Estilo de vida
01/04/2024 às 16:00•2 min de leituraAtualizado em 01/04/2024 às 16:00
Uma pesquisa realizada no ano passado por cientistas do King's College London, no Reino Unido, concluiu que cerca de 18% da população do país pode sofrer de misofonia, intolerância a certos sons, como raspar as unhas em um quadro-negro, por exemplo. Além de a população misofônica ser mais do que se estimava anteriormente, eles descobriram um repertório de sons corriqueiros e banais que desencadeiam o distúrbio neurológico.
O artigo sobre o estudo, publicado na revista PLOS ONE, revelou vários sons desencadeantes como mastigar, sugar, roncar e respirar. Esses estímulos podem causar reações variadas que vão de irritação leve até um nível de angústia que pode interferir no bem-estar da pessoa.
Um dos méritos da pesquisa, explicou a coautora Jane Gregory, psicóloga clínica da Universidade de Oxford, foi ter conseguido capturar a complexidade da condição. “Misofonia é mais do que apenas ficar irritado com certos sons, é se sentir preso ou desamparado quando você não consegue fugir desses sons e perde coisas por causa disso”, afirmou ela em um comunicado.
A metodologia da pesquisa incluiu o preenchimento de um questionário sobre sons desencadeantes por 768 voluntários, sendo 51% identificadas como mulheres; 48%, homens; e 4 pessoas autoidentificadas como não-binárias/outras, com média de idade de 46,4 anos. Só 13,6% dos participantes sabiam o que é misofonia antes da pesquisa, e 2,3% se assumiram misofônicos.
O questionário explorou cinco aspectos de possíveis respostas emocionais a sons irritantes: sensação de ameaça emocional, avaliações internas e externas, explosão e impacto. Os pesquisadores entrevistaram individualmente 26 indivíduos com misofonia e 29 pessoas não misofônicas.
A tabulação das respostas revelou uma prevalência da misofonia no Reino Unido (e apenas no Reino Unido, destacam os autores) de 18,4%. Curiosamente, muitos sons desencadeantes da misofonia também incomodam a população em geral, enquanto alguns, como a mastigação barulhenta, irritou mais os entrevistados.
A pesquisa também serviu para revelar duas diferenças importantes entre os sentimentos experimentados por indivíduos com misofonia e pela população em geral. Embora ambos os grupos se incomodem com determinados sons, nas pessoas com misofonia, além de mais intensos, esses sentimentos negativos são mais fortes e acompanhados por emoções, como raiva e pânico.
A sensação revelada pelos entrevistados foi de desamparo e impotência para fugir do som irritante. Ou seja, "é sobre sentir que há algo errado com você pela maneira como reage aos sons, mas também não ser capaz de fazer nada a respeito", explica no release Gregory. Para ela, essas emoções acabam levando à culpa, vergonha, ansiedade e isolamento social.
Além disso, alguns sons como respiração e deglutição normais só incomodam às pessoas com misofonia.