Batalha do Pelúsio: o conflito decidido por uma investida de gatos

04/10/2021 às 06:303 min de leitura

Em 525 a.C., o Egito e o Império Aquemênida — também conhecido como Primeiro Império Persa — protagonizaram uma guerra que logo seria escrita nos anais da História como uma das mais estranhas já existentes, especialmente devido à forma como foi encerrada. Isso porque o rei persa Cambises II, que dominou o país entre 530 a.C. e 522 a.C., liberou uma onda de gatos nos inimigos em um ataque que contou com um pouco de criatividade e simbologia animal.

Entre 1570 a.C. e 1069 a.C., as principais civilizações experimentaram um longo período de prosperidade, impulsionadas pelo aumento das riquezas e pelas políticas expansionistas de impérios fortes, especialmente do Egito, que viu o auge de seu poder. Porém, o Terceiro Período Intermediário (de 1070 a.C. a 664 a.C.), que surgiu após a morte do faraó Ramsés III, contou com secas, fracas inundações do Nilo, fome, agitação civil e corrupção política, além de grandes conflitos civis contra territórios vizinhos.

A divisão do país e a fragilidade nos limites resultou no aumento significativo de tentativas de invasões, e isso gerou uma grande escassez de recursos para a reestruturação após cada golpe. Assim, ao chegar nos grandes embates contra os persas, o Egito já estava sem condições de "se levantar" novamente, e as autoridades passaram a acompanhar a expansão de seus rivais, que colocavam em risco o domínio secular no continente.

Cambises II e Amásis II

Na tentativa de levar novamente o Egito para sua glória, Amásis II, faraó que governou entre 570 a.C. e 526 a.C., conseguiu estabilizar relativamente seu país, mas acabou tomando uma atitude que colocaria em xeque o domínio e a vida de seus sucessores ao fracassar na tentativa de uma trégua com os persas.

(Fonte: Wikimedia Commons / Reprodução)(Fonte: Wikimedia Commons / Reprodução)

Após invadir o Egito e exigir a mão da filha de Amásis II, Cambises II, o segundo governante da dinastia dos Aquemênidas, percebeu que havia recebido uma "esposa falsa", já que ela era, na verdade, filha do faraó anterior, Apries (de 589 a.C. a 570 a.C.). Ofendido, o líder persa mobilizou suas tropas para um ataque frontal aos "traidores" e não hesitaria de forma alguma em atacar uma nação já fragilizada pela crise pós-Terceiro Período Intermediário.

Curiosamente, seis meses antes da chegada dos persas, Amásis morreu e foi sepultado na necrópole de Saís, em um túmulo que até hoje segue não identificado. Dessa forma, seu filho Psamético III assumiu o governo egípcio e foi o grande líder da Batalha do Pelúsio contra Cambises II.

Batalha do Pelúsio: apelação ou inteligência?

Cambises II contou com o apoio do rei árabe, inimigo histórico de Amásis II, durante a movimentação das tropas, garantindo uma grande oferta de água para as estações e passagem segura pelo Deserto de Gaza. Já Psamético III reuniu seu exército ao longo da bifurcação do Mar Vermelho e do Rio Nilo, mas o abandono dos antigos aliados gregos acabou gerando um sentimento de fracasso e derrota iminente. 

(Fonte: World History / Reprodução)(Fonte: World History / Reprodução)

Inicialmente, o exército egípcio confiava em sua fortaleza bem abastecida e na juventude inspiradora de seu líder, o que foi suficiente para conter as primeiras hordas dos invasores que insistiam nas ofensivas. Foi então que, para espantar definitivamente os egípcios e reequilibrar a batalha, Cambises II tomou uma atitude apelativa e decidiu contra-atacar seus rivais, voltando-se contra suas crenças ao utilizar símbolos de gatos e outros animais vivos.

Devotos de Bastet, divindade solar protetora do lar, da fertilidade, da essência feminina e dos gatos, os egípcios não viram outra saída a não ser a retirada, sendo confrontados por soldados com felinos desenhados em seus escudos e contra ondas de gatos vivos que repentinamente foram liberadas por Cambises II. Além disso, os céus foram preenchidos por outros felinos que eram violentamente catapultados pelas tropas persas na direção dos egípcios.

(Fonte: Pixabay / Reprodução)(Fonte: Pixabay / Reprodução)

Isso ocorreu porque o exército de Psamético III ficou com medo de ir contra a imagem de Bastet, refletida no armamento e nos animais espalhados pelo campo de batalha. Dessa forma, a alternativa foi fugir para a capital Mênfis, que já estava sendo organizada para receber soldados enquanto a guerra fluía. E lá se desenrolaria o fim dramático do conflito épico.

O fim da guerra

De acordo com o historiador Ctésias, a guerra dizimou quase 50 mil egípcios, enquanto apenas 7 mil persas foram mortos. Em Mênfis, o faraó e seus subordinados viveram seus últimos momentos, já que a cidade foi rapidamente tomada pelos inimigos, com Psamético III se tornando prisioneiro e, posteriormente, cometendo suicídio, e os poucos soldados vivos sendo humilhados ao terem gatos arremessados em sua direção.

Por 4 dinastias, os persas tiveram o completo domínio do território egípcio, sendo expulsos definitivamente só por Alexandre, O Grande, em 331 a.C. Porém, a batalha que, para muitos, pode ser considerada uma mancha na História Antiga do Egito, marca a sobreposição da crença a todos os outros valores, reforçando o comprometimento e o respeito pela fé existente na época dos faraós.

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