Ciência
23/10/2021 às 13:00•3 min de leitura
O movimento de descreditar a ciência e duvidar do progresso atingido pela eficácia das vacinas parece ter se tornado uma tendência em algumas regiões do mundo, sobretudo nos Estados Unidos — local onde a campanha de vacinação contra a covid-19 freou abruptamente e tem encontrado dificuldades para atingir uma maior porcentagem da população.
Entretanto, os antivacina — como são chamados — não são exatamente uma novidade na história da humanidade. Ao longo dos séculos, diversas pessoas já manifestaram se opor a segurança das vacinas e, algumas delas, por motivos bem bobos. Por isso, nós separamos para você uma lista com cinco exemplos desse tipo.
(Fonte: Pixabay)
No começo dos anos 1700, William Douglass era o único médico com diploma em toda região de Boston, nos Estados Unidos. Provavelmente, esse foi o grande motivo para ele se sentir tão confiante em zombar de um novo método de proteção contra a varíola criada por três indivíduos fora da área de atuação: Cotton Mather (1663-1728), um ministro puritano; Onesimus, um homem africano escravizado; e Zabdiel Boylston (1676-1766), um boticário e cirurgião sem diploma de medicina.
Na época, Onesimus havia ensinado aos outros dois que passar o pus de uma pessoa infectada em uma ferida no braço faria a pessoa adoecer, mas logo se recuperar e adquirir imunidade. Porém, Douglass não estava nem um pouco impressionado com a ideia e satirizou o grupo por um bom tempo.
O médico só cedeu a prática muito tempo depois, quando viu que as taxas de mortalidade estavam caindo e passou a utilizá-la em seus pacientes.
(Fonte: Wikimedia Commons)
O maior adversário de vida de Jules Guérin era Louis Pasteur (1822-1895), que se tornou uma celebridade global após desenvolver a primeira série de vacinas para doenças além da varíola, como a raiva e o antraz. Enquanto Pasteur fazia seu discurso de apresentação da descoberta na Academia Nacional de Medicina da França em 1880, chegou a ser interrompido e satirizado por Guérin.
O rival chegou a questionar inúmeras vezes sobre como o produto funcionava e se fez de desentendido após receber as respostas. A confusão foi tamanha que o evento teve que acabar mais cedo. O ódio entre os dois era tanto que Jules chegou a pedir para enfrentar Louis em um duelo de armas. Porém, esse conflito nunca aconteceu, e Guérin morreu anos depois continuando sendo um antivacina.
(Fonte: Pixabay)
Ministro luterano e imigrante sueco em Massachusetts, Henning Jacobson acabou se tornando famoso localmente após enfrentar o governo. Em 1899, uma pequena epidemia de varíola atingiu a região de Boston e as autoridades de saúde responderam a esse problema exigindo que todos os habitantes tomassem a vacina contra a doença.
Ao fim da pandemia, que teve 485 mil pessoas vacinadas e 270 mortes, Jacobson entrou na justiça contra o governo por tentar forçar ele e o seu filho a se vacinarem. Em seu discurso na Suprema Corte, o homem afirmou que “Deus lhe protegeria, e não as vacinas”. No fim das contas, o imigrante acabou perdendo em todas as instâncias e a corte determinou que o governo estava correto em tentar proteger a população.
(Fonte: The Historical Medical Library of The College of Physicians of Philadelphia/Reprodução)
Lora Little sempre foi uma defensora de que hábitos saudáveis seriam suficientes para uma pessoa ter longevidade na vida. Entretanto, também ficou famosa por ser uma organizadora de movimentos antivacina e editora do The Liberator, um jornal com referência antiescravista da Guerra Civil.
Em 1906, ela publicou um artigo culpando as vacinas de terem matado 336 pessoas — o que poderia ser verdade, visto que não existiam procedimentos corretos de esterilização na época ou antibióticos para controlar infecções. Ao todo, Little desconfiava de todo tipo de medicamento que não fosse proveniente da natureza.
Segundo ela, bastava ter a dieta certa, uma rotina de exercícios e se manter limpo para que as feridas “logo desaparecessem”.
(Fonte: Wikimedia Commons)
Apesar de dar nome a maior premiação de jornalismo conhecida até hoje, Joseph Pulitzer foi uma das primeiras pessoas a se demonstrarem antivacina para a mídia. Em 1901, ele era dono de um jornal em St. Louis e viu a oportunidade de vender mais edições após um escândalo com vacinas.
Para os casos de tratamento de difteria, as vacinas eram produzidas por meio dos anticorpos de cavalos. Entretanto, uma amostra de sangue de um cavalo infectado com tétano foi distribuída aos cientistas e posteriormente usada na criação do imunizante — o que causou a morte de uma menina chamada Bessie Baker e seus irmãos.
As manchetes de Pulitzer despertaram atenção nacional para a tragédia. Entretanto, esse movimento também fez com que o governo norte-americano se atentasse para a importância das vacinas e regulasse quem realmente poderia produzi-las.