
Ciência
29/07/2016 às 09:34•4 min de leitura
Não é novidade alguma que todas as fotos publicitárias que nos cercam passam por muitas edições: o famoso “Photoshop”. Porém, uma fotógrafa que trabalhou por muito tempo na área resolveu revelar os verdadeiros segredos dessas imagens; e acredite: eles acontecem muito antes do “click”.
A ideia da fotógrafa, que preferiu não se identificar, é mostrar o quão irreal são os corpos que nós vemos e qual é o nosso papel na sociedade como propagadores desses “ideais de beleza”.
É inegável: toda fotografia profissional exige edição. Pode ser a cor da roupa, que não ficou como devia ou um inseto que apareceu na hora errada. Segundo a fotógrafa, esse trabalho é necessário para que a foto seja impressa corretamente, porém, em algum momento, alguém pensou “se você pode manipular o fundo, por que não o corpo?”, e foi aí que a coisa saiu do controle.
Um de seus principais trabalhos foi com as modelos da Victoria's Secret, conhecidas por sua perfeição. Mas ela conta que não é bem assim: “a primeira coisa que eles fazem é colocar extensões nos cabelos, para aumentar volume e/ou comprimento. Eu acho que nunca tirei uma foto de uma modelo com o seu cabelo real. Em seguida, eles arrumam alguns enchimentos para os seios e colocam um maiô cheio de alterações que modela o corpo – se você pudesse pegá-lo, sentiria o peso”.
Antes e depois
Este é um dos principais motivos pelos quais um maiô nunca fica tão bem no nosso corpo como no de uma modelo.
Além de tudo isso, eles ainda colocam um sutiã – com mais enchimento – sob o maiô, e os editores que se virem para tirar qualquer resquício que possa aparecer na foto. Mas não é só a Victoria's Secret que usa esse truque; segundo a profissional, esta é uma prática bem comum e, por isso, vemos tantos seios “antigravidade” por aí.
Depois do “click”, vem a edição digital: tirar o sutiã, apagar os mamilos, deixar os seios mais redondos, mais altos, mais simétricos e claro: maiores.
Mas não para por aí: existem várias correções que podem passar despercebidas. Entre as revelações, a misteriosa mulher contou que, na câmera, todos nós podemos ficar com as mãos e os pés em tonalidades azuis, além das axilas cinzas. Não importa o quão bem um homem tenha feito a barba: ainda vai existir sombra naquela região.
Antes e depois
Ela conta que muitas modelos não se depilam e, caso elas apareçam com os braços para cima, eles não vão aceitar as axilas peludas nas fotos. Mais trabalho para a edição.
Se você pensa que a principal prática é emagrecer as garotas nas imagens, saiba que é muito comum “engordá-las”. Segundo a fotógrafa, as modelos são mais finas do que você realmente vê. Por isso, é comum eles disfarçarem suas costelas salientes.
Agora você pode estar pensando: “por que eles não contratam moças que não sejam tão magras?”. A resposta é simples: elas não vendem.
Realidade X publicidade
A profissional conta que aqui é onde a história fica realmente feia: durante o seu tempo trabalhando com o mundo da beleza, ela viu empresas tentando diferentes padrões de modelos, mas os consumidores simplesmente não respondiam positivamente.
A grande realidade é que o único objetivo por trás de tantas edições e modificações é vender algum produto. E, é claro, as marcas querem refletir o mundo da maneira que nós – público consumidor – queremos ver. Estamos tão acostumados a corpos perfeitamente simétricos que o comum nos repele. Assim, continuamos a girar a “máquina da aparência perfeita e inexistente”.
As mudanças feitas para as capas
“Aerie” é uma empresa que vende lingerie e, em 2014, arriscou e lançou uma campanha de beleza “real”, na qual usou modelos com diferentes formas e optou por não retocar as fotografias.
Com o grande sucesso da iniciativa, a empresa passou a investir ainda mais em seu novo padrão, o que poderia ser um bom motivo para comemoração, mas a fotógrafa alerta: nada disso foi por bondade. “Eles fizeram isso porque queriam ver se iria vender. Não foi para que alguém se sentisse bem com o próprio corpo”, revela.
Campanha da Aerie
Seria bem simples se nós pudéssemos focar o problema nas grandes marcas que vendem “beleza”, mas a manipulação fotográfica tornou-se parte do nosso cotidiano. É só ver o Instagram, por exemplo: ele é mais um lembrete de que essa vida publicada não é real. Ela lembra que muitas pessoas estão repetindo truques usados por fotógrafos profissionais, como enquadramento e luz, e isso faz parte da manipulação da imagem.
Toda essa alteração, que inclui diminuir até o tamanho do pescoço feminino para parecer mais delicado, também vem afetando as crianças. É claro que elas não passam pelos mesmos retoques que os adultos, mas é parte da rotina mudar algo nelas, como deixá-las com o olhar “menos cansado”.
Mais alterações
Há algum tempo, temos nos deparado com notícias de atrizes, cantoras e outras personalidades reclamando de suas fotografias extremamente alteradas em publicações. Foi o caso da atriz Lena Dunham, da série “Girls”: “é uma sensação estranha ver uma foto e não reconhecer o próprio corpo”, revelou após ver sua capa na revista “Tentaciones”.
Por mais absurdo que pareça, é comum simplesmente trocar o corpo todo na hora da edição. Isso mesmo que você leu: eles pegam a cabeça de uma pessoa e a colocam em outro corpo! Ou pelo menos alguns pedaços, como os braços.
Lena Dunham
Enquanto se afasta do mercado de beleza, a profissional diz que está alarmada com a nova tendência de ter uma silhueta em forma de ampulheta. Por isso, enquanto ainda está presa a alguns trabalhos, ela decidiu que não vai mais editar as cinturas nem clarear dentes ou globos oculares.
Ainda assim, existem algumas práticas das quais ela não consegue se livrar: tirar acnes, celulites e estrias – “afinal, você não fica com quase 2 metros de altura sem ganhar muitas estrias”, comenta sobre as modelos.
Antes e depois
Ela está feliz com as pequenas mudanças que estão ocorrendo nessa indústria, mas sabe que a maior batalha precisa ocorrer na mente dos consumidores.