Ciência
21/09/2020 às 10:00•8 min de leitura
Com a volta de Mulheres Apaixonadas (2003) no Canal Viva, no final de agosto, e de Laços de Família (2000) no "Vale a Pena Ver de Novo", da própria Globo, a partir de 7 de setembro, os fãs de novela podem acompanhar novamente uma das personagens mais emblemáticas da televisão brasileira: as Helenas de Maneco.
Ao todo, o escritor batizou com o nome Helena nove protagonistas de novelas da Rede Globo, exibidas entre 1981 e 2014 — e a gente relembra cada uma delas aqui. Se você quiser se divertir com a outra lista sobre novelas que publicamos recentemente aqui no Mega Curioso, confira:
A novela: Baila Comigo, novela das 20h, de 1981;
Seu dilema: criou os filhos gêmeos separados;
Fonte: Na Telinha/Reprodução
A primeira Helena era uma mulher de meia-idade que escondia um grande segredo: quando jovem, ela engravidou de um homem casado (interpretado por Raul Cortez) e teve filhos gêmeos, sendo que um deles foi criado por ela e o outro foi viver com o pai. Os irmãos crescem sem saber da existência um do outro.
Ao longo da novela, os dois irmãos (ambos vividos Tony Ramos) se cruzam várias vezes. Isso gera uma infinidade de dramas novelísticos e muito sofrimento para Helena, que tinha medo de revelar a verdade — até que ela faz isso, em uma sequência bastante dramática, nos capítulos 142 e 143, perto do final da novela.
Essa personagem é importante porque criou o molde para todas as outras que vieram nas décadas seguintes: Helena não é uma protagonista 100% correta, mas uma pessoa com defeitos e virtudes. Ela, geralmente, vive dilemas que dividem o público.
A novela: Felicidade, novela das 18h, de 1991;
Seu dilema: Cria a filha sozinha, após perder o homem que amava;
Fonte: Memória Globo/Reprodução
Demorou 10 anos para que Maneco trouxesse Helena de volta à Globo — e o nome começasse a se transformar numa lenda.
Logo após o sucesso de Baila Comigo, ele escreveu Sol de Verão, uma novela cuja protagonista se chamava Raquel e uma das únicas obras de Maneco sem uma Helena. O curioso é que Raquel, de fato, lembrava muito a sequência de mulheres imperfeitas e independentes que se tornariam marca registrada do autor.
Depois que Sol de Verão terminou de forma trágica, com a morte de Jardel Filho (que vivia o par romântico da protagonista e era amigo pessoal de Maneco), o autor foi para outros canais escrever novelas menos lembradas pelo público. Quando retornou à Globo, pediram que ele escrevesse Por Amor, cuja ideia havia sido apresentada anos antes. Ele recusou, dizendo que aquela história era novela das oito.
Então veio a Helena de Felicidade, para o horário das seis, baseada nos contos do escritor Aníbal Machado. A Helena vivida por Maitê Proença criava sozinha a filha pequena e escondia de todos a origem dela, então se casava com um homem que não amava por conveniência e depois separava. Aí voltava a se envolver com o pai da menina (sem revelar a paternidade) e tomava muitas decisões questionáveis. Quanto mais ela tentava resolver um problema, mais ela se envolvia em outros.
A novela: História de Amor, novela das 18h, de 1995;
Seu dilema: aturar a filha mimada e se envolver com um homem comprometido;
Fonte: Jornal Extra/Reprodução
Logo depois de Felicidade, a Globo voltou a pedir que Maneco escrevesse Por Amor para às 18h. Ele voltou a bater o pé e escreveu outra história, enquanto a emissora não liberava Por Amor para às oito. Dessa vez, ele apostou num romance leve: a Helena de História de Amor era uma mulher comum, que é divorciada e se apaixona por um médico bonitão, que tem uma noiva louca. E ela tem uma filha extremamente mimada, que deixou todos os espectadores da novela morrendo de raiva. Só isso.
Sobre isso, é interessante observar que História de Amor marcou o início de alguns clichês de Manoel Carlos — sim, outros além do nome da protagonista. Essa é a primeira novela do autor com José Mayer pegando todo mundo (repetido em Laços de Família, Mulheres Apaixonadas, Páginas da Vida e Viver a Vida). Também teve a primeira filha mimada de Helena que o público queria surrar: Joyce (Carla Marins), foi seguida por Maria Eduarda, Camila e Luiza. Novamente, um drama sobre paternidade envolvendo Helena: Joyce não era filha da protagonista, mas sim filha de uma irmã dela, que deixou a menina para a outra criar.
Regina Duarte, muito antes de seu polêmico cargo como Secretária de Cultura do governo Jair Bolsonaro, viveria ainda duas outras Helenas. Mas, sobre elas, a gente fala depois. Vamos manter a ordem cronológica aqui, pessoal.
A novela: Por Amor, novela das 20h, de 1997;
Seu dilema: trocou seu filho, vivo, pelo neto, morto;
Fonte: Observatório da TV/Reprodução
Depois do sucesso de História de Amor, a Globo finalmente deixou Maneco escrever Por Amor para o prestigiado horário das oito. Regina Duarte voltou ao papel principal, com Gabriela Duarte — sua filha na vida real — vivendo também a filha da protagonista.
