2013 podem ter feito com que esses materiais ficassem instáveis, o que gerou colapsos e criou aberturas na superfície”.
O Serviço Nacional de Parques continua utilizando o radar de penetração de solo para determinar o que existe no Monte Baldy e busca entender como isso pode influenciar no surgimento de buracos nas dunas. Enquanto isso, a área continua restrita aos visitantes.