Estilo de vida
02/01/2024 às 10:00•2 min de leitura
À medida que neurocientistas e psicólogos estão se aprofundando nesse fenômeno, o ato de "sonhar acordado" parece ser cada vez mais uma virtude criada pelos seres humanos. Cientistas da Universidade de Harvard encontraram agora evidências preliminares de que quando os ratos têm devaneios ou refletem calmamente sobre algo que viram mais cedo naquele dia, seus cérebros são reprogramados para melhorar o desempenho da memória e aprendizagem.
Essa hipótese, segundo os investigadores, ainda precisa ser testada em mais experimentos, mas os primeiros indícios são positivos. Inclusive, os primeiros testes indicaram que a maioria dos ratos ainda consegue visualizar um padrão xadrez em preto e branco mesmo depois dele já ter sido removido de sua vista.
(Fonte: GettyImages)
O efeito de sonhar acordado, onde o córtex visual está ocupado visualizando uma imagem que já não existe mais, foi visto em ratos quando os animais não estavam estimulados, mas num estado calmo e relaxado com pupilas pequenos. De acordo com os pesquisadores envolvidos no estudo, é esse estado de sonho não estimulado que poderia ter um efeito semelhante ao sono, consolidando memórias e melhorando o aprendizado.
“Queríamos saber como esse processo de devaneio ocorria no nível neurobiológico e se esses momentos de reflexão silenciosa poderiam ser importantes para o aprendizado e a memória”, disse a neurobióloga da Universidade de Harvard, Nghia Nguyen, em comunicado oficial. Ao todo, o estudo incluiu 13 ratos, aos quais foram mostradas duas imagens diferentes em preto e branco 64 vezes ao longo do dia, durante dois segundos cada, em um ambiente que de outra forma não seria estimulante.
Ao longo de vários dias, estas experiências foram repetidas enquanto a equipe de Harvard monitorava a atividade elétrica de 7 mil neurônios no cérebro de oito ratos, incluindo células nervosas no córtex visual e no hipocampo — uma região fortemente associada à consolidação da memória. Cada uma das duas imagens desencadeou um padrão diferente de atividade neural dos ratos.
(Fonte: GettyImages)
As descobertas feitas pela equipe de pesquisa sugerem que o cérebro dos ratos codifica cada imagem com um padrão diferente de atividade neural. Porém, o mais interessante é que depois destas imagens terem sido substituídas por uma tela de computador em branco, o córtex visual do rato continuo estimulando um padrão de neurônios semelhante ao da imagem removida.
Esta breve reativação do córtex visual foi frequentemente associada a ondulações de ondas agudas no hipocampo. Por sua vez, isso é um sinal de que o cérebro estava efetivamente codificando a informação visual, apesar da ausência de um estímulo. Com o tempo, a atividade cerebral ao ver uma imagem começou a se assemelhar à atividade cerebral ao sonhar acordado com aquela foto.
As descobertas sugerem que quando o cérebro não é estimulado, pode escapar para um mundo imaginário, onde as imagens mentais podem reorganizar ativamente as futuras respostas do cérebro aos estímulos. Estudos anteriores já apontavam que pessoas com devaneios são melhores em recordar memórias em ambientes que distraem. Contudo, alguns cientistas também acreditam que sonhar acordado por tempo demais pode ter impactos negativos na cognição humana, como déficit de atenção e falhas na memória de curto prazo.