Ciência
20/03/2024 às 08:00•2 min de leituraAtualizado em 21/03/2024 às 10:49
Os esforços recentes da China para reduzir a poluição atmosférica evitaram 46 mil mortes por suicídio no país em apenas cinco anos, estimam investigadores. De acordo com um novo estudo publicado na Nature Sustainability, a equipe utilizou as condições meteorológicas para separar fatores confusos que afetam a poluição e as taxas de suicídio, chegando ao que consideram ser uma ligação de causalidade.
Questões como a poluição do ar são frequentemente enquadradas como um problema de saúde física que leva a um espectro de doenças agudas e crônicas, como asma, doenças cardiovasculares e cancro do pulmão. Contudo, a coautora e professora da Universidade da Califórnia em Santa Bárbara, Tamma Carleton, afirma que esses fatores ambientais também podem afetar a saúde mental.
No passado, Carleton já havia feito estudos sobre o efeito da temperatura nas taxas de suicídio na Índia, descobrindo que o calor excessivo aumenta esse "fenômeno". Por esse motivo, ela ficou curiosa quando notou que a taxa de suicídios na China caía muito mais rapidamente do que o declínio no restante do mundo. Em 2000, a taxa de suicídio per capita no país era superior à média global. Duas décadas depois, no entanto, caiu abaixo dessa média — que também estava em declínio.
Segundo o estudo, foi importante notar que os níveis de poluição atmosférica na região também despencaram. “É muito claro que a guerra contra a poluição nos últimos sete a oito anos levou a declínios sem precedentes na poluição a uma velocidade que nunca vimos em nenhum outro lugar”, diz Carleton. Então, a pesquisadora decidiu testar se os dois fenômenos estavam relacionados.
Para isso, ela se uniu a pesquisadores em Shanghai e Pequim para examinar os efeitos da recente repressão da China à poluição do ar nas taxas de suicídio em todo o país. Eles coletaram dados demográficos de 2013 a 2017 do Centro Chinês de Controle e Prevenção de Doenças e dados meteorológicos do Centro de Serviços de Dados Meteorológicos da China para estabelecer uma conexão.
Para tentar estabelecer um vínculo de causalidade, os pesquisadores tiveram que tentar isolar apenas o papel da poluição no suicídio, em oposição a todas as outras coisas que poderiam estar correlacionadas com a poluição. Para isso, eles aproveitaram uma condição atmosférica chamada inversão, onde o ar quente retém uma camada de ar frio por baixo. Isso pode concentrar a poluição do ar perto da superfície, levando a dias com níveis de poluição mais elevados do que o normal.
Esse fenômeno aleatório permitiu a Carleton e aos outros pesquisadores isolarem os efeitos da poluição do ar nas taxas de suicídio. A equipe comparou os números de suicídios em 600 condados entre semanas com inversões e aquelas com clima mais típico, analisando os dados por meio de um modelo estatístico. O efeito foi particularmente forte para os idosos, sendo as mulheres mais velhas 2,5 vezes mais vulneráveis do que outros grupos.
Segundo Carleton, a poluição certamente não é o único fato ambiental que influencia as taxas de suicídio, mas é um fator importante. "Este resultado aponta para o importante papel das políticas públicas, da política ambiental, na mitigação das crises de saúde mental e suicídio fora da intervenção ao nível individual", destacou. Como próxima etapa, os cientistas esperam que essa descoberta possa reformular como a sociedade aborda a prevenção do suicídio.