Ciência
29/12/2021 às 13:00•2 min de leitura
Coca-Cola é uma marca mundialmente conhecida, e é assim por um motivo: a empresa costuma ser implacável com os concorrentes. Normalmente, a companhia atua de duas formas para expandir ainda mais o mercado: lançando bebidas similares à do concorrente (como fez com o Guaraná Kuat) ou comprando uma marca menor.
Esse é o caso do brasileiro Guaraná Jesus, o líder de vendas maranhense que foi comprado pela Coca-Cola Brasil em 2001. Sendo assim, pode parecer estupidez que empreendimentos menores queiram desafiar o poderio de uma das marcas mais famosas do planeta, certo?
Errado! Pelo menos essa é a opinião de uma empresa de bebidas criada por indígenas colombianos. Estamos falando da Coca Nasa, criadora da Coca-Pola.
Folha de coca. (Fonte: Divulgação/Coca Nasa)
Pode ser difícil para um brasileiro desassociar o termo "coca" do refrigerante clássico. No entanto, essa palavra remete às folhas de coca, uma planta muito comum no norte da América do Sul e na região andina. Mascar as folhas de coca é um hábito em países como Peru e Colômbia, sendo uma tradição dos povos indígenas da região.
Acontece que essa mesma folha é a base para uma das drogas mais populares do mundo: a cocaína, por isso a chamada "guerra às drogas" resultou na estigmatização da planta. No Brasil, por exemplo, é ilegal plantar coca ou transportar suas folhas, o que não ocorre em algumas nações cuja planta faz parte da cultura, como as mencionadas.
O estigma é tanto que a gigante dos refrigerantes, por exemplo, parou de usar as folhas de coca na composição da Coca-Cola. Só em 1999, antes da proibição, foram 110 mil toneladas de folhas importadas pela empresa. Atualmente, o refrigerante usa o extrato da noz de cola.
Porém, um grupo de nativos do povo Nasa, na Colômbia, quer reverter esse estigma com a produção de diversos produtos feitos à base das folhas de coca. "Como sempre disseram que coca é cocaína, começamos a espalhar que 'coca não é cocaína'", disse uma indígena do povo Nasa à BBC.
(Fonte: Divulgação/Coca Nasa)
Fabíola Piñacué, fundadora da Coca Nasa, teve a ideia de fazer bebidas à base das folhas de coca em 1990. O lançamento da empresa foi em 2005, com um energético chamado Coca-Sek. Depois disso, a empresa indígena Coca Nasa criou o conhaque Wallinde, a Coca-Libre (mistura de Coca-Sek com Wallinde) o Coca-Ron (licor) e a mais polêmica bebida da empresa, a Coca-Pola que é, na verdade, uma cerveja.
Atualmente, a Coca Nasa tem 15 funcionários e, ao contrário de seus outros produtos, ainda não consegue distribuir a Coca-Pola de forma massiva por conta do processo artesanal de fabricação. Contudo, a marca vem ganhando popularidade no país de origem, o que irritou certa marca de refrigerantes. O slogan da empresa é "Uma folha de coca pela paz é uma folha a menos para a guerra".
De acordo com representantes da Coca Nasa, executivos da Coca-Cola na Colômbia teriam pedido para eles não usarem o termo "coca" em seus produtos, acusando-os de plágio. Os advogados dos indígenas argumentam que eles têm direito de usar a palavra, visto que ela se refere a uma planta que faz parte da vida deles há gerações.
A briga entre a colombiana Coca Nasa e a Coca-Cola ainda está longe do fim e não tem uma resolução em vista. Enquanto isso, os indígenas do povo Nasa estão se tornando mais famosos no país. Em 2021, eles participaram da versão local do reality Shark Tank e comemoraram o crescimento de 30% nas vendas.