Estilo de vida
18/07/2014 às 07:21•5 min de leitura
Se todas as suas referências sobre a ilha de Madagascar vêm da série de animações que recebeu o mesmo nome, essa é a sua oportunidade de aumentar seus conhecimentos sobre essa parte do mundo. Para começar, por mais que o Capitão, o Kowalski e o Recruta sejam personagens divertidos, não existe qualquer pinguim em Madagascar!
A República de Madagascar – como é oficialmente reconhecida – consiste em uma ilha enorme com uma história que remonta entre 160 e 170 milhões de anos atrás, quando o território se separou do que hoje conhecemos como a Índia. Com uma área de 587 quilômetros quadrados e uma costa que se estende por cerca de 5 mil quilômetros, Madagascar é a maior ilha do Oceano Índico e a quarta maior do mundo, perdendo apenas para Groenlândia, Nova Guiné e Bornéu.
O território fica a 400 quilômetros da costa leste do continente e serve de lar para 17 milhões de pessoas. Com praias de uma beleza exuberante e pela riqueza da fauna e da flora que contam com centenas de espécies nativas, o turismo tem crescido na região e se tornado uma das principais fontes de renda do país atualmente.
Acredita-se que alguns dos primeiros habitantes de Madagascar tenham chegado ao território vindos das ilhas dos Oceanos Índico e Pacífico navegando em canoas polinésias, que até hoje são usadas pelos pescadores dos vilarejos. Os árabes também chegaram até a ilha entre os séculos 7 e 9, produzindo os primeiros registros escritos e deixando como legado o islamismo e algumas palavras que foram posteriormente incorporadas à língua nativa.
Como a ilha fazia parte das rotas comerciais marítimas, o contato com os europeus se deu a partir de 1500 através do capitão português Diogo Dias. Mas o mercador italiano Marco Polo foi o primeiro a reportar a existência da ilha e também foi o responsável por batizar e popularizar o nome do país da maneira como conhecemos hoje.
Os franceses também chegaram à região e estabeleceram postos de comércio no final do século 17. Os britânicos, que comandaram a ilha Maurício durante o século 19, também tiveram influência sobre Madagascar, chegando a declarar o cristianismo como religião oficial. Em 1897, os franceses invadiram o país e, após muitas batalhas, Madagascar foi declarada colônia da França. Nessa mesma época, os franceses buscaram suprimir a língua nativa e qualquer influência britânica, além de declarar o francês como idioma oficial.
Em 1960, a ilha de Madagascar finalmente conquistou sua independência, embora as outras nações tenham marcado profundamente sua história e deixado um grande legado. O francês, por exemplo, divide espaço com o malgaxe e elas são as duas línguas oficiais do país. Na culinária, é possível encontrar produtos de confeitaria tipicamente franceses – como o croissant – em todo o país.
Mesmo tendo se tornado independente, Madagascar ainda é um país politicamente instável. Eleições presidenciais foram realizadas depois da saída dos franceses, mas ainda aconteceram muitos conflitos civis. Hoje, uma das maiores preocupações do país é a degradação ambiental causada pelas práticas agrícolas que resultam na devastação florestal, na erosão e na desertificação. Infelizmente, a ilha de Madagascar é um dos países mais pobres do mundo com um PIB de 970 dólares por ano.
A pobreza financeira do país é compensada pela riqueza da cultura, da fauna e da flora locais. O isolamento, o tamanho do território e a extensa costa garantiram à Madagascar uma das biodiversidades mais impressionantes do mundo. O país é composto por terrenos e hábitats diversos que incluem cadeias de montanhas vulcânicas, um planalto central, florestas tropicais úmidas e penhascos de arenito.
O que faz de Madagascar um lugar único é que centenas de espécies de animais existem exclusivamente na ilha. Um exemplo disso são os lêmures (olha o Rei Julien!), que somam mais de 70 espécies e subespécies nativas. E existem duas coisas que os lêmures estão mais do que prontos a roubar: o seu coração e o seu almoço. Devido ao crescente contato com humanos, muitas espécies perderam o medo e estão mais do que dispostas a fazer aproximação. Porém, não é recomendado alimentar os animais, já que isso faz com que eles se tornem menos propensos a buscar sua própria comida.
Ainda existem mais de 346 espécies de répteis encontradas apenas em Madagascar – incluindo o maior camaleão do mundo, o Camaleão de Parson (Calumma parsonii) e o menor de todos, o Brookesia (Brookesia minima). A diversidade das plantas também impressiona – são mais de 6 mil espécies nativas, incluindo 930 tipos de orquídeas e os gigantes baobás, que são árvores de tamanho impressionante que parecem ter suas raízes erguidas no ar.
Os malgaxes – como são conhecidos os habitantes da República de Madagascar – têm suas raízes mais próximas dos sul-asiáticos do que dos africanos. Embora a ilha seja separada da África apenas pelo estreito Canal de Moçambique, a diferença entre os dois territórios é muito maior. A população descende dos navegantes indos-malaios que chegaram à região através das rotas de comércio no Oceano Índico há mais de 2 mil anos.
Até hoje, é fácil encontrar a influência do sul da Ásia na cultura de Madagascar. Um dos exemplos mais óbvios está na dieta – o arroz é um alimento básico largamente produzido no país e é consumido pelo menos três vezes por dia –, e o idioma nativo também deriva das línguas asiáticas. Quem passa pela região precisa ter em mente que a população não se reconhece como africana, então eles preferem ser chamados simplesmente de malgaxes.
A população da ilha de Madagascar acredita no poder de seus ancestrais, em tabus e em magia. Embora a religião predominante no território seja o Cristianismo, parte do povo também cultiva outras crenças. Os malgaxes possuem uma forte ligação com aqueles que já se foram e chegam a se referir aos falecidos como parte da família. Muitos depositam os corpos em caixões que são colocados no alto de cavernas e penhascos, pois eles acreditam que isso os deixa mais próximo aos ancestrais. No Famadihana, que é uma das tradicionais celebrações, os corpos são removidos de suas tumbas para dançar e tirar fotos com os mortos. Após as festividades – que representam a ligação entre os mortos e os vivos –, os corpos são devolvidos ao lugar.
O lêmure, mencionado anteriormente, também ocupa um lugar especial nas crenças dos malgaxes. Esse animal é considerado um protetor e às vezes é tratado como se fosse parente dos humanos em histórias folclóricas relacionadas aos tabus. Por outro lado, o aie-aie (que é o Maurice da animação “Madagascar”) – outra espécie que só pode ser encontrada na ilha – é comumente associado à morte e à maldição. Como os aldeões da ilha acreditam que esses animais têm uma natureza maligna, eles são frequentemente mortos, o que os coloca como uma das espécies em extinção em Madagascar.