Dessa vez, Helena é uma mulher independente e bem-sucedida, que criou a filha Maria Eduarda cercada de mimos. Quando as duas estão viajando para Veneza, ela conhece o sedutor Atílio (Antônio Fagundes), se apaixona e se casa com ele. Ela engravida dele, ao mesmo tempo em que a filha engravida do marido Marcelo (Fábio Assunção).
Então acontece o grande drama, mais ou menos ali pelo capítulo 50 (de 191): Helena e Maria Eduarda entram em trabalho de parto no mesmo dia, no mesmo hospital. Os dois bebês nascem bem, mas Eduarda tem uma complicação no parto, precisa retirar o útero e não poderá mais ter filhos. Para completar o caos, o bebê dela tem uma morte súbita no meio da noite. Helena, desesperada, resolve trocar o filho de Eduarda pelo seu e dizer que foi o seu filho que morreu, não o neto.
A atitude da personagem dividiu o público: alguns acham que Helena fez isso por amor (aí o título da novela) à filha, que não iria suportar a tragédia; tem quem ache que o amor de Helena pela filha não valia mais do que o amor de Atílio pelo filho. Isso sem falar no pobre médico César (Marcelo Serrado), que acaba ficando maluco de culpa, depois de ajudar Helena com a troca...
Vários personagens acabam descobrindo o segredo, mas os grandes interessados — Maria Eduarda e Marcelo, que criaram um filho que não era deles, além de Atílio, que realmente era pai do bebê — só descobrem tudo no último capítulo. Todo mundo ficou absurdado com a história e xingou Helena, mas depois entendeu que ela fez aquilo por desespero e não tinha como voltar atrás. Um dilema 100% Maneco!
A novela: Laços de Família, novela das 20h, de 2000;
Seu dilema: abrir mão de um grande amor, duas vezes, por causa da filha;
Fonte: Jornal Extra/Reprodução
Todo mundo lembra de Laços de Família por duas coisas: a filha mimada que roubou o namorado da própria mãe e a tal filha — Camila, interpretada por Carolina Dieckmann — raspando a cabeça por conta de uma leucemia.
Mas a verdade é que Laços de Família é um puro drama de Manoel Carlos em que uma mãe precisa abrir mão da felicidade por causa da filha. Não apenas uma, mas duas vezes. Vamos lá: primeiro, Helena termina com Edu (Reynaldo Gianecchini) para que a filha possa ficar com ele. Depois, quando ela já está numa boa com Miguel (Tony Ramos), ela precisa acabar tudo repentinamente para engravidar de Pedro (José Mayer). Ele é o verdadeiro pai de Camila e pode dar fruto a um bebê que seja doador de medula óssea para ela.
Manoel Carlos disse que escreveu essa personagem para Vera Fischer — afinal, ela era a atriz perfeita para viver uma mulher de meia-idade, mas ainda no auge de sua beleza. Tanto que muita gente não entende como Edu pôde trocá-la pela insossa Camila. Fato é que muitos espectadores — inclusive esse que vos escreve — acham que Helena fez muito bem em ficar com Miguel, um homem muito mais maduro e interessante. Edu e Camila se merecem!
A novela: Mulheres Apaixonadas, novela das 20h, de 2003;
Seu dilema: viver um casamento infeliz e criar um filho do qual ela não sabe a origem;
Fonte: TV História/Reprodução
A partir de Mulheres Apaixonadas, as Helenas de Maneco começaram a não ser mais protagonistas absolutas das novelas, dividindo espaço com núcleos paralelos.
Nesse caso, todo mundo lembra das tramas que chamaram mais atenção: a peste que maltratava os avós (Dóris, de Regiane Alves), a menina que perdia a mãe num tiroteio (Salete, de Bruna Marquezine ainda criança), o casal de lésbicas (Alinne Moraes e Paula Picarelli) e a moça que levava raquetada do ex psicopata (Raquel, de Helena Ranaldi).
Mas qual era a história da Helena dessa novela mesmo? Bom, ela vivia um casamento aparentemente feliz com Téo (Tony Ramos), mas, na verdade, estava bem entediada, até que encontra um grande amor de juventude (ele mesmo, José Mayer, pegando metade do elenco feminino da novela). Ela fica dividida entre os dois, socorre o resto do elenco quando eles têm problemas e não sabe que seu filho adotivo (uma criança, dessa vez), na verdade é filho biológico de seu marido com outra mulher. E é isso.
A novela: Páginas da Vida, novela das 20h, de 2006;
Seu dilema: enfrentar na justiça o pai biológico de sua filha adotiva;
iG/Reprodução
Essa Helena, vivida novamente por Regina Duarte — a última das três vezes em que a atriz viveu uma protagonista de Maneco — era tão altruísta... Não só porque, na história, ela adota uma menina com Síndrome de Down, rejeitada pela avó, mas também porque doou o protagonismo da novela para os núcleos paralelos.
