Ciência
23/05/2023 às 13:00•2 min de leitura
O Projeto Bulimia, um grupo de investigação e intervenção na clínica dos transtornos alimentares, está centrando seus olhares sobre as geradoras de imagens baseadas em IA, e a forma como essas ferramentas disseminam padrões irrealistas de beleza a partir das informações da internet onde foram treinadas.
Para comprovar sua hipótese, os pesquisadores do projeto programaram os geradores de imagens mais conhecidos — Dall-E 2, Stable Diffusion e Midjourney — para criar o corpo feminino perfeito especificamente de acordo com a mídia social no ano de 2023. Em seguida, repetiram o prompt, mas dessa vez para o corpo masculino.
Em uma postagem chamada "Rolando entre Vieses" no seu site, o Projeto Bulimia concluiu que “Mulheres menores apareceram em quase todas as imagens criadas por Dall-E 2, Stable Diffusion e Midjourney, mas o último apresentou as representações mais irrealistas do corpo feminino”. No caso dos homens, todos "parecem versões photoshopadas de fisiculturistas".
Mulher "perfeita" em 2023 segundo as mídias sociais.
Tentando chegar a um corpo "ideal" nas mídias sociais, a equipe percebeu que 40% das IAs geraram corpos irreais, o que foi mais pronunciado para homens do que para mulheres. Quanto ao tom da pele, 53% das imagens exibiram tons de pele oliva, enquanto 37% das "pessoas" geradas tinham cabelos louros.
O desafio seguinte foi solicitar aos geradores que fizessem uma “mulher perfeita” e também um “homem perfeito” segundo uma perspectiva mais geral da internet em 2023. Conforme os resultados, a principal diferença entre os dois prompts foi que as imagens vindas de mídias sociais mostravam maior apelo sexual e partes do corpo mais desproporcionais e irrealistas.
Homem "perfeito" em 2023 segundo as mídias sociais.
Buscando compreender quais são os corpos "ideais" promovidos por bilhões de imagens nas mídias sociais, a equipe concluiu que as renderizações de IA com viés mais sexualizado podem ser explicadas pelo fato de esse tipo de mídia usar algoritmos. Ou seja, uma sequência de instruções que privilegia conteúdos que recebem olhares mais demorados.
Então, temos a questão das versões bizarras e distorcidas, e a explicação é que essas aberrações derivam de plataformas que, propositalmente, "promovem tipos de corpos irreais", diz a equipe. Por que então fazer isso, levando-se em conta que, com base nos filtros do Instagram e do Snapchat, ninguém consegue alcançar esses padrões idealizados?
A resposta a essa pergunta — criar um senso de insatisfação para obter lucro — pode ser uma estratégia profundamente prejudicial à saúde mental e física das pessoas. Tudo começa com uma redução na autoestima que logo conduz a dietas extremas e transtornos alimentares. O resultado, dizem os especialistas, são imagens corporais distorcidas e quadros de ansiedade, depressão e comportamentos autodestrutivos.