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Bíblia: realidade x ficção — será que essa discussão é tão relevante assim?

29/07/2015 às 11:164 min de leitura

Você já deve ter presenciado — ou inclusive participado ativamente — de acaloradas discussões sobre a veracidade dos textos presentes na Bíblia. De um lado, existem aqueles que acreditam que tudo o que está descrito nas escrituras realmente aconteceu e que interpretam as informações de forma literal. De outro, estão os que se apegam a contradições e à falta de precisão histórica para alegar que as histórias são falsas.

No entanto, conforme apontou Michael Satlow, professor de Estudos Religiosos da Universidade Brown, nos EUA, em um interessante artigo publicado pelo portal Aeon, em vez de brigar quanto à veracidade histórica ou não dos relatos presentes na Bíblia, secularistas e fundamentalistas deveriam focar no impacto que os textos tiveram e ainda têm em nossas vidas.

Independente de você acreditar ou não que todas as histórias presentes no Velho e no Novo Testamento realmente aconteceram, não fique bravo antes de ler a matéria até o final! Na verdade, o texto não defende a veracidade ou falta dela no conteúdo que compõe a Bíblia — mas debate a sua significância para a cultura ocidental.

O Velho Testamento

Na verdade, segundo Michael, se examinarmos as informações presentes no Velho Testamento de forma totalmente racional, logo começa ficar evidente que elas são bem pouco precisas historicamente, e não faltam razões para questionarmos a veracidade das histórias contadas na Bíblia. Afinal, os relatos estão recheados de contradições e de intervenções divinas e sobrenaturais capazes de abalar a fé de algumas pessoas.

Além disso, ainda pensando no lado racional da coisa, simplesmente não existem evidências de que os fatos descritos no Velho Testamento realmente aconteceram. Por exemplo, nunca foram encontradas provas concretas de que o Êxodo — ou a fuga dos israelitas do Antigo Egito liderada por Moisés — ocorreu, nem de que o poderoso, sábio e destemido Rei Salomão foi uma figura real.

Aliás, de acordo com Michael, as evidências arqueológicas se opõem diretamente às informações presentes na Bíblia sobre a conquista de Jericó, assim como sobre a conquista de Canaã pelos israelitas. Dessa forma, examinando o Velho Testamento friamente, é fácil para muita gente concluir que ele, em vez de descrever eventos reais, reúne uma série de mitos hebraicos — temperados com uma pitadinha de fatos históricos aqui e ali.

Mais adiante, mais precisamente a partir do reinado de Salomão até o final do século 10 a.C., os relatos se tornam um pouco mais fidedignos. Isso porque, apesar de não faltarem contradições e tendenciosidade na narrativa, os nomes dos reis que governaram Israel e a Judeia são de monarcas que realmente existiram — e dos quais já foram encontrados registros históricos e evidências arqueológicas.

O Novo Testamento

De acordo com Michael, a precisão histórica das informações presentes no Novo Testamento não é muito melhor. E, apesar de ser muito provável que um homem chamado Jesus realmente tenha existido, tudo o que sabemos sobre ele está baseado em relatos deixados pelos apóstolos — e não em evidências concretas e palpáveis de sua vida.

Para piorar, as narrativas dos apóstolos muitas vezes entram em contradição e, além da Bíblia, são poucas as fontes que mencionam o nome de Cristo — sugerindo que ele não teve muito impacto na época em que estava vivo.

Por certo, o livro de “Atos”, o quinto do Novo Testamento, descreve a história da Era Apostólica, mas, mesmo assim, ele traz mais ficção do que fatos. E, de acordo com o pesquisador, se analisarmos os demais livros da Bíblia, a coisa se torna ainda menos confiável.

Atenção: neste texto, utilizamos a expressão “crentes” com o significado de “pessoas que acreditam em alguma coisa”, e não com sentido pejorativo.

Realidade x ficção

Olhando para o conteúdo da Bíblia sob o ponto de vista analítico, fica difícil negar que os textos não são historicamente precisos e, portanto, muito do que está escrito nela não aconteceu de verdade. Essa constatação, evidentemente, já gerou um bocado de briga entre crentes fervorosos, crentes não tão fervorosos assim e laicos, criando uma divisão de opiniões que parece inconciliável.

Isso porque, de um lado, temos os que usam a falta de veracidade da Bíblia para argumentar que as sagradas escrituras não passam de textos antigos que foram usados para apoiar determinados interesses políticos e religiosos ao longo da História.

Do outro lado, temos os fundamentalistas, que reagem — muitas vezes de forma agressiva — a essas alegações e contra-argumentam ferozmente na tentativa de defender a sua fé. No meio de tudo isso temos o “meio-termo”, ou seja, os fiéis comprometidos com suas crenças, mas que consideram as histórias bíblicas como... Meras histórias. No entanto, será que a falta de veracidade realmente importa?

Significado além da verdade

A briga entre secularistas e fundamentalistas está longe de terminar. No entanto, conforme explicou Michael, o maior legado da Bíblia não se encontra na histórias propriamente ditas, mas na sua interpretação, nas ideias que elas transmitem e, acima de tudo, nas milhares de sociedades que foram construídas ao longo da História em torno de seus ensinamentos.

Antes da Reforma e da Contrarreforma, a veracidade da Bíblia não era tão relevante assim para judeus e católicos. Entretanto, atualmente, tanto a turminha que proclama que as sagradas escrituras são falsas quanto a que se agarra no sentido literal dos textos — contra qualquer lógica — estão focando suas energias em uma briga sem sentido.

Independente do fato de ser imprecisa historicamente e de estar mais baseada na ficção do que em fatos, é impossível ignorar que a Bíblia é incrivelmente influente, e sua significância transcende as questões puramente religiosas. Seus ensinamentos “plantaram” em boa parte da cultura ocidental muitos dos valores que regem a nossa sociedade, relacionados com o amor, a justiça, a sexualidade, a moralidade e a compaixão, por exemplo.

Além disso, as ideias presentes em seus textos nos ajudam a lidar com a nossa própria mortalidade, sem falar que serviram de ponto de partida para que muitos pensadores e filósofos ponderassem sobre questões relacionadas com o nosso papel como indivíduos e em nossa comunidade. Sendo assim, no fundo, olhando por esse prisma, a briga relacionada a se os textos bíblicos são historicamente exatos ou não se torna insignificante.

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