Microcefalia pode estar sendo causada por inseticida usado contra mosquito

11/02/2016 às 10:563 min de leitura

Se não bastasse o Aedes aegypti estar causando um problemão à saúde pública mundial, como os recentes surtos de dengue, zika e chikungunya, o pesticida Pyriproxyfen, usado no combate a essa praga, pode ser o responsável pelos casos de microcefalia no Brasil.

Ao menos é isso que defende uma associação de médicos argentinos. Eles publicaram um relatório mostrando que o governo brasileiro passou a usar esse veneno em 2014 como parte de um programa de prevenção do avanço do número de mosquitos justamente em regiões em que apareceram o maior quantidade de casos de microcefalia.

Para piorar essa possível teoria da conspiração, os médicos alegam que o Pyriproxyfen é produzido pela Sumitomo Chemical – uma empresa japonesa que tem parceria com a Monsanto, que é uma das líderes mundiais no ramo da biotecnologia agrária e tem diversos contratos comerciais com a América Latina.

undefinedO mosquito Aedes aegypti é o responsável pela transmissão da dengue, do zika vírus e da chikungunya

“Não são coincidências”

Para reforçar ainda mais essa tese, que vai na contramão do que está sendo estudado hoje em dia, o jornal Washington Post publicou uma matéria com o presidente da Colômbia, Juan Manuel Santos, explicando que o surto de microcefalia pode ter outra causa além do zika. Santos explica que foram diagnosticadas mais de 3 mil grávidas com o vírus em seu país – e nenhuma delas desenvolveu bebês com microcefalia. Além disso, o The New York Times apontou que, de 404 casos estudados, apenas 17 também apresentaram o zika. 

Curiosamente, o Pyriproxyfen atua como pesticida justamente inibindo que algumas fases da larva do mosquito cheguem a se desenvolver. Os insetos nascem com malformação ou sequer chegam a completar seu ciclo larval. A Sumitomo explica, porém, que a própria Organização Mundial da Saúde classifica o pesticida como sendo de risco relativamente baixo.

“As malformações detectadas em milhares de crianças de mulheres grávidas que vivem em áreas onde o Estado brasileiro adicionou Pyriproxyfen à água potável não são uma coincidência, apesar de o Ministério da Saúde colocar a culpa direta sobre o vírus zika para este dano”, alerta o relatório dos médicos argentinos.

undefinedPesticida usado para combater o mosquito poderia ser o responsável pelo surto de microcefalia no Brasil

Manipulação?

Mas antes de falar que os hermanos estão querendo causar comoção ao meter o bedelho na nossa saúde pública, saiba, também, que existem diversos médicos brasileiros que concordam com essa opinião. Foi lembrado que durante anos o vírus zika passou praticamente batido pelas autoridades sanitárias – mesmo em áreas nas quais mais de 75% da população já foi infectada. Seus sintomas mais comuns são febre baixa e dores nas articulações das mãos e dos pés.

A Abrasco (Associação Brasileira de Saúde Coletiva) condena o uso de controladores químicos para o Aedes aegypti, já que, além de não estar surtindo efeito real na diminuição dos mosquitos transmissores da dengue e do zika, eles podem estar contaminando a água potável e sendo um dos possíveis causadores da microcefalia. Isso porque, mesmo que a OMS qualifique o Pyriproxyfen como sendo de baixo risco, seus testes foram feitos em outros mamíferos, e não em humanos.

Outro problema, para a entidade, é que as próprias empresas responsáveis pelo controle do mosquito estariam por trás da manipulação dos resultados para que apenas o zika seja apontado como causador dos surtos de microcefalia. Isso tudo para não ferir contratos comerciais com empresas de inseticida, como a Sumitomo, ou de mosquitos modificados geneticamente, como a inglesa GM Oxitec. Essa segunda opção de combate ao mosquito foi assunto de outra possível teoria da conspiração, já mostrada aqui no Mega.

undefinedMosquitos transgênicos também já foram alvo de teoria da conspiração

Soluções

Tanto a Abrasco quanto a associação de médicos argentinos defendem que a melhor maneira de combater essas doenças é através de ações comunitárias e de controle para que o Aedes aegypti não se reproduza. Ambas apontam, por exemplo, que em El Salvador foi adotada a tática de colocar peixes em lugares com água parada – esses animais se alimentam das larvas do mosquito e ajudam na eliminação do inseto. Ao menos foi isso que ajudou o país a se livrar do surto do dengue.

Se isso tudo é uma grande conspiração governamental para continuar com seus contratos comerciais, pelo jeito a população só vai descobrir com o tempo. Enquanto isso, novos casos de microcefalia estão pipocando e desafiando a medicina. Um estudo publicado nesta quarta-feira (10), pelo The New England Journal of Medicine, mostrou traços do DNA do vírus zika no cérebro de um bebê que nasceu com microcefalia e diz que há relação direta entre as duas coisas. Seria apenas essa a causa dessa condição?

Você acredita que o governo possa estar inventando provas para corroborar que apenas o zika vírus é o responsável pelos casos de microcefalia no Brasil? Comente no Fórum do Mega Curioso

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