Verdade seja dita, a disputa de Helena com Léo (Thiago Rodrigues) pela guarda de Clara comoveu o público (mais do que os dilemas de Christiane Torloni, talvez...). Mas se você ler a sinopse dessa novela em qualquer lugar, vai ouvir falar muito mais de Nanda (Fernanda Vasconcellos) — a mãe das crianças, que morre no parto e volta à novela como espírito — do que da própria Helena.
Um dos personagens que mais se destacou foi Marta (Lília Cabral), mãe de Nanda, que, quem sabe, vivia o dilema mais "manequístico" da novela: ela se mata de trabalhar para criar os filhos, já que o marido era muito bonzinho, mas não ajudava muito. Ela manda a filha estudar no exterior, só que a menina volta grávida. Ok, ela foi bem má ao rejeitar a netinha com Síndrome de Down e, depois, praticamente vender o neto para o pai arrependido (o tal Léo, que disputa a guarda de Clara com Helena). Mas também não dá para julgar Marta tanto assim, já que ela não tinha uma vida fácil...
E Helena? Bom, vamos para a próxima...
A novela: Viver a Vida, novela das 20h, de 2009;
Seu dilema: se sentir culpada pelo acidente que deixou sua enteada tetraplégica;
Fonte: Rede Globo/Reprodução
Dessa vez, Helena ela foi ofuscada por uma única personagem: Luciana (Alinne Moraes), que fica tetraplégica e tem um romance fofo com o médico Miguel (Mateus Solano).
Essa Helena já começou diferente de todas as outras por ser muito mais jovem (na casa dos 30 anos), ser uma top model famosíssima e ser a primeira vivida por uma atriz negra. O dilema dela, no início, é ter que abrir mão da carreira para se casar com um homem mais velho (sim, ele de novo, José Mayer!) e viver brigando com a enteada mimada, Luciana, que também quer ser modelo.
Só que o drama meio que acaba aí. Depois que Luciana sofre o acidente, Helena passa o resto da novela se corroendo de culpa, sendo julgada pelos outros personagens e nada mais. Só que Helena nem tinha culpa nesse rolo todo, porque a única coisa que ela fez foi mandar Luciana voltar de um desfile de ônibus. E o acidente aconteceu.
O ápice do apagamento de Helena foi quando ela se ajoelhou para pedir desculpas para a mãe de Luciana, Tereza (Lília Cabral), ao que esta lhe dá um tapão na cara. No final da história, o público só queria mesmo ver a moça tetraplégica se reabilitando e vivendo seu romance fofo. Taís Araujo não merecia isso...
A novela: Em Família, novela das 21h, de 2014;
Seu dilema: a amargura de ver sua filha pegando seu amor de juventude;
Fonte: Notícias da TV/Reprodução
Muitos fãs de novelas discutem qual foi a melhor Helena de Maneco. E muitos também discutem qual foi a pior: essa ou a de Taís Araujo. Sobre isso, vale dizer que nenhuma das duas foi ruim por culpa das atrizes, que fizeram o que podiam com as personagens, mas sim porque o próprio texto do Maneco estava começando a desandar...
A novela começou bem, com Helena sendo vivida por Bruna Marquezine na primeira fase. Ela é uma mulher sedutora que se apaixona pelo próprio primo, Laerte. Só que esse cara é muito ciumento e quase mata o melhor amigo dos dois no dia do casamento. Vinte anos depois, Helena é vivida por Júlia Lemmertz e se casa com o tal melhor amigo, tendo uma filha com ele (Luiza, também vivida por Bruna Marquezine).
Aí que começam os absurdos... Laerte conhece Luiza, que é a cara da própria mãe quando era jovem e se apaixona perdidamente por ela. Até aí tudo bem, mas o pior é que Luiza acha super normal se apaixonar pelo homem que não apenas é primo de sua mãe, como também quase se casou com ela e tentou matar seu pai. Enquanto isso, a única função de Helena na novela era reclamar da filha chata. Puxado, né?
O negócio deu tão errado que, no final, Maneco não teve outra opção senão matar Laerte no dia de seu casamento com Luiza. Helena terminou feliz com o mesmo marido com quem começou a novela e Luiza conheceu um figurante aleatório. Fim.
Para terminar, você talvez esteja curioso para saber porque o autor repetiu esse nome tantas vezes em suas obras. Segundo Maneco, é uma homenagem a Helena de Troia, da mitologia grega. Ele explica que essa é uma mulher forte e independente, mas muito humana e imperfeita — assim como suas personagens.
Sim, Maneco escreveu "Laços de Família" usando Comic Sans (Fonte: Twitter/Reprodução)
Muito antes do Homem-Aranha se encontrar com suas outras versões na animação de 2018, o humorístico Tá no Ar, da Globo, promoveu o encontro de todas as Helenas em uma esquete. Na cena, todas elas se cruzam no lançamento de um livro de — só podia ser — José Mayer. A gente não consegue incorporar o vídeo aqui porque o Globoplay não dá essa opção... Mas vale a pena entrar no site e assistir.
Fonte: Globoplay/Reprodução