Ciência
28/07/2014 às 07:39•6 min de leitura
A América do Sul abriga um dos mais conhecidos seres “mordedores” do mundo. E não estamos falando do jogador de futebol uruguaio Luis Suárez, não! Estamos falando da piranha, um peixe de água doce muito conhecido em nosso país e temido pela sua capacidade de dilacerar a carne de quem der bobeira em seu território.
A maior parte das populações de piranhas se concentra na região central do Brasil, sendo bastante presente nos rios do Pantanal mato-grossense e na área amazônica. Esse pequeno (mas poderoso) peixe tem um perfil de predador, tendo mandíbulas muito fortes e dentes afiadíssimos que podem fazer grandes estragos.
Por ter essa reputação, esses peixes ganharam “status” de estrelas de cinema em um filme de 1978, que mostra da forma mais sangrenta o ataque de piranhas assassinas em alguns nadadores de lago desavisados. Em um remake ainda mais trash de 2010, piranhas pré-históricas devoraram seres humanos em detalhes 3D.
Ou seja, Hollywood contribuiu para deixar a reputação das piranhas ainda mais assustadora. Mas será que esses peixes são realmente tão monstruosamente malvados e sanguinários? Bem, não exatamente. As piranhas são, de fato, carnívoras em sua maioria. Mas há muita variação de dieta entre as espécies — essa é uma das razões pelas quais é difícil de classificar taxonomicamente.
As piranhas também são difíceis de distinguir em termos de espécies, dieta, coloração, dentes e até mesmo alcance geográfico. Esta falta de conhecimento adiciona um pouco de mistério obscuro para as criaturas. É claro que elas não são fofinhas, mas as piranhas podem ser mal-interpretadas. Tanto que os cientistas têm reavaliado o estereótipo temível delas. Confira abaixo 13 curiosidades sobre esses peixes:
Quando Theodore Roosevelt (presidente dos Estados Unidos de 1901 a 1909) viajou para a América do Sul em 1913, ele encontrou, entre outras criaturas exóticas, várias espécies de piranha.
Teddy era também um historiador, explorador, biólogo e naturalista e registrou as suas descobertas em alguns livros. No seu best-seller, Through the Brazilian Wilderness (Pelas Selvas Brasileiras), ele falou sobre as piranhas vistas em sua expedição na Amazônia:
"Elas são os peixes mais ferozes do mundo. Mesmo os peixes mais formidáveis, os tubarões ou as barracudas, costumam atacar coisas menores do que eles. Mas as piranhas atacam habitualmente coisas muito maiores do que elas mesmas. Eles podem arrancar um dedo de uma mão que descuidadamente passou pela água; elas mutilam nadadores; despedaçam e devoram qualquer homem ou animal ferido; o sangue na água excita-as à loucura. Elas rasgam aves selvagens feridas em pedaços; e mordem as caudas dos peixes grandes quando eles ficam exaustos ao lutar depois de serem fisgados".
Roosevelt contou ainda como um cardume de piranhas devorou uma vaca inteira. Porém, de acordo com a Mental Floss, naquela época, os moradores locais “prepararam o terreno” para a observação de Roosevelt ser mais efetiva. Então, eles estenderam uma rede do outro lado do rio para pegar as piranhas antes de ele chegar.
Depois de armazenarem os peixes em um tanque sem comida, eles jogaram uma vaca morta no rio e lançaram as piranhas famintas, as quais naturalmente devoraram a carcaça de forma violenta. Isso rendeu uma boa história para Roosevelt, que ajudou a tornar a fama da piranha como vilã.
Hoje, as piranhas habitam águas doces da América do Sul e da Bacia do Rio Orinoco, na Venezuela até o Rio Paraná, na Argentina. Embora as estimativas variem, cerca de 30 espécies habitam os lagos e rios dessas regiões.
A evidência fóssil tem registros dos “ancestrais das piranhas” nos rios do continente datados de 25 milhões de anos atrás, mas os gêneros modernos só surgiram há 1,8 milhão de anos. Um estudo de 2007 sugere que as espécies modernas divergiram de um ancestral comum há cerca de 9 milhões de anos.
É fato que as piranhas atraem certos tipo de amantes de animais e, em muitas situações, quando o peixe fica muito grande para caber no aquário dessas pessoas, elas decidem que esses peixes ficarão mais bem acomodados em algum lago local.
Com esse tipo de ocorrência, piranhas já apareceram nos cursos de água em todo o mundo, da Grã-Bretanha até a China e o Texas (Estados Unidos). É legalizado possuir uma piranha em algumas áreas, mas, obviamente, nunca é uma boa ideia liberá-las para a vida selvagem, pois a espécie pode se tornar invasiva.
As piranhas são conhecidas por seus dentes afiados e mordidas implacáveis. A palavra “piranha” traduz literalmente "peixe com dentes" na língua Tupi. Os peixes adultos têm uma única linha de dentes que revestem a mandíbula. As verdadeiras piranhas têm dentes tricúspides, com uma cúspide no meio mais pronunciada ou coroa, com cerca de quatro milímetros de altura.
A forma de um dente é claramente adaptada para a sua dieta carnívora. A estrutura do esmalte dos dentes é semelhante à de tubarões. E, nas suas abocanhadas do dia a dia, não é incomum que as piranhas percam os dentes ao longo da sua vida. Mas, enquanto os tubarões substituem seus dentes individualmente, as piranhas substituem fileiras completas várias vezes ao longo da sua vida, que pode chegar a até oito anos em cativeiro.
