Saúde/bem-estar
22/04/2022 às 12:00•4 min de leitura
A Ursa Polar, dos criadores de Penguins e Monkey Kingdom, estreia nesta sexta-feira (22) no Disney+, prometendo comover os espectadores e trazer uma linda — e preocupante — mensagem sobre o progresso da vida animal no Ártico. Com status de megaprodução, aspectos técnicos dedicados e roteiro hollywoodiano, a jornada de sobrevivência dos ursos chega para consolidar o papel social do selo Disneynature e aproximar o público das notícias vistas diariamente sobre as mudanças climáticas.
Produzido por Alastair Fothergill e Jeff Wilson, A Ursa Polar contou com um longo processo de desenvolvimento, levando a equipe criativa a atuar por quase 250 dias ativamente em campo. Durante esse tempo, os editores de filmagem caminharam pouco mais de mil quilômetros de seu acampamento, em Svalbard, Noruega, para o Polo Norte, presenciando geleiras, grandes extensões de tundra congelada, fiordes e toda a ambientação propícia para a criação do cenário perfeito de caça.
(Fonte: Disneynature / Reprodução)
O filme revela a história de uma família de ursos polares e mostra como a matriarca pôde cuidar de seu casal de filhotes, ensinando os princípios da sobrevivência e a necessidade de preservar seus esforços, em especial devido à escassez de recursos e à hostilidade da região. Toda a trama é narrada por Catherine Keener (Capote, Quero Ser John Malkovich), que dá voz à pequena descendente e inspira reflexões profundas sobre a vida e instintos. Confira abaixo tudo — e um pouco mais — sobre o longa-metragem:
Desde os primeiros momentos do filme, é possível observar como uma mãe dedicada guia e prepara seus filhos para uma vida independente. Com pequenos passos e gestos, ela ensina os mais jovens a buscar alimento, encontrar locais seguros, caminhar entre falhas e regiões desniveladas, e a contar com os recursos da natureza, seja como forma de se proteger de predadores ou durante a caça por focas, leões-marinhos e gaivotas.
(Fonte: Disneynature / Reprodução)
A partir dessa proposta, os pequenos animais começam a eliminar os medos e desenvolvem uma confiança ímpar em relação à mãe. Todas as situações, narradas pela voz de Catherine Keener e monologadas pela ursinha, sugerem uma familiaridade crescente, e geram uma espécie de memorialismo que nos coloca no lugar dos mamíferos e permite pensar: essa poderia ser a minha família.
Porém, diversos eventos hostis transformam a rotina dos ursos em uma montanha russa, e a ausência das condições básicas, ampliada pela transformação brusca no cenário natural, gera preocupações e, em muitos casos, a falta de perspectiva sobre o dia seguinte. Até quando será possível aguentar ficar em um certo local? Amanhã haverá comida? Nossos semelhantes nos encaram como ameaças? Perguntas e mais perguntas surgem, com tons de proximidade, empatia e respeito resultando em cenas muito emocionantes.
A Ursa Polar é um espetáculo visual capaz de transformar a desolação em um cenário hipnotizante. Em meio à solidão e ao silêncio, cada ação dos animais torna-se mais perceptível, e não apenas seus comportamentos distintos, mas também as atividades primárias de todo ser vivo, como a própria respiração. Desde esse momento, há o primeiro contato com uma proximidade absurda, que faz o espectador se compadecer com a tragédia ambiental no Ártico e com o próprio estilo de vida solitário dos ursos.
Tudo isso é muito intensificado pelo excelente — reforçando, excelente — trabalho técnico de toda a equipe de produção. As filmagens são impressionantes e transformam os ursos em atores; é impossível não se questionar sobre a realidade daquele material, de tão vivo que é. A trilha sonora, composta por Harry Gregson-Williams, é um encanto e transmite exatamente o que ocorre: feche seus olhos e, mesmo assim, será capaz de entender os sentimentos. Além disso, cabem muitos elogios ao time de iluminação, fotografia, edição de som e mais, pois realmente é perceptível o desafio em capturar cada detalhe.
(Fonte: Disneynature / Reprodução)
Essa beleza é um intenso contraste com o que de fato ocorre no mundo real, e claramente é uma maquiagem cinematográfica não para disfarçar a tragédia que vive o ecossistema local — com uma perda de 13% das geleiras por década, nos últimos 30 anos —, mas para concentrar no foco narrativo: a luta dos ursos.
Se a narração de Keener aproxima o público dos animais, suas atitudes em A Ursa Polar despertam todos os tipos de sensações. Em pouco mais de 90 minutos de filme, os espectadores certamente se divertirão, ficarão chocados e chorarão, algumas vezes com aquele sorriso no canto da boca, outras vezes com uma profunda tristeza e com a vontade de fazer algo pelo planeta.
A produção de Fothergill e Wilson cumpre com a difícil responsabilidade de retratar, com veracidade, os enfrentamentos que espécies de animais vêm realizando no Ártico, principalmente após a intensificação do aquecimento global e os impactos das mudanças climáticas. Cada vez mais fracos, grupos em ambientes extremos se digladiam pelo último pedaço de comida, disputam locais de repouso e se reúnem em pontos cada vez mais estreitos.
(Fonte: Disneynature / Reprodução)
Além de contar com um roteiro pontual e certeiro, o filme utiliza mecanismos de filmagens para comparar, em tempo real, as paisagens congeladas, transitando entre áreas de alto relevo e blocos na superfície do oceano. Dessa forma, os detalhes são trabalhados para que o público perceba, de forma acessível, como as ações do homem desafiam as leias da natureza, e como, em resposta, o meio ambiente reage após cada uma delas.
Muito mais que só um filme, A Ursa Polar é uma verdadeira experiência que provoca, intimida e mexe com o coração das pessoas. Cada shot é um golpe certeiro, capaz de nos fazer ir além de todos os aspectos visuais para questionar e entender a posição no mundo; definir de que forma é possível contribuir para a manutenção dos ecossistemas. Em uma época que tanto se discute, especialmente nas redes, sobre notícias falsas e projeções exageradas das tragédias naturais, a obra da Disney aparece para provar, de maneira crua e direta, o que está ocorrendo, de fato, nos confins do planeta.
O documentário agrega significativamente ao catálogo do Disneynature e contribui com a formação de uma sociedade mais empática, ensinando de forma didática e atraindo um público mais jovem — apesar de mostrar conteúdos para todas as idades — para discussões cada vez mais válidas e pertinentes.