Estilo de vida
21/09/2024 às 12:00•2 min de leituraAtualizado em 21/09/2024 às 12:00
Nos últimos anos, tem sido cada vez mais difícil para muitas pessoas no Reino Unido acessarem cuidados odontológicos adequados, especialmente pelo declínio dos serviços de odontologia do National Health Service (NHS), o sistema público de saúde do Reino Unido, e pela crescente pobreza na higiene bucal. Com o aumento dos chamados "desertos dentais" — áreas onde há pouca ou nenhuma assistência odontológica pública disponível e o tratamento particular é inacessível para muitos — o cenário para a saúde bucal no país é alarmante.
Além disso, os bloqueios impostos pela pandemia de covid-19 impediram o acesso a muitos serviços médicos, incluindo o dentista. O resultado? Um aumento no número de pessoas recorrendo a soluções desesperadas para lidar com problemas dentários, como revela uma pesquisa da YouGov realizada em março de 2023. O estudo indicou que 10% dos britânicos admitiram ter realizado "procedimentos odontológicos em si mesmos". Os relatos vão desde a utilização de cimento e supercola para consertar coroas e dentaduras até o uso de substâncias como metal químico para preencher cavidades.
O relato de autoatendimento dentário vai além de soluções amadoras. Segundo a Universidade de Plymouth, em 2022, um paciente chegou a usar um dardo para remover depósitos de cálculo, enquanto outro tentou extrair 13 dentes utilizando vodca e alicate. É aí que mora o perigo: mesmo que algumas ferramentas domésticas possam parecer semelhantes às usadas por dentistas, os riscos de infecção e complicações são enormes. Como alerta a especialista Sarah Riley, "as ferramentas de um consultório odontológico são feitas para minimizar a presença de micróbios e são esterilizadas após cada uso, enquanto aquele alicate usado para consertar o banheiro não é tão limpo assim."
Entre os maiores riscos está a formação de uma fístula oroantral — um túnel anormal entre a boca e os seios maxilares —, o que pode gerar uma infecção severa e, eventualmente, exigir cirurgia invasiva. Além disso, tentar extrair um dente pode não resolver o problema se a infecção estiver na interface entre o dente e o osso. O resultado pode ser dor intensa, uma ferida aberta suscetível a infecções secundárias e a necessidade de intervenção cirúrgica no futuro — sem mencionar o possível custo financeiro.
Se o principal motivo para a odontologia caseira é a busca por alívio imediato da dor, outro fenômeno preocupa os especialistas: a obsessão por um sorriso perfeito. Nas redes sociais, é comum ver influenciadores e usuários recorrendo a métodos perigosos para alcançar dentes alinhados e brancos. Um dos exemplos mais alarmantes é o uso de lixas de unha para "alisar" os dentes. Ao fazer isso, as pessoas acabam removendo o esmalte dental, a camada protetora dos dentes, expondo as camadas inferiores e aumentando drasticamente o risco de infecções, cáries e até a perda do dente.
Outro método questionável envolve o clareamento caseiro com peróxido de hidrogênio. Embora kits legais de clareamento contenham apenas 0,1% dessa substância, muitas pessoas utilizam concentrações muito mais altas, resultando em danos severos aos tecidos bucais e até ao trato digestivo, caso o produto seja ingerido.
Os danos a longo prazo podem ser irreversíveis e, como destaca Riley, “os consertos rápidos e hacks normalmente acabam custando muito mais no futuro”. Diante de tantos riscos, fica claro: por mais tentador que seja buscar atalhos, a melhor solução é sempre buscar ajuda profissional!