Em um estudo de 2012, os pesquisadores descobriram que as piranhas negras (Serrasalmus rhombeus), as maiores entre as espécies modernas, mordem com uma força máxima de 32 quilos (que é três vezes o seu próprio peso corporal).
Usando um modelo de fóssil de dentes, eles descobriram ainda que um ancestral extinto de 10 milhões de anos de idade, a Megapiranha paranensis, tinha uma força de mordida na mandíbula de mais de 480 quilos. Para referência, a M. paranensis quando viva pesava apenas 10 quilos, então a mordida era quase 50 vezes mais forte do que o peso do animal.
De acordo com o Smithsonian, a ideia de que uma piranha poderia estraçalhar um ser humano em pedaços (como visto nos filmes) é provavelmente mais lenda do que realidade. Para os curiosos, a revista científica Popular Science conversou com alguns especialistas que estimam que a remoção da carne de um humano de 80 quilos em 5 minutos exigiria um trabalho de cerca de 300 a 500 piranhas juntas.
Existem casos de pessoas que tiveram ataques cardíacos e epilepsia enquanto estavam nos rios e que terminaram em afogamento, mostrando evidências de ataque de piranhas. Porém, nesses casos, as vítimas já estavam mortas quando esses peixes fizeram seu banquete.
No caso das capivaras acontece a mesma coisa. Algumas piranhas ocasionalmente comem pequenos e médios mamíferos, mas normalmente é quando o animal já está morto ou gravemente ferido por outro motivo.
A dieta típica piranha consiste em insetos, peixes, crustáceos, vermes, carniça, sementes e outros materiais vegetais. A piranha de barriga vermelha (Pygocentrus nattereri), por exemplo, come cerca de 2,46 gramas por dia, cerca de um oitavo de sua massa corporal média.
Os itens acima compõem a maior parte de suas refeições, mas o saldo dessa dieta pode mudar, dependendo da idade do peixe e as fontes de alimentos disponíveis. Então, de vez em quando, quando os recursos são baixos e a competição por alimento é intensa, as piranhas podem abocanhar um pedaço de um colega vivo ou morto.
Apesar da sua reputação de comedoras de carne, algumas piranhas são onívoras, comendo mais sementes do que carne, e algumas ainda sobrevivem apenas com plantas. Por exemplo, nas corredeiras amazônicas da bacia de Trombetas, no Pará, os cientistas descobriram que Tometes camunani vive com uma dieta de vegetação do rio.
Já o parente mais próximo das piranhas, o pacu-vermelho ou tambaqui (Colossoma macropomum), também vive com uma dieta livre de carne na maior parte de sua vida. Esses peixes se assemelham com algumas espécies de piranhas em tamanho e coloração, e assim, muitas vezes, são vendidos em mercados de peixes como "piranhas vegetarianas”.
Um estudo 1972 revelou que a piranha mais frequentemente atacava outros peixes em um ambiente de laboratório começando pela cauda e os olhos de sua presa. Os pesquisadores concluíram que tal estratégia de ataque é efetiva para imobilizar adversários e revela-se útil para a sobrevivência.
Os cientistas já sabem há algum tempo que as piranhas de barriga vermelha fazem ruídos quando são capturadas por pescadores. Após uma análise mais aprofundada, uma equipe de cientistas belgas descobriu que esses peixes fazem três tipos distintos de vocalização em diferentes situações.
Ainda nesse estudo, os pesquisadores observaram que, quando as piranhas estão cercando ou lutando com outro peixe, elas emitem grunhidos baixos, que eles acreditam que soem como uma ameaça direta para os outros peixes.
Elas fazem esses sons usando sua bexiga natatória, um órgão contendo gás que mantém o peixe flutuando na água. Ela também usa o ranger de seus dentes para emitir ruído.
Embora as piranhas tenham uma reputação de malvadas que atacam a qualquer momento, não há muita evidência sobre isso. Assim como ursos, lobos, tubarões, e praticamente qualquer grande animal assustador com dentes, as piranhas vão deixá-lo em paz se você não mexer com elas.
As piranhas pretas e de barriga vermelha são consideradas as mais perigosas e agressivas com os seres humanos. No entanto, muitos banhistas de rios infestados de piranhas nadam sem problemas nesses locais sem perder nenhuma lasquinha de pele ou carne.
Para eles, o perigo surge quando o nível da água é baixo, a presa é escassa ou o banho de rio perturba a sua desova. Basicamente, apenas quando os peixes se sentem realmente ameaçados ou muito famintos é que se tornam mais agressivos.
Já para os pescadores, desvencilhar uma piranha de uma rede ou de um anzol pode sim ser mais perigoso. Na maioria dos casos, os peixes mordem, mas só uma vez e nos dedos.
As piranhas podem estar naturalmente em sintonia com sons de frutas e sementes que caem de árvores e batem na água do rio. Com isso, ficam ligadas na disponibilidade de alimento.
Quanto ao sangue, elas realmente podem perceber uma gotinha em 200 litros de água. Então, se você está machucado e pretende entrar num rio suspeito do Pantanal ou da Amazônia, é melhor você mudar os seus planos.
Em algumas partes da Amazônia, comer piranha é considerado um tabu, enquanto em outros locais muita gente está convencida de que esse peixe é um poderoso afrodisíaco. Tanto que o caldo de piranha é popular na região do Pantanal, mas muitos optam por servir o peixe grelhado em uma folha de bananeira com tomates e limões para decorar.