
Artes/cultura
18/06/2013 às 07:16•2 min de leitura
A teoria aqui é relativamente simples, é verdade. Entretanto, não se pode dizer o mesmo sobre a técnica necessária para tanto. Eis a ideia: uma nova tecnologia desenvolvida por pesquisadores da Universidade de Saint Louis é capaz de identificar vírus ainda não descobertos dentro de um organismo.
Trata-se de pura e simples aritmética, na verdade. Primeiramente, uma amostra de sangue é coletada. Em seguida, todo a sequência genética humana é subtraída da estrutura, deixando para trás apenas o material referente ao vírus. Eis como a coisa toda funciona, quando observada em detalhes — conforme explicação dada pelo presidente do Departamento de Medicina Interna da referida instituição, Adrian Di Bisceglie:
“Nós isolamos o DNA e o RNA, amplificamos o material genético presente no sangue, procedemos um sequenciamento em profundidade e utilizamos um algoritmo de busca, a fim de encontrar semelhanças com todos os pedaços de código conhecidos, tanto de seres humanos quanto de micróbios.”
Conforme ressalta o pesquisador Xiaofeng Fan, embora o processo seja teoricamente fácil de apreender, o grande desafio foi encontrar uma forma de avaliar corretamente o material deixado em uma amostra sanguínea — supostamente, com o código genético do vírus buscado.
Fonte da imagem: Reprodução/CNET
Isso ocorre porque o RNA degrada com muita rapidez, o que tornava a identificação por amostras de sangue inviável, já que a quantidade era muito pequena. Ao amplificar o material genético, entretanto, o tamanho relativamente reduzido deixa de ser um impedimento.
Não é de hoje que os vírus oferecem inúmeros desafios à comunidade científica. Conforme lembra o site CNET, mesmo quando a infecção viral é patente, ainda resta uma grande dificuldade em descobrir qual vírus, especificamente, é responsável pelo quadro.
Até hoje, a abordagem-padrão demandava que se coletassem amostras para posterior cultivo em laboratório. Entretanto, há uma limitação bastante óbvia no procedimento: é preciso conhecer exatamente o vírus ao qual foi exposto o doador do material. Há, por fim, também a questão do tempo — trata-se de um procedimento relativamente demorado.
Mas vale dizer: a coleta de materiais genéticos de vírus não é algo novo. Entretanto, diferentemente de outros métodos, a chamada “Subtração de Transcriptoma” oferece a vantagem óbvia de se detectarem e identificarem mesmo vírus que sejam ainda desconhecidos pela humanidade — já que é possível efetuar uma comparação com sequências genéticas presentes em bancos de dados.
A técnica da “Subtração de Transcriptoma” pode ter vindo em momento bastante adequado. Afinal, neste exato momento, um vírus semelhante ao SARS começa a preocupar a Arábia Saudita — tendo ceifado já algumas dúzias de pessoas por lá.
Entretanto, para além do objetivo imediato, os pesquisadores envolvidos com a técnica acreditam que se trata de uma oportunidade única para conhecer o viroma típico do organismo humano.
Fonte da imagem: Reprodução/Wikimedia Commons
“Assim como os projetos de microbioma têm registrado as bactérias que vivem e coexistem em cada pessoa, nós estamos estudando também o viroma humano, a fim de saber mais sobre os vírus que existem em todos nós”, afirmou Di Bisceglie. “Nós acreditamos que nem todos sejam maléficos e que, inclusive, alguns deles possam ser benéficos.”
A Universidade de Saint Louis acaba de patentear a nova técnica e busca atualmente formas de comercialização.