Ciência
28/02/2018 às 08:00•4 min de leitura
Imagine uma superequipe com a presença dos grandes nomes da ciência e da tecnologia de todos os tempos, como Leonardo da Vinci, Isaac Newton, Michelangelo, Nikola Tesla, Zhang Heng e outras figuras históricas, a exemplo de Nostradamus, em uma história que mistura fantasia em realidade, nos moldes das aventuras da Marvel Comics. Essa é a premissa da minissérie “S.H.I.E.L.D.”, que conta com dois volume e finalmente terá sua conclusão nos próximos meses.
O Volume 1, lançado em 2010 e 2011, começa com Imhotep, mais conhecido como o mutante Apocalipse, dos X-Men, lutando contra uma invasão alienígena da Ninhada, em 2620 AC. Enquanto isso, nos anos 50, Isaac Newton leva um rapaz chamado Leonid para conhecer a SHIELD e seu alto conselho, que guarda grandes conhecimentos do universo.
De volta a 114 DC, Zhang Heng encontra-se com uma versão feminina dos Celestiais, seres de imenso poder na Marvel Comics. Na Florença de 1495, Leonardo Da Vinci cria um traje que lhe permite viajar ao espaço. Na Roma de 1582, Galileu Galilei constrói uma arma à laser para destruir Galactus, o Devorador de Mundos.
Já em 1956, o pai adotivo de Leonid, Nikola Tesla, aparece em uma armadura chamada de Máquina Noturna, que é morto por nada menos que Howard Stark, o pai de Tony Stark (Homem de Ferro), e Nathaniel Richards, progenitor de Reed Richards (Senhor Fantástico).
Lançada em 2011, a sequência traz Leonardo Da Vinci oferecendo a história secreta do mundo a Michelangelo, em troca de sua participação na SHIELD — mas Michelangelo já sabe de tudo, afinal ele masterizou o teleporte e a viagem no tempo.
A guerra na Cidade Imortal, sede da SHIELD que fica abaixo de Roma, continua e Leonid precisa escolher um caminho, entre as correntes do imortal Isaac Newton ou de Michelangelo, em um conclave dirigido por Howard Stark, Nathaniel Richards e Nikola Tesla, em sua forma de Máquina Noturna.
Paralelamente, Nostradamus, há muito aprisionado em um calabouço, sonha com sua liberdade, enquanto um bebê Celestial cresce no Sol e a Terra volta a ser ameaçada por esses seres antigos.
A aguardada conclusão dessa saga é exatamente o que estamos esperando para este ano.
Como deu para notar, um dos grandes baratos das edições são os avanços da humanidade a partir desses grandes nomes e como a fantasia “explicaria” a genialidade de muitos desses inventores. Ao observar o laboratório de Leonardo da Vinci, por exemplo, vemos muitas referências às antigas máquinas usadas, incluindo os protótipos de armas e veículos voadores idealizados pelo cientista.
Ao visitar Michelangelo, podemos acompanhá-lo enquanto o mesmo ainda está esculpindo sua famosa obra David, enquanto a Pietá aparece ao fundo, durante a conversa com Da Vinci. Foi somente com os avanços em cálculo e astronomia que Galileu Galilei foi capaz de construir uma máquina para deter Galactus.
Nostradamus vive cercado de inúmeros artefatos raros mas se sente preso às suas visões e o traje criado por Nikola Tesla segue os conceitos de eletromagnetismo e robótica, que inspirou nomes como Elon Musk — muitas vezes comparado ao Tony Stark.
Aliás, não por acaso, Tesla tem a aparência muito parecida com Tony Stark nesses quadrinhos e sua invenção, a Máquina Noturna, assemelha-se à armadura do Homem de Ferro, com direito às suas famosas bobinas. Isso confirma as recorrentes referências de que Stark e seu pai, Howard, foram mesmo baseados na figura do gênio.
Como a vaidade intelectual era motivo de vários conflitos registrados ao longo da história dos gênios inventores da humanidade, aqui não poderia ser diferente — até porque na Marvel Comics é comum os heróis brigarem entre si (aliás, esse é o grande charme que muita gente encontra nas produções do Marvel Studios).
Para começar, há a dualidade de visão de mundo entre Michelangelo, que sente grandes dúvidas sobre o poder que o homem pode conquistar, enquanto Isaac Newton faz o que for necessário para atingir suas metas.
Os quadrinhos relatam que Michel de Nostradame ficou abalado depois de se casar duas vezes e ter oito filhos, dois dos quais morreram de praga — o que o levou da Medicina para o Ocultismo e o fez mudar de nome para Nostradamus. Quando ele se negou a ajudar o imortal Isaac Newton na Irmandade da SHIELD, foi então aprisionado e recebeu uma variação do Elixir da Vida, que comprometeu sua sanidade.
A revista também destaca a famosa rivalidade entre Nikola Tesla e Thomas Edison e seu sumiço em certo período da vida é atribuído ao encontro com um Michelangelo viajante do tempo e “morte temporária” depois de um encontro fatal com Howard Stark e Nathaniel Richards, agentes da SHIELD.
A Ciência é muito importante na Marvel Comics, é algo muito próximo do mágico e a força motriz de grande parte da origem de suas criaçõe. Bem, dá para notar que desde o começo os autores (já falamos sobre eles) introduzem o universo Marvel com a presença de um antigo Apocalipse. Depois disso, podemos ver Leonardo Da Vinci criando o que seria uma das primeiras versões dos famosos Life-Model Decoys (LMDs), as réplicas humanas amplamente usadas nas histórias da SHIELD.
Estão lá também os Celestiais e a raça conhecida como Deviantes, inimigos dos Eternos na mitologia da criação da Terra no universo da Marvel Comics. Some isso às aparições de Galactus, de Nathaniel Richards e Howard Stark, das visões de Nostradamus sobre os Vingadores, Homem-Aranha e outros e você terá mais uma das mais deliciosas saladas de História, ficção científica e fantasia que os quadrinhos podem promover.
Aliás, como a editora vem promovendo o retorno de vários personagens das raízes atualmente, incluindo os Celestiais e uma versão pré-histórica dos Vingadores, pode ser que o atraso de “apenas” seis anos para a conclusão talvez seja também porque a trama inclua fatos recentes de ampliação do cânone oficial da companhia.
Jonathan Hickman é mestre em óperas espaciais e tramas com diversos personagens, incluindo “revisões históricas” com a ajuda da fantasia, como vimos em seus trabalhos em “Vingadores”, a saga “Infinito” e o título indie “The Manhattan Projects” — em que ele imagina a continuação do Projeto Manhattan em uma trama que envolve a Guerra Fria.
Hickman conseguiu criar personalidades ainda mais fortes e distintas para cada um dos gênios inventores. Suas decisões e posturas, a maneira como cada um fala e age vai diretamente de encontro com o que sabemos sobre a vida pessoal dessas figuras históricas.
Boa parte do mérito nisso está nas mãos de Dustin Weaver, que muda seus traços de acordo com a época que se passa a trama e segundo o temperamento de cada um dos “atores”: por exemplo, Michelangelo sempre parece racional, porém muitas vezes prepotente; Isaac Newton sempre é visto de forma arrogante e as linhas da arte-final na Florença de 1945 são feitas com traços de ponta de pena, com hachuras e mais rebuscamento.
Na edição número três do volume dois, os criadores fizeram uma narrativa toda baseada na ação e nas expressões dos personagens, com diálogos apenas nas páginas finais. Você pode ver a incrível batalha de homem contra deus, quando Michelangelo, o Homem Eterno, vencer um Celestial apenas desafiando o ser de outro mundo com uma equação matemática.
Corrijam-me se estiver errado, mas acredito que não hajam edições nacionais, ainda que a Panini Comics tenha os direitos de publicação. Tanto o primeiro volume quanto o segundo podem ser importados por meio de sua loja de quadrinhos favorita ou via digital comics na loja online Comixology.
Vale também pedir por um encadernado caprichado da Panini Comics para breve, já que, com o final de toda a trama, ler isso tudo em formato de luxo seria ainda mais divertido.